O segundo volume do e-book Mulher faz Ciência será lançado em fevereiro de 2020. A partir desta quarta-feira, o site Minas Faz Ciência apresentará, quinzenalmente, as dez pesquisadoras retratadas na nova edição.
Quem abre a série é a estudante Camille Etiene, 16, moradora de São José do Calçado, no Espírito Santo, próximo à divisa com o estado do Rio de Janeiro. Ela é aluna do curso técnico em Química no campus Bom Jesus do Itabapoana do Instituto Federal Fluminense (IFF) e autora do Teorema de Etiene.
É isso mesmo: a adolescente criou um teorema matemático, descrito na edição número 99 da Revista do Professor de Matemática, periódico de referência da disciplina. Quem assina o artigo é o professor do IFF Leonardo de Oliveira Muniz. Foi durante uma aula dele que Camille percebeu um padrão no gráfico da função quadrática.
Aplicação prática
“A parábola [curva] da função quadrática pode ser o valor de um carro que começa alto e vai decaindo com o tempo, mas volta a subir quando ele vira uma antiguidade e se torna raro”, exemplifica. O Teorema de Etiene ajuda a encontrar o ponto “P”, simétrico do ponto de interseção da parábola com o eixo y, a partir da soma das raízes da função (veja a imagem do gráfico).
Curiosamente, até então, Camille tinha dificuldade em aprender matemática. “Eu coloquei esse monstro na minha cabeça, achando que matemática era horrível e eu era ruim”, revela. Ela conta que o estímulo do professor foi fundamental para que ela e os colegas enfrentassem a resistência à disciplina. “Ele não entrega a resposta ‘de bandeja’, mas nos faz pensar, ver onde erramos, explica onde a matéria pode ser aplicada na vida real, e isso foi muito bom”, conta.
Desde a descoberta do teorema, Camille começou a se interessar, a estudar mais e seu desempenho melhorou. “Eu consegui criar um teorema! Eu consigo ser aprovada em outras matérias, então, consigo passar em matemática, que para mim era o ‘bicho de sete cabeças”, comemora. Em pouco tempo, ela passou a tirar dúvidas dos colegas e decidiu se inscrever na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). A segunda fase da competição será realizada no dia 28 de setembro.
Mulher faz ciência com inspiração
A nova vocação não afastou a estudante de seu objetivo: fazer a faculdade de enfermagem. “Eu gosto de ajudar as pessoas e da área da saúde”, justifica. Na carreira científica, ela se inspira na física e matemática polonesa Marie Curie, primeira mulher a ganhar o Nobel e a única mulher que recebeu o prêmio por duas vezes. “Eu fico com os olhos brilhando quando falam o nome dela. Ela descobriu elementos químicos e os estudou, é uma grande motivação para mim”, conta Camille.