Pelo menos três quartos de tudo o que a população mundial come depende do trabalho de insetos como polinizadores de plantas. “As abelhas são os principais vetores de pólen depois do vento. Principalmente o cultivo de frutas depende delas”, afirma Maria Augusta Lima, professora do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A morte excessiva das abelhas tem alarmado produtores em todo o mundo.
A pesquisadora explica que abelhas se alimentam de pólen e néctar e, no momento da coleta dos recursos florais, acabam levando grãos de pólen de uma for a outra, da mesma espécie. Esse “transporte” é responsável pela polinização das flores e pelo desenvolvimento de frutos e sementes. Nos últimos 15 anos, a presença das abelhas tem diminuído drasticamente em muitos países, inclusive no Brasil.
Ondas da Ciência
Pesquisa mostra relação entre campos eletromagnéticos e alterações no comportamento das abelhas. Confira!
O que explica a redução da população de abelhas?
Assim como diversos pesquisadores em todo o mundo, Maria Augusta Lima se dedica ao estudo das abelhas, para entender o que tem provocado a redução da população do inseto. Esse processo traz grandes riscos para a agricultura e pode até levar à extinção de alguns alimentos.
Várias pesquisas demonstraram que os inseticidas, de maneira geral, tem contribuído para a redução da população de abelhas. Mas outros fatores como desmatamento, diminuição de recursos florais, exposição a outros tipos de poluentes e alterações climáticas podem estar associados a esse declínio. “A exposição a diversos fatores conjuntamente é provavelmente o que tem levado à mortalidade excessiva das abelhas”, diz Maria Augusta Lima.
Interferência dos campos eletromagnéticos
Há alguns anos, pesquisadores da UFV analisam os efeitos de inseticidas sobre as abelhas. Na Universidade de Southampton, na Inglaterra, um grupo estuda como os campos eletromagnéticos interferem no comportamento de outros insetos. Os pesquisadores das duas universidades uniram forças para avaliar os efeitos dos campos eletromagnéticos produzidos pelas redes de transmissão de energia e telefonia sobre as abelhas.
O estudo teve coordenação dos professores Maria Augusta Lima e Eugênio Eduardo Oliveira, da UFV. “Comparamos a memória e a capacidade de voo de abelhas que foram expostas e não expostas a esse campo eletromagnético. Os dois parâmetros foram alterados pela exposição”, relata Lima.
Quanto mais perto das torres de transmissão, mais as abelhas apresentariam o comportamento alterado. O campo eletromagnético modifica a velocidade do voo, fazendo com que tenham mais dificuldades para polinizar as plantas.
Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature. O artigo está entre os 100 mais acessados em 2018 na área de Ecologia. Agora, os pesquisadores estão avaliando o que acontece com essas abelhas quando são expostas ao campo eletromagnético e a inseticidas, conjuntamente.