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Durante a 7ª edição do Fala Ciência, curso de capacitação em divulgação científica promovido pela Rede Mineira de Comunicação Científica (RMCC), a professora e pesquisadora em comunicação Polyana Inácio palestrou sobre cultura maker, tema instigante pela potencialidade de diálogos e diversidade de abordagens possíveis em diferentes áreas das ciências.

A pesquisadora Polyana Inácio (UFMG), no Fala Ciência.

Em sua fala, Polyana, que é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM/UFMG), falou da tecnologia como problema filosófico e propôs que o movimento maker pode indicar caminhos metodológicos para a pesquisa e a relação entre ciência e sociedade.

O movimento é comumente associado à comunicação digital, à educação, ao empreendedorismo, mas a pesquisadora alertou para a necessidade de questionar o “hype tecnológico”: “Em que medida essa cultura está promovendo avanços e soluções para a sociedade?”, perguntou.

Segundo ela, há também uma relação conflituosa entre o desenvolvimento tecnológico e a ansiedade de nosso tempo:

“Quando se constroem protótipos em projetos maker, é comum ser questionado: mas em que isso vai dar?!”.

Por outro lado, há um senso de colaboração muito forte, especialmente nos espaços conhecidos como Maker Spaces, entendido pelos membros entusiastas como um lugar aberto para novas práticas.

“A ideia é de que ninguém faz nada sozinho e que esses espaços são propícios ao avanço criativo na tecnologia”.

Nesses espaços são desenvolvidos protótipos, que Polyana identifica como elementos que levam a novas perguntas sobre as materialidades ao nosso redor:

“Mais do que a coisa em si, é o que ela nos leva a pensar e perguntar sobre nossa relação com a tecnologia e o que a gente entende por tecnologia”.

Leia sobre cultura maker na Minas Faz Ciência 66.

Para expandir a conversa sobre a cultura maker e as tendências tecnológicas, a equipe do Minas Faz Ciência fez mais quatro perguntas a ela sobre seus estudos no doutorado e a trajetória como pesquisadora.

Confira:

Fiquei com a impressão de que sua jornada acadêmica e profissional não foi muito linear, no sentido de ter passado por outras áreas de conhecimento, além da comunicação, ao longo de sua formação. Você acha que esse processo por múltiplos campos te ajudou a se aproximar do tema da cultura maker?

Faz muito sentido rever minha jornada e interesse pelo Movimento Maker pela ótica da sua pergunta.

Uma das razões de minha escolha pela área da Comunicação Social é o fato de que ela é multidisciplinar.

Quando tive contato com a Informática, com a Ciência da Computação e, posteriormente, com a Fotografia, por exemplo, observei a importância da prática, da técnica e da criatividade no processo de aprender.

O gesto “mão na massa” permite desaprender e testar outros modos de associar tecnologias analógicas e digitais.

Acho válido contar que conheci a noção de Cultura Maker durante o doutorado em Comunicação, por sugestão de minha co-orientadora Fernanda Duarte da Costa Portugal (PPGCOM / UFMG).

Foi importante observar também que minha proposta inicial de pesquisa para o doutorado já continha algo “maker” pois me propus discutir a Tecnologia e Sociedade, considerando elementos do protótipo vencedor do concurso “Make It Wearable”, promovido pela empresa Intel, no ano de 2014.

Tratava-se da Nixie, um “bracelete câmera-drone” criado para que esportistas fotografassem as próprias atividades.

Haveria, então, uma relação entre cultura maker e transdisciplinaridade, por exemplo?

Creio que sim.

Se pensarmos que Cultura Maker é o movimento de “aprender fazendo”, veremos que muitos conhecimentos são acionados para elaborar perguntas, propor soluções durante brincadeiras e outras experimentações.

A tecnologia, forte aliada nesse processo, está presente na vida social em diversos formatos, acionando a transdisciplinaridade quando permite a associação de conhecimentos diferentes.

Outro aspecto que merece ser mencionado é que a Cultura Maker pressupõe ações colaborativas.

Neste sentido, habilidades como autonomia, capacidades analíticas e socioemocionais contam muito na iniciativa de fazer por si mesmo (Do It Yourself, em inglês) ou criar junto com outras pessoas.

Sua pesquisa de doutorado parte dessa investigação em torno da identificação de objetos vestíveis, mas também traz abordagens sobre técnica e tecnologia, os objetos e o corpo, a tecnologia e as imagens que circulam no nosso imaginário sobre isso, estou certa? Que aproximações possíveis podemos fazer com o universo dos makers a partir dessas associações?

As experiências “mão na massa” do Movimento Maker me fornecem elementos para investigar como objetos digitais, como as tecnologias vestíveis, podem ser fabricadas, adaptadas.

Ao longo do tempo, a construção de protótipos ou formas maquínicas também conformaram práticas, conceitos e demandas sócio-econômicas de uma época.

Os princípios do movimento dos fazedores, portanto, instigam a adoção do comportamento inventivo e de colaboração.

É neste ponto que a discussão se complexifica e passo a considerar alertas como o de Langdon Winner: “artefatos não são neutros e têm política”.

Makers nos lembram de que é possível criar, recriar as coisas. Minha pesquisa busca aprender com eles que tal construção pode ser muito pertinente para compreender os processos de mediação em nossa realidade tecnológica contemporânea.

Em sua avaliação, como um conceito mais plural sobre as ciências contribui para os estudos de sua área de pesquisa?

Na medida em que permite práticas, metodologias heterogêneas em múltiplos regimes que dialogam entre si ou tornam as ciências mais próximas do cotidiano, das pessoas.

Também vejo que é possível pensar em uma proximidade entre as esferas acadêmicas e de mercado, sem prescindir de criticidade quanto aos modos de produção e difusão da ciência.

Ao longo do doutorado, tive contato com pesquisadoras e leituras que, para além do universo maker, reforçaram que o conhecimento científico pode ser lugar abrangente de saberes e possibilidades.

Minicurso sobre cultura maker e tecnologia

Em agosto, Polyana Inácio será uma das coordenadoras do minicurso “Cultura Maker, Ciência(s) e tendências tecnológicas: experiência criativa com a tecnologia na contemporaneidade”.

A proposta faz parte da programação do VIII Simpósio Nacional de Ciência, Tecnologia e Sociedade, que será realizado no Cefet-MG, em Belo Horizonte.

Clique aqui e saiba mais sobre o evento.

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