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Imagem meramente ilustrativa via Pixabay

O gerenciamento de resíduos hospitalares apresenta múltiplas implicações à saúde pública.

Da logística de remoção e armazenamento aos cuidados com o bem-estar humano após o descarte, é longa a sequência de providências a serem tomadas.

O uso de técnicas inadequadas de gestão faz de tal classe de detritos uma fonte de risco ao meio ambiente e à população.

Em função disso, a inserção de sistemas informatizados destaca-se como ferramenta essencial de suporte a esse processo.

Em busca de soluções inovadoras, pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), liderados por Selma Terezinha Milagres, professora da Faculdade de Engenharia Elétrica, estudaram e desenvolveram um sistema automatizado de integração da informação, de acesso livre e aberto, para a gestão de resíduos hospitalares.

Software para gestão de resíduos hospitalares

Inicialmente baseado no modelo usado pelo Hospital de Clínicas de Uberlândia (HCU-UFU), o software foi aprimorado junto às demandas e necessidades de diversos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Apesar de existir legislação específica para gerenciamento de detritos, há diversas dificuldades de realização do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), principalmente nos EAS.

De acordo com Selma Terezinha, é frequente a falta de verbas, até mesmo, para adquirir coletores e sacos adequados ao acondicionamento dos resíduos, bem como etiquetas indicativas dos diferentes tipos de material.

“É comum enfrentarmos problemas para descarte de vidros de medicamentos, aventais de chumbo e explantes, pois faltam empresas para receber esses materiais. E alguns não podem ser doados”, exemplifica.

A professora também explica que, na rede do SUS, existe carência de sistemas automatizados gratuitos que prontamente disponibilizem a informação sobre os resíduos a todos os envolvidos no processo da gestão.

A proposta da pesquisa foi ao encontro da demanda, ao procurar elaborar um sistema que pudesse agilizar a análise dos dados gerados pelo Plano de Gerenciamento e fornecesse resultados padronizados, em interfaces voltadas aos profissionais da área de saúde, de modo a gerar economia de tempo e de recursos humanos.

Leia a reportagem completa na Minas Faz Ciência 75.

O trabalho saiu do papel a partir do edital da FAPEMIG, que propiciou o desenvolvimento do aplicativo para controle mais rápido e detalhado dos resíduos.

O software foi desenvolvido com a participação de bolsistas, tendo como base as legislações vigentes.

O programa incorporou sistemas de controle de quantidade de resíduos gerados por setor e implementação de indicadores e relatórios com informações sobre os detritos gerados.

Toda a Engenharia de Software e o desenvolvimento do banco de dados do programa foram realizados junto ao setor de Tecnologia da Informação (TI) do HCU-UFU, em obediência aos padrões usados para desenvolvimento de softwares na Universidade.

“Quem tiver interesse em obter informações sobre o programa pode entrar em contato direto com eles, que fazem, atualmente, a gestão do sistema”.

A serviço da inovação

Para Selma Milagre, o desenvolvimento da pesquisa e a criação do software contribuem para o entendimento da universidade como ambiente rico para estudos que beneficiam diretamente a sociedade.

“Fizemos uma ferramenta gratuita para uso em um grande hospital do SUS, além de termos contribuído para a formação acadêmica dos bolsistas, que são multiplicadores desse conhecimento”, destaca a professora. Mesmo assim, ela reconhece que esta é apenas uma pequena contribuição, diante dos gigantescos desafios da gestão de resíduos hospitalares.

Na visão da professora, é preciso haver preocupação geral com a redução da quantidade de detritos.

“Há acúmulo de resíduos e lixo produzidos em todo o planeta, o que representa um grande problema a ser gerenciado. Também é alto o custo dos EAS para tratamento de determinadas classes de resíduos, como aqueles potencialmente infectantes”.

Outras questões desafiadoras dizem respeito às diversas etapas do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS): “Todas são importantes e a gestão deve começar com a preocupação dos profissionais da área da saúde em segregar corretamente os resíduos. Essa separação é fundamental para que eles sejam alocados corretamente após o uso”.

Além da criação de software livre e gratuito, o produto da pesquisa coordenada por Selma Milagre agrega inovações, como a geração de etiquetas de código de barras, com os dados da fonte geradora do resíduo, o que permitirá identificar e gerenciar, de forma precisa, a sua origem.

“As etiquetas serão afixadas nos sacos ou recipientes de acondicionamento. Ao entrarem no abrigo de resíduos, serão lidas pelo leitor de código de barras. As informações são lançadas diretamente no software. Na sequência, os resíduos são pesados. Tal peso é inserido diretamente no sistema, sem interferência manual dos operadores. Com o processo totalmente automatizado, consegue-se reduzir a intervenção humana no mecanismo de pesagem, o que torna os dados mais fidedignos”, conclui Selma.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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