Biotecnologia substitui uso de camundongos em pesquisas
Pesquisadores mineiros, coordenados por Carlos Delfín Chavez Olortegui, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), estão utilizando a biotecnologia na produção de imunobiológicos aplicados ao tratamento e prevenção de acidentes por animais peçonhentos.
A pesquisa consiste em criar uma metodologia in vitro que utiliza cultura de células para verificar atividades tóxicas do veneno da jararaca e avaliar sua neutralização por antiveneno, por meio da abordagem animal free.
“O que fazemos é, ao invés de utilizar camundongos e injetar o veneno e o antiveneno no roedor, realizamos o mesmo procedimento em células cultivadas em laboratório. Se a reação apresentar resultado positivo e a célula mantiver suas funções normais, então o processo de neutralização do veneno pelo antiveneno foi efetivo; assim, esta etapa na produção do antídoto de uso terapêutico está encerrada e podemos ir para a próxima fase, a de fabricação do produto final”, esclarece Olortergui.
Animais poupados
Na prática, a metodologia desenvolvida permitirá que cerca de 72 mil roedores sejam poupados. “Isto apenas levando em consideração 1 ano de produção em uma única instituição, dividida em oito ciclos de imunização e com 180 cavalos de suporte, representando vantagens tanto éticas, quanto econômicas para a cadeia científica”, complementa.
É a Ciência Tecnologia e Inovação (CT&I) de Minas Gerais sendo utilizada como alternativa para substituir alguns métodos experimentais usados ao determinar as atividades tóxicas de venenos e que já são realizados em outras regiões.
“Os métodos de controle de qualidade de produtos biológicos que usam um grande número de animais está se tornando inaceitável em muitos países, devido a uma rápida evolução de legislações que proíbem procedimentos que conduzem à dor e sofrimento dos animais”, pontua.
A linha de pesquisa desenvolvida pela UFMG segue modelos internacionais já praticados, nos quais a premissa dos 3Rs já é uma constante, com diversos exemplos de estudos internacionais já em execução.
Ainda, de acordo com Olortegui, o próximo passo é uma parceria entre os pesquisadores e a Fundação Ezequiel Dias (Funed). O objetivo é que a autarquia insira essa metodologia no escopo de seus trabalhos, uma vez que ela é referência no que tange ao desenvolvimento de produtos e processos envolvendo toxinas e sorológicos.
“Ao contemplar a prática, almejamos que a Funed seja exemplo e potencialize no Estado a viabilidade da utilização dos métodos alternativos em algumas etapas durante a produção dos antivenenos. “Que o país reconheça a tendência internacional e acompanhe o progresso da Ciência, preservando a vida“, enfatiza.
Cenário de testes em animais no Brasil
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), reconhece 17 métodos alternativos de testes em animais. A maioria deles envolvem pesquisas relacionadas à produção de cosméticos que possuem potencial de substituição imediata, sem a utilização dos mesmos. Diante disto, experiências com os bichinhos na produção de cosméticos já foram proibidas em vários Estados do Brasil, inclusive em Minas Gerais.
Todavia é sabido que, no universo de CT&I, algumas pesquisas, em especial quando chegam nas fases finais, necessitam da utilização de animais. Entretanto, são nas fases iniciais que os testes convencionais em animais, além de mais dolorosos, utilizam uma maior quantidade de bichos e podem ser evitados utilizando técnicas alternativas.
Por isso, a prática de meios alternativos, como a desenvolvida por Olortegui, faz-se essencial dentro de um contexto em que o reconhecimento por essa prática já é real, inclusive este ano (2019), conforme o prazo estipulado na RN nº 18, é o ano limite para a substituição obrigatória dos métodos originais pelo alternativos descritos na referida RN.
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