logotipo-colorido-1

AO VIVO

Divulgação Científica para crianças

plataforma de 1 real

Pesquisa aponta efeitos da seca no Norte de Minas

Semiárido no Norte de Minas. Foto de Gil Cruz.

Setenta e oito municípios do Norte de Minas Gerais sofrem com a seca e a falta de chuvas.

Entre as cidades mais afetadas está Januária, foco de estudo realizado no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA/UFMG), pelo pesquisador Gildarly Costa da Cruz.

A dissertação de mestrado de Gil investigou como famílias rurais lidam com a seca aguda, como a registrada no período de 2012 a 2017.

De acordo com o estudo, a seca não interfere diretamente no abastecimento de água para consumo doméstico, mas prejudica a produção de alimentos.

Gildarly Cruz foi bolsista Fapemig e é mestre em Sociedade, Ambiente e Território, curso que é fruto de parceria da UFMG com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ele conversou com a gente sobre sua pesquisa.

Imagem: Gil Cruz

Confira a entrevista sobre a seca no Norte de Minas:

Fale-me um pouco sobre sua formação. Por que decidiu pesquisar as secas no Norte de Minas?

Sou de Januária e desde minha formação em irrigação em drenagem, em 2009, e em engenharia agrícola e ambiental, em 2016, quis saber qual o real status da seca e os impactos na agricultura familiar.

Sempre gostei das ciências agrárias, mas eu me preocupava mais em estudar a questão rural. Os projetos com os quais eu me envolvia sempre eram voltados à pauta do semi-árido, à minha região.

Como foi o levantamento de dados? Conte-me um pouco sobre sua metodologia, sobre os percursos da investigação.

Antes de começar a pesquisa, fizemos um levantamento bibliográfico que me deu base para pensar questões voltadas ao semi-árido: a seca, a agricultura familiar, a região de Januária.

Os moradores denominam essa região como Gerais, onde há vegetação baixa, brejos, buritis, chapadões. Nessa região, há secas frequentes.

Após o levantamento, estivemos em diálogo com a Caritas Diocesana de Januária, que intermediou nosso contato com as comunidades rurais locais.

Escolhemos trabalhar com uma comunidade na área de matas e outra na área de gerais para comparar diferentes experiências com a seca:Araçá tem aproximadamente 90 famílias, são 350 habitantes. Onça tem 27 famílias, 120 habitantes.

Foto: Gil Cruz
Qual foi sua primeira hipótese de pesquisa e o que encontrou quando começou a se engajar nas comunidades?

Comparando comunidades, uma em região de mata, outra em região que não tem tantas opções de lavouras, verificamos que, atualmente, não há mais diferenciação entre uma região e outra em relação à produtividade.

A seca que secou rios, as fontes naturais de água, fez com que as duas comunidades passassem a ter cenários muito semelhantes.

A gente conversou com pessoas da comunidade que relataram como era antes da seca dessas regiões, contaram sobre os processos produtivos e frutos que existiam antes da seca.

Esse processo histórico foi importante para construirmos as perguntas mais importantes da pesquisa. Descobrimos que, antigamente, havia mais opções de lavouras e cultivos.

Hoje, com o secamento, eles não têm fonte natural de água, a região é abastecida por poço artesiano comunitário e sistema de captação da água da chuva.

Qual a relação da seca com o consumo doméstico dessas famílias e por que elas afetam mais profundamente a produção de alimentos?

Antes, tudo o que consumiam, eles mesmos produziam. Todos os mantimentos vinham da terra.

Hoje, não. Basicamente, tudo é comprado, há um impacto socioeconômico enorme nessas famílias, que passaram a depender mais de programas sociais para sua subsistência.

A seca no cotidiano impacta as comunidades de forma muito intensa. E todo o processo e articulação do uso da água vem da própria comunidade, não há mediação externa.

Desde a década de 1990, as comunidades são abastecidas por um poço comunitário, mas essa água é só para abastecimento da casa, não se pode fazer lavoura ou irrigação.

Não tem água para produzir alimentos, as fontes naturais secaram todas. Água para abastecimento doméstico não falta, mas eles não podem usar a água para a própria subsistência, para o plantio.

O que é preciso ser feito, em termos de políticas públicas, para solucionar essas crises de seca na região?

Uma solução mais robusta passa pela participação popular na formulação de políticas públicas.

Só a comunidade sabe de suas demandas e prioridades, só quem está lá e faz parte do cotidiano daquelas famílias poderia estabelecer demandas necessárias.

Outro ponto é levar em consideração as características da comunidades, uma política local que abarque os modos de viver dessas famílias e respeitando suas peculiaridades.

O retrato do semi-árido foge muito ao que se tem em relação a outros lugares. Há uma relação íntima dessas comunidades com a natureza.

É preciso desenvolver uma política local que os respeite, respeite a relação com o espaço, ou as políticas públicas tendem ao fracasso.

É preciso respeitar o conhecimento local, que é passado de geração a geração.

Clique aqui e acesse o texto completo da dissertação de Gil Cruz.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

Conteúdo Relacionado