No último mês, o Instituto René Rachou – Fiocruz Minas lançou um projeto de memória institucional em formato de podcast.
Podcasts são programas de áudio que estão se popularizando no Brasil e no mundo em função de seu formato de distribuição diferenciado. Para fazer um podcast, é preciso disponibilizar arquivos de mídia digital através de feed RSS, que permite aos usuários tornarem-se assinantes e acompanharem os programas em sequência de publicação.
O objetivo do projeto é divulgar a história da Fiocruz Minas, com a produção de áudios acessíveis e embasados em pesquisa científica.
Chamado de História ConsCiência, o programa trata, em sua primeira edição, da criação do Instituto René Rachou.
No roteiro, atenção especial é dada à construção da sede e às mudanças administrativas pelas quais passou ao longo do tempo:
O projeto conta com a coordenação de Zélia Maria Profeta da Luz e Roberto Sena Rocha, com o apoio da historiadora e pós-doutoranda Natascha Stefania Carvalho De Ostos e produção técnica de Antônio Sousa.
O segundo episódio traz informações biográficas sobre René Rachou, pesquisador que dá nome à Fiocruz Minas.
Você pode ouvir no player abaixo:
Para saber mais sobre o projeto, conversamos com o pesquisador Roberto Sena Rocha, um dos responsáveis pelo podcast.
Confira a entrevista:
Qual sua relação com a produção deste podcast e por que se interessaram pela trajetória histórica da Fiocruz Minas?
Estou na Fiocruz Minas há 43 anos. Fui contratado como médico para desenvolver projetos de pesquisa em esquistossomose.
Tive a oportunidade de conviver com pesquisadores que fizeram a história da instituição e da ciência. Também tive o privilégio de ser diretor da Instituição por oito anos.
Acho que tudo isto, além de gostar muito de história, fez com que eu aceitasse o convite da atual diretora do Instituto, Zélia Profeta, para coordenar o Projeto Memória: Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.
Realizamos entrevistas com pesquisadores e funcionários antigos, recuperamos a trajetória dos ex-diretores da instituição.
Estamos construindo uma narrativa sobre o papel e o impacto do Instituto René Rachou na saúde coletiva do estado.
Muitas vezes, o resultado deste tipo de pesquisa aparece apenas em livros especializados, o que é muito importante, mas atinge um público restrito.
Nosso objetivo, ao lado da produção do saber especializado, é disseminar o conhecimento obtido para um público mais amplo.
Acreditamos que o tema tem potencial para interessar diversos grupos, como professores, estudantes do ensino médio e universitário, trabalhadores da saúde, e os mineiros em geral, pois a Fiocruz Minas atua no estado há muitas décadas.
Como são feitas as pesquisas que embasam o conteúdo divulgado nos episódios? Qual a previsão para mais episódios?
As pesquisas são realizadas por meio de investigação historiográfica.
Primeiro, é realizado um levantamento da bibliografia acadêmica sobre o assunto, como artigos científicos, livros, teses, dissertações e monografias.
Após a análise desse material, partimos para a pesquisa de fontes nos arquivos e bibliotecas. Nesses locais, fazemos busca de imagens, reportagens, relatos de memorialistas, e qualquer outro registro que nos auxilie a construir a história da instituição.
É um trabalho minucioso, mas não apenas de “coleta” de dados, pois todo o material levantado é analisado criticamente, com o instrumental da teoria e da metodologia histórica.
Para a elaboração dos episódios de podcast, usamos uma versão condensada das informações obtidas.
Para a divulgação científica, é importante que o rigor do conhecimento esteja aliado a uma linguagem leve e acessível, de forma a alcançar e cativar o público.
Nossa principal preocupação é transmitir ao ouvinte um conteúdo de qualidade, baseado em pesquisa, mas que seja, ao mesmo tempo, uma experiência agradável e interessante.
Cada episódio é uma surpresa e a variedade de assuntos ajuda a manter o engajamento dos ouvintes. Após a definição do tema, elaboramos um roteiro e fazemos um esforço para que, ao gravar o texto, o áudio alcance, no máximo, quatro minutos. Assim, padronizamos os episódios e o ouvinte sabe o que esperar do canal.
Por que decidiram investir na criação de um podcast?
O podcast é uma mídia que apresenta grande potencial, pois ela é democrática, tanto na produção, como na distribuição.
Opções mais elaboradas, como o vídeo, esbarram em restrições orçamentárias e logísticas. Já o podcast, mesmo requerendo esmero na criação, não exige um tempo longo de pré-produção, ou muitos recursos tecnológicos.
Para o ouvinte, basta baixar gratuitamente o aplicativo de sua preferência no celular, e assinar o canal.
Também é possível ouvir o programa pelo computador.
Além disso, existe a opção de baixar o episódio e conferir o conteúdo quando for mais conveniente, no caminho para o trabalho, em uma sala de espera, etc.
Por que é importante falar da história de instituições como a Fiocruz?
A memória institucional da Fiocruz Minas não interessa somente aos seus funcionários e pesquisadores.
Trata-se de uma história que se confunde com a própria história da saúde pública de Minas Gerais e do Brasil e, nesse sentido, é importante que a população saiba que o Instituto René Rachou é um patrimônio do país.
Ao percorrermos as décadas de existência da instituição, deparamo-nos com pesquisas importantíssimas, em temas que afetam diretamente o povo, como em doença de Chagas, malária, leishmaniose, esquistossomose, etc.
Além disso, a Fiocruz Minas tem atuado na concepção de soluções para a saúde coletiva do Brasil, pensando sobre assuntos fundamentais para todos nós, como o envelhecimento, a prevenção de doenças e as crises sociais, como é o caso do rompimento da barragem da Vale do Rio Doce, em Brumadinho.
Ocorre que a população não tem conhecimento dessas ações, apesar de ser impactada, de algum modo, pelo resultado desse gigantesco esforço científico.
Se hoje estamos livres de epidemias como a malária e a varíola, foi graças à atuação de instituições de pesquisa como a Fiocruz.
Assim, falar sobre a história do Instituto René Rachou não é apenas valorizar a sua trajetória particular, é, principalmente, uma forma de conscientizar a população do enorme patrimônio que ela tem em mãos, evidenciando como a pesquisa científica neste país salva vidas, gera crescimento econômico, oportunidades de trabalho e bem estar social.
Ouça o podcast!
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