No universo das letras, muitos são os “críticos literários”. Em tal seara de saberes, contudo, para além de homens e mulheres dedicados à análise de obras vitais à consolidação do imaginário ficcional de um país, observam-se, também, os chamados “pensadores”, intelectuais cujo escopo de ofício, por mais que centrado na literatura, acaba por alçar voos sem limite, à cata de céus com ampla multiplicidade teórica e conceitual – da Filosofia às Ciências Sociais; da Política à Psicanálise; da Linguística à História.
Figura fundamental à investigação de meandros das artes e da cultura brasileira, Alfredo Bosi integra tal seleto “time”, responsável pela elaboração, a partir da literatura, de um pensamento tipicamente nacional. Como forma de homenagear o mestre – e descortinar questões centrais à obra deste professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), autor de clássicos como História concisa da literatura brasileira (1970), O ser e o tempo da poesia (1977), Dialética da colonização (1992) e Ideologia e contraideologia (2010) –, outros tantos pensadores da cultura elaboraram o livro Reflexão como resistência.
Na obra, organizada pelos professores Augusto Massi, Erwin Torralbo Gimenez, Marcus Vinicius Mazzari e Murilo Marcondes de Moura, estão artigos, poemas, missivas e depoimentos – além de uma partitura – da lavra de 52 personalidades brasileiras, as quais, cada qual a seu modo, dialoga com o grande pensador. Além de cartas de Otto Maria Capeaux, Dyonélio Machado ou Darcy Ribeiro, dentre outros, há “críticas de ouvido”, “escritos revisitados”, “leituras em diálogo” e “ensaios de estima” elaborados por professores, pesquisadores, escritores e amigos de Bosi.
Trata-se, enfim, de conversações fundamentais à compreensão da obra do pensador, e, ao mesmo tempo, à elucidação de nuances da complexa “tez” de nossa cultura.
Trecho
“Discutimos longamente sobre qual seria o título mais apropriado para o livro. Era difícil alcançar uma síntese. Todo o itinerário de Alfredo Bosi não é o de um homem de letras comum: sua perspectiva crítica guarda raríssima amplitude. Como dar a ver o enlace entre a vivência tão entranhada da poesia e o pender para o pensamento filosófico? Como abarcar num título os traços marcantes do professor e do militante? Algum aspecto importante parecia escapar sempre. Como fazer justiça à complexidade do homenageado? O núcleo vivo da reflexão deve resistir às reduções. Para evitar o risco de uma celebração hegemônica ou homogênea, optou-se por introduzir um polo de negatividade no próprio título da homenagem: em Alfredo Bosi, a reflexão sempre adquire um sentido de resistência.”
Livro: Reflexão como resistência – Homenagem a Alfredo Bosi
Organização: Augusto Massi; Erwin Torralbo Gimenez; Marcus Vinicius Mazzari; Murilo Marcondes de Moura
Editora: Edições Sesc | Companhia das Letras
Páginas: 590
Ano: 2018