Os estudos sociais da ciência e tecnologia são um campo em expansão no Brasil. No segundo semestre, Belo Horizonte receberá um dos eventos nacionais mais importantes da área.
O que esses cientistas estudam, afinal?
O Simpósio Esocite, a ser realizado entre os 15 e 17 de agosto, é a oportunidade de retirar cientistas e fatos científicos de suas supostas bolhas, imagem muito difundida e que precisa ser questionada.
O evento está vinculado à Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (Esocite.BR).
Conversamos com Bráulio Silva Chaves, professor do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), onde o evento será realizado, para entender melhor esta área de pesquisa.
Confira a entrevista:
Quais as questões principais em debate em um evento como o Esocite, que discute temas tão amplos quanto ciência, tecnologia e sociedade?
O Simpósio tem como marca central a reflexão sobre os estudos STS, do inglês, Science and Technology Studies, que, em português, conhecemos pela sigla CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade).
Este é um campo com forte crescimento no Brasil, com diversas linhas de pesquisas, programas de pós-graduação e pesquisadores de diversas áreas.
Internacionalmente, os Science and Technology Studies (STS) constituem um vasto e robusto programa de estudos ao redor do mundo.
Por que é importante discutir esses temas na atualidade? Que tipo de contribuição os estudos sociais da ciência trazem para a população não-acadêmica?
A ciência e a tecnologia fazem parte da nossa vida, em ações corriqueiras do nosso cotidiano, como mexer no celular, abrir o computador, mas também em nossos grandes dramas como sociedade, como as doenças, as guerras.
Recentemente, a imagem divulgada do buraco negro percorreu o mundo e provocou curiosidade geral. Ciência e tecnologia também fazem parte dos projetos de desenvolvimento nacional e regional.
Atualmente, com toda a questão dos recursos em discussão, é também tarefa dos amplos setores sociais perceber quais são os projetos para a ciência e a tecnologia e envolver-se com eles, para ter condições de cobrar dos poderes públicos.
Enfim, espaços de reflexão como o Simpósio ESOCITE nos ajudam a desnaturalizar o uso social da ciência e da tecnologia.
Para a população não-acadêmica, é um momento de retirar as ciências do distanciamento e aproximá-las de nossa vida, mostrando que o uso e a percepção que temos da ciência e tecnologia é cheio de variáveis e condicionado também por todos(as) nós.
Qual o perfil de pesquisadores participantes?
O perfil é variado e profundamente interdisciplinar. Essa é uma marca da ESOCITE.Br.
Há pesquisadores das áreas das ciências sociais, história, filosofia, física, química, biomédicas, design, arte, entre outros, o que demonstra as múltiplas perspectivas do conhecimento para a reflexão social sobre a ciência e a tecnologia.
O VIII ESOCITE está sendo preparado para acolher os diversos públicos. É um espaço também para que reforcemos a importância de refletir sobre a ciência e tecnologia e valorizá-las socialmente.
O panorama dos Grupos Temáticos, para citar um exemplo, mostra o quanto os estudos CTS se intercalam com diversas esferas, como discussões de gênero, raça, direitos humanos, educação, redes sociais digitais, comunicação, meio ambiente, arte, design, divulgação científica.
A amplitude de temas é um forte atrativo para que docentes da educação básica, alunos do ensino médio e da graduação, pesquisadores diversos e demais interessados na ciência e tecnologia encontrem um espaço democrático de discussão e participação.
Os Aglomerados são um exemplo desse caráter democrático do evento, pois são várias sessões abertas à sociedade que previamente se inscreve e tem um microfone aberto para falar dos diversos temas dos estudos CTS.
A comissão organizadora está também preparando diversos eventos culturais e também haverá a inserção de movimentos sociais e de pessoas que trarão para dentro do evento a importância de se pensar o papel dos saberes populares.
Qual a expectativa, em relação a número de inscritos e tamanho do evento, para esta 8ª edição?
Em 2019, esperamos em torno de 500 participantes, que se distribuirão em Conferências, Grupos Temáticos, Fóruns, Mesas-redondas, Minicursos, Oficinas, Aglomerados, Painéis com Grupos de Estudos e Pesquisas em CTS de todo o Brasil, lançamento de livros, atividades culturais.
A comissão organizadora é composta por integrantes do CEFET-MG e da UFMG, essa parceria interinstitucional é uma forma de fortalecer o evento do porte do ESOCITE na cidade.
Qual a importância da realização de um evento nacional deste porte no CEFET-MG?
O simpósio coloca o CEFET-MG dentro da rede nacional e internacional dos Estudos CTS.
O evento acontecerá no Campus II (Avenida Amazonas, 7675, no bairro Nova Gameleira). É um espaço que teve investimentos nos últimos anos, com novos prédios e uma infraestrutura capaz de acolher todo mundo.
Neste ano, o CEFET-MG também comemora 110 anos de uma trajetória de excelência na educação profissional, na formação científica e tecnológica.
O VIII ESOCITE demonstra que a instituição se coloca como lugar de produção científica e tecnológica, mas também da ampla e democrática reflexão sobre essas produções sociais.
Ficou interessado?
Se você quiser apresentar trabalho no Simpósio, tem até dia 1º de maio para enviar propostas de resumos para apresentação oral, em um dos 32 Grupos de Trabalho.
Até o mesmo dia também é possível enviar propostas de mesas redondas para discussão de algum tema específico.
Todas as normas de envio de trabalho e demais oportunidades de participação estão no site: www.esocite8.cefetmg.br.
A inscrição para ouvintes vai até o dia 1º de agosto.