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Ligno - Foto: William Araújo - Minas Faz Ciência

Para Glaucinei Rodrigues Corrêa, professor de Design no curso de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), universidades públicas devem ter como premissa o compromisso social. Encontrar respostas que facilitem a vida em comunidades e solucionem dificuldades são responsabilidades dessas instituições.

No projeto desenvolvido por Corrêa, chamado “Ligno: material compósito com resíduo de madeira”, esses princípios são seguidos.

Como surgiu o Ligno?

Em 2015, enquanto Corrêa orientava o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma aluna, um velho problema da indústria moveleira foi trazido à tona: como lidar com a serragem resultante do corte das placas de madeira que acumula nas oficinas e precisa ser descartada corretamente para não causar impactos negativos?

Glaucinei R. Corrêa – Foto: William Araújo – Minas Faz Ciência

Para isso, por meio da criação da Lei 12.305, de 2010, foi instituída no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que parafraseada por Corrêa, se resume em: “o gerador de resíduos deve fazer a gestão desse material, buscando a destinação indicada”.

Segundo estatísticas levantadas pelo pesquisador em 2016, com base nas empresas filiadas ao Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sindimov-MG), das cerca de 300 toneladas mensais de resíduos gerados pelo setor, apenas 16% recebiam destinação adequada. As demais eram descartadas em aterros sanitários, usadas em forragens de granjas ou queimadas.

“Esse material tem uma cola, que nos termos técnicos é chamada de aglomerante ou aglutinante ou adesivo, que é cancerígena se for queimada e inalada”, diz Corrêa.

Por isso, hoje, respostas criativas para esse gerenciamento são apreciadas pelos sindicatos.

À época da orientanda, Corrêa já havia defendido uma dissertação em que propunha uma nova matéria-prima construída a partir da união desses resíduos com plástico. Assim, resgatou a informação e debruçou-se sobre uma nova perspectiva: “desenvolver processo produtivo completo para fabricação dos produtos à partir dos resíduos”.

Assim surgiu o Ligno, processos tecnológicos que associam resíduos de madeira e design para fabricar materiais com os compósitos gerados.

Perspectivas

O projeto foi criado com a finalidade de dar alternativas de destinação dos resíduos gerados pelas indústrias moveleiras. Em 2015, participou do edital de chamada universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e conseguiu apoio para continuar.

Os produtos gerados pelo processo tecnológico Ligno passam pela menor quantidade de etapas possíveis, o que simplifica o aprendizado da fabricação:

  1. Coleta do material
  2. Peneiramento (classificação da granulometria)
  3. Mistura com resina (criação do compósito)
  4. Pesagem
  5. Preenchimento do molde
  6. Prensagem em alta temperatura
  7. Cura (15 minutos).

Atualmente, foram desenvolvidos dois produtos a partir do processo, que são porta-copos e bowls. Uma das características descobertas com as peças é que dependendo do material usado no compósito, durante a etapa de prensagem, o resultado adquire cores diferentes.

Além disso, os produtos saem da última etapa sem a necessidade de mais acabamentos, dependendo do uso.

Glaucinei R. Corrêa – Foto: William Araújo – Minas Faz Ciência

Segundo Corrêa, a indústria moveleira gasta cerca de R$ 0,14 para dar destinação adequada a 1 quilo de resíduos de madeira. O Ligno gera porta-copos e bowls usando 100 gramas e 200 gramas do material, respectivamente. A taxa de produção é de quatro utensílios por hora.

As peças podem diminuir os impactos ambientais, trazer ganhos socioeconômicos e resolver os problemas enfrentados pelo setor.

Veja abaixo a entrevista feita com Corrêa.

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