Para Glaucinei Rodrigues Corrêa, professor de Design no curso de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), universidades públicas devem ter como premissa o compromisso social. Encontrar respostas que facilitem a vida em comunidades e solucionem dificuldades são responsabilidades dessas instituições.
No projeto desenvolvido por Corrêa, chamado “Ligno: material compósito com resíduo de madeira”, esses princípios são seguidos.
Como surgiu o Ligno?
Em 2015, enquanto Corrêa orientava o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma aluna, um velho problema da indústria moveleira foi trazido à tona: como lidar com a serragem resultante do corte das placas de madeira que acumula nas oficinas e precisa ser descartada corretamente para não causar impactos negativos?
Para isso, por meio da criação da Lei 12.305, de 2010, foi instituída no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que parafraseada por Corrêa, se resume em: “o gerador de resíduos deve fazer a gestão desse material, buscando a destinação indicada”.
Segundo estatísticas levantadas pelo pesquisador em 2016, com base nas empresas filiadas ao Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sindimov-MG), das cerca de 300 toneladas mensais de resíduos gerados pelo setor, apenas 16% recebiam destinação adequada. As demais eram descartadas em aterros sanitários, usadas em forragens de granjas ou queimadas.
“Esse material tem uma cola, que nos termos técnicos é chamada de aglomerante ou aglutinante ou adesivo, que é cancerígena se for queimada e inalada”, diz Corrêa.
Por isso, hoje, respostas criativas para esse gerenciamento são apreciadas pelos sindicatos.
À época da orientanda, Corrêa já havia defendido uma dissertação em que propunha uma nova matéria-prima construída a partir da união desses resíduos com plástico. Assim, resgatou a informação e debruçou-se sobre uma nova perspectiva: “desenvolver processo produtivo completo para fabricação dos produtos à partir dos resíduos”.
Assim surgiu o Ligno, processos tecnológicos que associam resíduos de madeira e design para fabricar materiais com os compósitos gerados.
Perspectivas
O projeto foi criado com a finalidade de dar alternativas de destinação dos resíduos gerados pelas indústrias moveleiras. Em 2015, participou do edital de chamada universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e conseguiu apoio para continuar.
Os produtos gerados pelo processo tecnológico Ligno passam pela menor quantidade de etapas possíveis, o que simplifica o aprendizado da fabricação:
- Coleta do material
- Peneiramento (classificação da granulometria)
- Mistura com resina (criação do compósito)
- Pesagem
- Preenchimento do molde
- Prensagem em alta temperatura
- Cura (15 minutos).
Atualmente, foram desenvolvidos dois produtos a partir do processo, que são porta-copos e bowls. Uma das características descobertas com as peças é que dependendo do material usado no compósito, durante a etapa de prensagem, o resultado adquire cores diferentes.
Além disso, os produtos saem da última etapa sem a necessidade de mais acabamentos, dependendo do uso.
Segundo Corrêa, a indústria moveleira gasta cerca de R$ 0,14 para dar destinação adequada a 1 quilo de resíduos de madeira. O Ligno gera porta-copos e bowls usando 100 gramas e 200 gramas do material, respectivamente. A taxa de produção é de quatro utensílios por hora.
As peças podem diminuir os impactos ambientais, trazer ganhos socioeconômicos e resolver os problemas enfrentados pelo setor.
Veja abaixo a entrevista feita com Corrêa.