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Para saber se a adoção de políticas públicas com respeito ao uso da língua portuguesa poderia aumentar a inclusão social, Marcos Paulo Santos, pesquisador e mestre em linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisou estratégias que evitam a aplicação do gênero gramatical masculino como forma de referência a grupos mesclados de homens e mulheres.

Em outras palavras, Santos abordou a tradição da língua portuguesa de usar palavras masculinas para tratar pessoas de gêneros diferentes dispostas em um mesmo grupo.

Por exemplo, quando um(a) palestrante ou professor(a) se comunica com um conjunto de pessoas de sexos diferentes, quais seriam as implicações em tratá-los no masculino dizendo: “olá, alunos, tudo bem?” ou “bom dia a todos!”.

De acordo com Santos, movimentos sociais, sobretudo, movimentos feministas, discutem que essa prática é sexista e gera o apagamento das mulheres nestes ambientes. Entretanto, do ponto de vista gramatical, o pesquisador ressalta que o uso do masculino para se referir a grupos mistos não é errado, porém, também, não possui nenhuma justificativa que o transforme em padrão.

Por isso, na dissertação “Sexismo linguístico e nomes gerais: a construção de uma língua inclusa”, Santos apresenta palavras com semântica vaga – pessoa(s), pessoal, gente, humano(s), indivíduo(s), povo, ser(res) e sujeito, denominadas nomes gerais de referência a seres humanos (NG[+hum]) – como alternativas para substituir uma linguagem que pode ser considerada sexista. Além disso, por meio de comparação, delineou como as políticas públicas podem influenciar na popularização dessas formas de tratamento.

Políticas públicas são a diferença

Em 2017, Santos descobriu que o Governo do Rio Grande do Sul (RS) havia criado um manual de redação para seus parlamentares. O guia tem data de publicação de 2014 e se chama “Manual para o uso não sexista da linguagem: o que bem se diz bem se entende”.

Marcos Paulo Santos – Pesquisador e mestre em linguística UFMG – Foto William Araújo – Minas Faz Ciência

Segundo Santos, no intuito de padronizar a linguagem dos deputados estaduais com viés de não serem sexistas em seus discursos e redações, a gestão da época conseguiu diminuir, consideravelmente, o uso de palavras masculinas e aumentar a aplicação dos nomes gerais.

O pesquisador então comparou e descobriu, por meio de quantificação, que os parlamentares do Governo de Minas Gerais, principalmente, quando continham mais de um mandato, usavam muito as palavras do gênero masculino para se referir a grupos mistos. Em análise, Santos identificou que um dos gatilhos para essa diferença era, justamente, a ausência de políticas públicas inclusivas como as adotadas no Rio Grande do Sul.

Conforme teorias linguísticas citadas por Santos, a fala pode ser afetada a partir da informalidade e usos gerais, como as gírias, ou então por meio da influência da fala prestigiada, proveniente da língua culta. Como políticos são figuras públicas e usam a norma culta, o poder de influência deles na mudança de linguagem é forte.

Alternativas

Como alternativa, o pesquisador indicou, em concordância com manual do Rio Grande do Sul, o uso dos nomes gerais ou a duplicação das palavras. Em vez de um professor cumprimentar seus discentes com “olá, alunos”, ele poderia adotar e estimular a inclusão feminina dizendo: olá, pessoal, ou olá a todos e todas.

Entre outras experiências em voga apontadas por Santos estão o uso do X e @ como não determinadores do gênero. Entretanto, o pesquisador justifica que o melhor meio de inclusão de dá pelos nomes gerais.

“As pessoas têm usado o X e @(arroba), como em amigxs e amig@s, para aumentar a inclusão dos diversos gêneros, porém, existe um problema na prática, pois se constrói um fonema impossível de pronunciar e a estratégia fica retida à escrita informal”, diz Santos.

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