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Em verde, axônio de neurônios corticais que expressam a opsina, os quais quando ativados pela luz regulam atividade dos neurônios em vermelho, situados em uma região profunda do cérebro. Foto: Arquivo dos pesquisadores

Uma doença sem cura e com tratamento difícil. Assim é o Parkinson, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge 1% da população acima dos 65 anos. No Brasil, a estimativa é de que pelo menos 200 mil pessoas tenham essa doença degenerativa do sistema nervoso central. Motivados pelo desafio de amenizar as deficiências trazidas pelo Parkinson, pesquisadores do Centro de Tecnologia em Medicina Molecular, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram uma técnica inédita capaz de estimular neurônios afetados pela doença. Os cientistas usam fibra óptica para emitir luz diretamente na área comprometida.

[quote align=’left’]O Parkinson é uma doença causada pela morte de neurônios dopaminérgicos, um tipo de célula cerebral que produz o neurotransmissor dopamina. Sem essa substância, os músculos deixam de responder aos comandos voluntários do cérebro. Por isso, o paciente com Parkinson tem grande dificuldade para realizar movimentos, apresentando, por exemplo, tremores, lentidão e alterações cognitivas. A doença é incurável pois não existe renovação significativa dos neurônios que morreram. (informações dos pesquisadores) [/quote]“As terapias que existem são paliativas, para retardar as complicações e amenizar os problemas de movimento e locomoção. É muito triste saber que os medicamentos funcionam somente nos primeiros cinco anos. Depois desse período, o paciente fica sem opção farmacológica e entra em declínio progressivo, a pior parte da doença”, explica o biomédico e neurocientista, Luiz Alexandre Viana Magno.

De acordo com o pesquisador, para alguns pacientes em que a medicação não faz mais efeito, é recomendada cirurgia. “O procedimento não funciona com melhora clínica total. Nesta cirurgia tradicional, são implantados eletrodos que fazem a estimulação de regiões cerebrais profundas, o que torna o processo complicado porque atravessa quase todo o cérebro. Podem ocorrer efeitos colaterais, pois no trajeto cirúrgico há chances de lesão”, afirma o cientista.

Alternativa

Somente pacientes mais jovens recebem indicação para a cirurgia tradicional. Diante desse cenário, Magno e a equipe de pesquisadores foram em busca de uma alternativa cirúrgica que pudesse englobar mais pessoas. Começaram a testar o estímulo em áreas superficiais do cérebro ao invés das regiões profundas. Dessa forma, o procedimento fica menos invasivo.

[quote align=’right’]Optogenética: o procedimento envolve a injeção cerebral de um DNA que codifica a produção de proteínas chamadas de opsinas. As opsinas, quando estimuladas com luz, ativam ou inibem os neurônios (a depender do tipo de opsina utilizada). Os padrões da “fotoestimulação” são controlados por computador, fornecendo em tempo real a possibilidade de eventuais reajustes. (informações dos pesquisadores)[/quote]A equipe mudou também a técnica e, ao invés de corrente elétrica para estimulação, optaram pela optogenética, protagonizando uma das primeiras aplicações feitas da América Latina. “A corrente elétrica não distingue neurônios estimulados e isso não é bom, dado que nem todos os neurônios de uma área cerebral são afetados pelo Parkinson. É necessário melhorar o alvo, pois há células nervosas doentes e outras sadias”, detalha Magno.

Já a optogenética, que usa luz para ativar os neurônios, tem um foco mais preciso nas células doentes. Os neurônios não respondem naturalmente à luz, por isso, foi preciso usar técnicas de engenharia genética para torná-los responsivos ao estímulo luminoso.

“Injetamos neles vírus de outra espécie capaz de expressar uma proteína (opsina) sensível à luz, ao passo que, ao iluminarmos ficarão ativos. Assim, conseguimos selecionar neurônios que expressam opsina daqueles saudáveis, que não expressam”.

Fotos de arquivos da pesquisa:

Cirurgia e desafios

Segundo o pesquisador, a cirurgia tradicional leva eletricidade até a área afetada, sendo mais invasiva. A nova técnica consiste em inserir no cérebro do paciente uma fibra óptica – que tem a espessura bem fina e emite luz na ponta.

Foto:  Carol Morena ACS/Fac de Medicina da UFMG

“A fibra vai atravessando as regiões cerebrais até o ponto determinado. Colocamos a luz somente nos neurônios doentes, um benefício porque não alteramos os saudáveis. As redes neurais vizinhas não relacionadas com a doença não são impactadas, portanto, espera-se que sejam evitados efeitos adversos”.

Foram investigadas nesta etapa da pesquisa três regiões do cérebro e os bons resultados observados apenas em uma. Os testes foram feitos em camundongos, o que ainda é uma limitação da pesquisa. Outra barreira é a adaptação dos neurônios para responder à luz.”A transferência gênica que fazemos emprega vírus que carrega o DNA da opsina para o cérebro, pois é preciso expressar opsina e ficar iluminado”, detalha. O que preocupa a equipe de pesquisadores é a presença do vírus no cérebro do pacientes.

“Ninguém ficaria confortável em fazer injeções virais no cérebro humano. Ainda precisamos deste vetor, mas ele pode se recombinar, sofrer mutações e se tornar causador de outras doenças”, pondera o cientista. O estudo foi publicado, em fevereiro, na revista “Journal of Neuroscience”, que é o periódico da Sociedade Americana de Neurociência.

Luana Cruz

Mãe de gêmeos, doutoranda e mestre em Estudos de Linguagens pelo Cefet-MG. Jornalista graduada pela PUC Minas. É professora em cursos de graduação e pós-graduação.

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