Desde as eleições 2018, uma série de questionamentos – de natureza política, social, econômica, religiosa, comportamental etc. – paira sobre a mente de milhões de cidadãos brasileiros.
Para além dos efeitos diários da truculenta polarização partidária, os fatos e o desfecho (digamos, pouco convencionais) do pleito à Presidência da República acabaram por obrigar a nação a importante autorreflexão acerca de conceitos básicos das matrizes de sua soberania – a exemplo de “democracia” e “liberdade”.
Tais preocupações em torno de nosso status político estimularam 22 importantes intelectuais brasileiros a problematizar a questão-título desta obra recém-lançada pela Companhia das Letras: Democracia em risco?
No livro, nomes como Sérgio Abranches (“Polarização radicalizada e ruptura eleitoral”), Angela Alonso (“A comunidade moral bolsonarista”), Daniel Aarão Reis (“As armadilhas da memória e a reconstrução democrática”) e Heloisa M. Starling (“O passado que não passou”) discutem múltiplas facetas dos novos desafios impostos ao País.
Para completar tal caleidoscópico universo de desassossegos, também são abordadas, na coletânea de ensaios, temáticas como “Deus acima de todos” (Ronaldo de Almeida); “Em nome do quê? A política econômica no governo Bolsonaro” (Monia Baumgarten de Bolle); “Psicologia das massas digitais e análise do sujeito democrático” (Christian Ingo Lenz Dunker); “A política brasileira em tempos de cólera (Angela de Castro Gomes); ou “Sismografia de um terremoto eleitoral” (André Singer e Gustavo Venturi).
Leia um trecho:
[infobox title=’Do texto “Polarização radicalizada e ruptura eleitoral”, de Sérgio Abranches’]“As rupturas de 2018 se deram em dois planos. Os resultados do primeiro turno mostraram a aceleração do realinhamento partidário que vinha ocorrendo mais gradualmente desde 2010, com o declínio do tamanho médio das bancadas na Câmara e o aumento da fragmentação partidária no Congresso.
Além disso, o PSDB ficou fora, pela primeira vez, da disputa pela Presidência. O partido ganhou as eleições presidenciais no primeiro turno, com Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, e esteve no segundo turno contra o PT em 2006, 2010 e 2014. O segundo turno da eleição presidencial de 2018, com a derrota do PT para um candidato de partido inexpressivo e sem estrutura política de campanha, completaria a ruptura. Era o fim do ciclo PT-PSDB do presidencialismo de coalização na Terceira República, que organizara governo e oposição desde 1994.
O realinhamento partidário tende a acelerar ainda mais e se aprofundar, com a proibição das coligações em eleições proporcionais. Essa nova regra já deve ter alguma influência nas eleições municipais de 2020, mas terá efeito pleno nas eleições gerais de 2022. Em algum momento levará à substituição do sistema partidário em desagregação por outro mais articulado.”[/infobox]
Ficha técnica:
Livro: Democracia em risco? – 22 ensaios sobre o Brasil hoje
Autores: Diversos
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 375
Ano: 2019