Um dispositivo com 11 teclas grandes, espaçadas e coloridas que, quando combinadas, permite a formação de palavras. Essa é a premissa do Teclado Inteligente Multifuncional TiX, desenvolvido por um grupo de empreendedores formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O teclado permite que pessoas com limitação de movimentos e de coordenação motora usem o computador com mais facilidade, garantindo maior acessibilidade a pessoas com deficiência.
Carro-chefe da startup Geraes Tecnologia Assistida, o TiX é também compatível com um sensor de piscadelas, o que permite a comunicação para indivíduos com restrições severas de movimento ou que só dispõem do movimento dos olhos. Por esses e outros motivos, a equipe que criou o dispositivo recebeu, no fim do ano passado, o prêmio Entrepreneur Hero durante a EdTech Innovation Start-up Competition 2018, realizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
A Minas Faz Ciência conversou com Adriano Rabelo Assis, um dos criadores da tecnologia e um dos responsáveis pela Geraes Tecnologia Assistida para saber mais sobre a empresa e seus produtos. Confira:
Como funciona o Teclado Inteligente Multifuncional TiX?
Ele substitui o teclado e o mouse do computador para pessoas que não têm coordenação motora fina, e, consequentemente, têm dificuldades para usar um teclado e um mouse convencionais. Ele é um painel que tem 11 botões, grandes, bem espaçados entre si e que são sensíveis ao toque. Cada botão tem uma cor e em torno desses botões há orientações de como escrever cada letra ou como operar as funções do mouse. Basicamente, cada toque em dois botões seguidos do painel TiX equivale a uma tecla do teclado convencional. Por exemplo, para escrever “a”, a pessoa deve tocar no botão azul e depois no amarelo. Para alguém que não tem coordenação fina é muito mais fácil de fazer do que tentar acertar uma letra pequena em um teclado convencional no meio de várias teclas também miúdas. Além disso, o teclado é compatível com um sensor de piscadela que desenvolvemos. Esse sensor ajuda as pessoas que têm uma deficiência ainda mais severa, aquelas que não conseguem nem encostar nem com a mão nem com os pés os botões do TiX. O sensor capta o piscar dos olhos da pessoa e faz com que ela consiga escolher quais os botões devem ser acionados.
Como e quando ele começou a ser desenvolvido?
A ideia básica por trás do TiX surgiu da monografia de um aluno da Ciências da Computação, chamado Gleison Fernandes de Faria, apresentada em 2006. Ele nasceu com paralisia cerebral e fez o curso com muita dificuldade. Durante a graduação, ele utilizava um capacete adaptado que o ajudava a teclado convencional. Depois de algum tempo, ele se formou e apresentou essa monografia que propunha um dispositivo chamado Teclado Iconográfico Combinatório. Em 2013, conheci o Gleison e a Geraes Tecnologia Assistida começou a ajudá-lo no desenvolvimento deste protótipo. Em 2015 conseguimos lançar o produto no formato em que ele é conhecido hoje.
Como e quando surgiu Geraes Tecnologia Assistida?
A Geraes surgiu em 2009 por iniciativa de um pesquisador da UFMG, Julio Cesar de Melo, que tinha um projeto acadêmico propunha ajudar os cegos a utilizar o transporte coletivo sem precisar de ajuda. Ele me convidou, juntamente com outro aluno da UFMG, para montarmos uma empresa para transformar aquele produto e se implantar o produto na cidade. Durante os quatro primeiros anos da empresa, trabalhamos em cima deste produto. Mas, em 2013, ele acabou ficando obsoleto. Foi nesta época que começamos a trabalhar com o TiX.
Existem outros produtos e serviços que a empresa vem desenvolvendo para serem comercializados no futuro?
Em 2018, finalizamos um novo produto chamado TiX Letramento. É um programa que envolve os produtos oferecidos pela Geraes e mais um conjunto de títulos eletrônicos que cobrem todo conteúdo da Base Nacional Curricular de Ensino Fundamental para Português e Matemática. Com isso conseguimos garantir uma maior inclusão e acessibilidade para os alunos com deficiência.
Qual é a importância de ter recebido o prêmio Entrepreneur Hero?
Receber este prêmio foi importante para chancelar a reputação que viemos criando no Brasil e também para dar um pouco mais de impulso para nossa estratégia de internacionalização que começou em 2018 com a criação da Key2enable, nossa base nos EUA. Temos a intenção de explorar outros mercados, então, ter recebido o prêmio vai nos ajudar a impulsionar essa relação.