Janeiro é verão, tem férias escolares, tempo de praia e cachoeira. Tem gente até que pode se arriscar num banho de rio! Lugares naturais e refrescantes que são também ecossistemas aquáticos!
Você já parou para pensar no impacto da sua ação humana nesses ecossistemas?
Pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei sim!
A pesquisa desenvolvida pela professora Iola Boechat, do Departamento de Geociências da UFSJ, estuda os impactos de ações humanas nas relações entre os organismos presentes em um ambiente, com foco em ecossistemas aquáticos.
Algumas dessas relações são conhecidas como interações tróficas e envolvem a interação entre organismos presas e seus consumidores.
Mas por que isso é importante?
Nas palavras da professora:
“Um fator importantíssimo na compreensão de qualquer ecossistema é como os organismos que compõem a parte biológica deste sistema interagem entre si. Como essas interações vão responder face a distúrbios como distúrbios naturais, flutuações climáticas, alterações normais nas paisagens, mas também alterações em função de atividades humanas”, conta Iola.
Na UFSJ, um dos principais campos de pesquisa da professora são os rios da região.
“A gente estuda, por exemplo, seja aqui no Rio das Mortes ou em outros riachos da região, as fontes nutricionais de diversos organismos aquáticos – o que eles comem, qual é a qualidade nutricional desse alimento, se isso flutua ao longo do tempo, se eles mudam essas fontes nutricionais quando acontece alguma perturbação no ambiente”, explica.
Como é feita a pesquisa?
Em alguns projetos, a pesquisa é feita diretamente no local, em tempo real. Já em outros, é necessário trazer os organismos para o laboratório, colocá-los em condição de cultivo e alimentá-los com eventuais presas que existam ou que poderiam vir a existir naquele sistema.
As interações tróficas em sistemas aquáticos são apenas uma das linhas da pesquisa desenvolvidas pela professora e seu grupo. Uma outra importante linha é a detecção das principais formas de impactos do uso da terra sobre o funcionamento dos ecossistemas aquáticos.
Um destes estudos revelou que, na bacia do Rio das Mortes, o maior impacto vem da urbanização.
“Embora a urbanização, em termos de porcentagem de área ocupada na bacia do Rio das Mortes, seja menor que a área agrícola, o impacto é muito maior, porque o tipo de atividade diz muito sobre o que vai acontecer dentro do sistema. Então, descarga de esgoto é uma terrível consequência da urbanização para sistemas aquáticos, e ocorre muito descarte de esgoto nos rios da região”.
Parcerias pela ciência
Na busca por compreender impactos humanos sobre ecossistemas aquáticos, a professora desenvolve parcerias com diversas instituições e pesquisadores no Brasil e no mundo. Um dos resultados dessa cooperação internacional é o projeto “One Thousand Rivers Project” (Projeto dos Mil Rios).
“É um projeto coordenado por um pesquisador da França, mas tem pesquisadores do mundo inteiro envolvidos. Nós buscamos entender alguns processos em rios intermitentes, rios que secam em determinado período de tempo”, conclui a professora.
O projeto gerou um importante trabalho publicado em maio de 2018 pela revista Nature Geoscience.