Problema de saúde pública, a dependência química tem aumentado, principalmente, entre adolescentes. Isso é o que mostra recente levantamento realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, a partir de convênio celebrado com o Ministério da Saúde e com apoio do Ministério da Educação. Os dados apontam aumento – de 7,3%, em 2012, para 9% em 2015 – do percentual de estudantes do 9º ano que já experimentaram drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, cola, loló, lança-perfume, ecstasy etc.).
Em Minas Gerais, o cenário não poderia ser diferente. Recente pesquisa, conduzida pelo Centro Regional de Referência em Drogas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com órgãos e instituições públicas da capital mineira, confirma tal realidade. De acordo com o levantamento, cerca de 15% da população de Belo Horizonte, o que equivale a 375 mil habitantes, já experimentaram algum tipo de droga ilícita.
Da variedade de entorpecentes disponíveis, destaque para dois que, sem dúvida, apresentam alto risco de dependência, em função do “barato” intenso e imediato: cocaína e crack. A amostragem indica que um em cada 20 belo-horizontinos já experimentaram cocaína. O número sobe de um a cada 100 habitantes no que diz respeito ao crack, o que corresponde a cerca de 25 mil pessoas na capital inteira.
[quote align=’right’]O crack é uma mistura de cocaína, em forma de pasta não refinada, com bicarbonato de sódio. Por isso, o medicamento desenvolvido também poderia ser usado para tratar a dependência a tal droga.[/quote]Por tudo isso, mais do que um problema de saúde pública, o uso das duas substâncias ilícitas torna-se um problema social, que merece atenção dos órgãos públicos e da comunidade científica. Pesquisadores do departamento de Química e Saúde Mental da UFMG, com apoio da FAPEMIG, desenvolveram substância capaz de induzir o corpo a produzir um anticorpo contra a cocaína, que, consequentemente, também age contra o crack.
Coordenado pelo professor Frederico Duarte Garcia, da área de Psiquiatria da UFMG, o estudo se dividiu em duas fases, nas quais buscou-se tratar a dependência com a própria molécula da droga.
“Os anticorpos produzidos ligam-se à molécula de cocaína na corrente sanguínea e impedem a passagem pela barreira hematoencefálica”, explica o pesquisador. Em outras palavras, a substância bloqueia a entrada da cocaína no cérebro, de maneira a impedir seu efeito. Sem a sensação da droga, o ciclo do vício pode ser quebrado.
Etapas
Na fase 1, foram realizadas experimentações in vitro. Em seguida, verificaram-se, em camundongos, a eficácia e adequação da vacina – a substância injetável – produzida. Tal terminou com grande êxito. Agora, após serem contemplados pelo Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), chamada apoiada pela FAPEMIG, os cientistas seguem à fase 2, na qual a equipe concentrará esforços na verificação da eficácia da vacina, e, em seguida, na busca de registro em órgãos reguladores federais.
“Para conseguir a autorização de produção do medicamento, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é preciso fazer testes de toxidades em primatas, que se iniciam em abril de 2018, antes das experiências em humanos”, explica Frederico Duarte Garcia. Para tal, no primeiro semestre deste ano, serão formados quatro grupos de oito primatas, que passarão por medições de toxidade.