Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 50 milhões de pessoas em todo mundo são diagnosticadas com epilepsia. A patologia é, portanto, considerada pela OMS como uma das doenças neurológicas mais comuns no planeta.
Com o intuito de encontrar novas perspectivas para o controle da epilepsia, pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) desenvolveram um estudo que apresentou novas estratégias para o tratamento dos portadores de epilepsia de lobo temporal.
A pesquisa intitulada “Efeito do bloqueio dos cotransportadores NKCC1 e KCC2 nas atividades epileptiformes não sinápticos” foi desenvolvida no Laboratório de Neurociência, no Campus Dom Bosco, como parte da tese de doutorado de Samyra Giarola Cecílio. Ela explica que durante o estudo, foi investigada a atuação de um diurético que inibe crises epiléticos.
“Na nossa pesquisa investigamos a ação de um diurético conhecido (furosemida) no nosso modelo de epilepsia, que é o modelo de zero cálcio e alto potássio. Esse diurético é conhecido por inibir vários modelos de crises, tanto in vitro como in vivo. Nos nossos experimentos, a furosemida também bloqueou as crises. Mas o que descobrimos é que ela não bloqueia as crises por inibir duas proteínas na membrana que regulam o transporte de íons, como é divulgado atualmente na literatura. Em nossos experimentos observamos que o bloqueio é devido à atuação do diurético em duas outras proteínas que regulam o pH dos neurônios”, detalha Samyra.
Ao todo quatro pesquisadores trabalharam no estudo: Samyra Giarola Cecílio, aluna de doutorado da Universidade, Luiz Eduardo Canton Santos (aluno de pós-doutorado) e os dois professores/orientadores: Antônio-Carlos Guimarães de Almeida e Antônio Marcio Rodrigues.
Segundo o orientador Antônio-Carlos Guimarães, a pesquisa aponta para a desenvolvimento de medicamentos sem efeitos colaterais. “O ponto central do projeto é a identificação do mecanismo de atuação anti-epileptogênica da furosemida. Embora essa droga tenha uma ação muito eficiente, os efeitos colaterais, basicamente os efeitos diuréticos, a inviabilizam. Mas a identificação do alvo antiepilético permite desenvolver drogas de ação sobre esse mesmo alvo e sem os efeitos colaterais. Essa é a grande perspectiva que o estudo oferece”, defende o pesquisador.
Trabalho reconhecido
No final do mês passado, Samyra Giarola Cecílio foi premiada pela pesquisa no XXVI Congresso de Engenharia Biomédica, organizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB). A aluna recebeu o prêmio Cientista Cândido Pinto de Melo, o mais importante concedido pela sociedade, por seu trabalho que aborda o controle da epilepsia.
Para a cientista, o prêmio foi uma forma de reconhecimento da importância de sua pesquisa para a área da saúde. “Receber este prêmio foi de alegria para mim, uma vez que possibilitou uma maior divulgação e conhecimento da nossa pesquisa. A divulgação desses achados oferece novas perspectivas para a área clínica e saúde da população, uma vez que aponta novos alvos para o controle da epilepsia“, comemora Samyra.