Pesquisa estuda espécies de sempre-vivas em MG

[quote align=’right’]Apesar de delicadas, as sempre-vivas são muito resistentes, e têm esse nome porque conseguem manter suas flores vivas por anos, até mesmo décadas.[/quote]

Pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) estudam a taxonomia — ciência que descreve as espécies — das plantas sempre-vivas.

O objetivo é conhecer sua diversidade e evolução.

A equipe é coordenada pela professora Lívia Echternacht Andrade, do Laboratório de Sistemática Vegetal do Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente.

Sempre-vivas no Brasil

No Brasil, existem 630 espécies de sempre-vivas, principalmente nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás.

A Serra do Espinhaço, onde se localiza o município de Diamantina (MG), abriga o Parque Nacional das Sempre-Vivas. Lá é possível encontrar mais de 2 mil espécies de planta, não apenas sempre-vivas.

Os pesquisadores da UFOP desenvolvem estudos que buscam responder como essa multiplicidade evoluiu no espaço e no tempo. Há grupos de espécies que são típicas dos brejos, outras, dos areais.

Segundo a professora Lívia, há um projeto em andamento em que são estudadas cerca de 30 espécies encontradas no Parque Estadual do Itacolomi e na Serra de Lavras Novas.

Outra pesquisa investiga um conjunto de 29 espécies ameaçadas de extinção, localizadas no Parque do Itacolomi.

Por que estudar a evolução das sempre-vivas?

“A gente precisa conhecer a evolução para saber como as linhagens se diversificam ao longo do tempo. Há um princípio de conservação também. Identificar a diversidade atual é o que vai permitir manter essa biodiversidade no futuro”, explica a pesquisadora.

Lívia conta que os estudos sobre as árvores evolutivas (filogenia) são recentes, e foram consolidados nos últimos 20 anos, no Brasil, em função do processo de expansão das Universidades e da pós-graduação, realizados nas últimas décadas.

“Preservar as linhagens evolutivas é preservar o potencial de evolução, o futuro da biodiversidade”, detalha a professora.

Imagem meramente ilustrativa de sempre-vivas na Serra do Cipó / Foto de Antonio José Maia Guimarães via Wikimedia Commons

Patrimônio agrícola mundial e função social

As sempre-vivas são muito utilizadas na produção de arranjos e fazem parte do mercado de flores ornamentais da região do Espinhaço desde 1930.

Elas são coletadas por diversas famílias da região, autodefinidas como “apanhadores de flores sempre-vivas“, e são um importante meio de subsistência para essas pessoas.

“Muitos aprendem o ofício quando crianças, descendo e subindo a Serra do Espinhaço e, por isso, possuem uma ligação com as plantas que vai além do financeiro e as conhecem como ninguém”, relata.

No entanto, devido ao extrativismo acelerado dessas plantas, causado por seu baixo custo no mercado, à expansão urbana, à mineração e à agricultura, muitas espécies estão ameaçadas de extinção.

[quote align=’right’]”Eles se organizam não apenas para coletar em campo, mas também para enriquecer os campos com sementes. Eles coletam um número bem menor de flores e agregam valor com o artesanato”, comenta Lívia. Usando menos flores, é possível produzir um trabalho artesanal que pode ser comercializado a um preço superior, em comparação à simples venda da planta a quilo. [/quote]

Diante disso, foram desenvolvidos diversos projetos de manejo controlado do ambiente e foi criada a Associação de Artesãos de Sempre-Vivas, visando promover um espaço de discussão e planejamento coletivo do cultivo das plantas.

Atualmente essas comunidades de apanhadores são referência internacional e foram indicadas ao programa da FAO/ONU como “Patrimônio Agrícola Mundial” pela Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas (Codecex).

A organização social que representa regionalmente as comunidades apanhadoras de flores sempre-vivas, com o apoio de pesquisadores.

“O artesanato das sempre-vivas pode favorecer a conservação das espécies, se feito de forma manejada e sustentável“, diz Lívia.

Foto de Bruno Vinícius / Via WikiParques, no Parque Nacional das Sempre-Vivas

Pesquisa básica

A professora destaca que ainda falta muita pesquisa de base neste campo da Botânica: “Quando vamos em áreas de campo rupestre pouco coletadas, muitas vezes encontramos espécies novas para a ciência, nunca antes descritas. Isso mostra o quanto a pesquisa sobre o tema está começando, é preciso conhecer o fundamental, onde elas ocorrem, como elas são. Isso é pesquisa básica“.

O grupo de pesquisa coordenado por Lívia tem a expectativa de estender este trabalho de taxonomia para que haja um levantamento sólido, principalmente de gêneros que têm uma diversidade enorme e são pouco conhecidos.

“Desde os anos 2000, aumentou muito o número de pessoas trabalhando nessa área. Mas ainda temos muito a fazer porque, antes disso, o trabalho mais consolidado sobre o tema era do começo do século XX“, detalha.

Importância das coleções científicas

Para a consolidação dos estudos, é de suma importância também a criação e preservação de coleções científicas que, no caso das plantas, são arquivadas nos herbários.

“Pegamos os exemplares na natureza, desidratamos, catalogamos, e eles ficam arquivados em herbários para acesso de outros pesquisadores”, explica a professora.

O trabalho de criação e manutenção de herbários é importantíssimo para a pesquisa em Botânica, inclusive porque as áreas naturais vem sendo degradadas a ponto de muitas espécies não existirem mais na natureza.

Em Minas Gerais, o maior herbário é o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas a UFOP tem uma importante coleção histórica, “uma das mais antigas do Brasil e com certeza a mais antiga de Minas Gerais”, conta Lívia.

Ao comentar o incêndio do Museu Nacional, ela celebra o fato de que o herbário do MN havia sido retirado do prédio principal há alguns anos, o que o manteve preservado após a tragédia:

“É a maior coleção histórica de plantas do Brasil. É preciso preservar esses espaços”, conclui a pesquisadora.

Com informações da Assessoria de Comunicação da UFOP.
Compartilhe nas redes sociais
0Shares
Tags: , , , ,

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.