Genética do vírus da febre amarela

Pesquisadores de 30 instituições científicas mundiais trabalharam juntos para produzir uma pesquisa sobre o monitoramento genômico e epidemiológico do potencial de transmissão do vírus da febre amarela. Foram sequenciados 52 genomas completos do vírus da doença. “Antes desse trabalho, existiam até 40 ou 50 genomas completos publicados no mundo. Então nós aproximadamente dobramos a quantidade de informação genética do vírus de febre amarela só com esse projeto”, afirma Felipe Iani, pesquisador do Serviço de Virologia e Riquetsioses da Fundação Ezequiel Dias (Funed).

Cerca de 90% do sequenciamento foi feito em Minas Gerais, na Funed. Foram usadas amostras obtidas em uma das maiores epidemias de febre amarela que o Brasil viveu nas últimas décadas. O surto da doença ocorreu em Minas Gerais no final de 2016 e início de 2017, e se estendeu até 2018. O estudo foi publicado na revista Science, publicação produzida pela Associação Americana para o Avanço da Ciência .

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Leitura da informação genética do vírus da febre amarela

Felipe Iani explica que a informação genética é o primeiro passo para entender o vírus e avaliar como ele se comporta. Análises genéticas mostram a origem e o fluxo geográfico e temporal do vírus. A investigação mapeou a linhagem viral como potencialmente oriunda da bacia amazônica. Lá, o vírus circula silenciosamente entre primatas não-humanos, sem ser detectado, com surtos ocasionais em humanos.

O monitoramento genético permite ainda verificar a necessidade de atualização do diagnóstico e das vacinas para o vírus. A pesquisa identificou 10 mutações nos genomas estudados. Análises possibilitam verificar se as mutações podem afetar a infectividade, a virulência e a transmissibilidade. “A princípio, o genoma é o texto base. Agora, serão produzidos vários estudos sobre os impactos dessas mutações no vírus. Por exemplo, a gente sabe que o vírus do chikungunya sofreu uma mutação pontual que possibilitou aumentar a transmissibilidade dele através de outras espécies de mosquito”, diz Felipe Iani.

O estudo desenvolvido na Funed trabalhou com vigilância genômica em tempo real, disponibilizando resultados para instituições governamentais. “As pesquisas geralmente produzem o material e demora muito para ter um resultado na ponta. A gente vai atualizando os dados em tempo real, para as vigilâncias conseguirem atuar nas regiões que estão tendo essas epidemias”, explica o pesquisador. A vigilância genômica em tempo real pode ser aplicada a outros vírus.

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