Dataplamt: o banco de dados das plantas medicinais brasileiras

Por Mariana Alencar e William Araújo

“…o Brasil é o campeão da biodiversidade no mundo. É o país que tem o maior número de espécies diferentes de animais e de plantas. Então nós temos uma responsabilidade imensa de cuidar desse patrimônio todo”, diz Maria das Graças Lins Brandão, doutora em química orgânica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A pesquisadora alerta para a constante destruição cultural que o país vem sofrendo no que diz respeito à tradicionalidade do uso das plantas medicinais. Atualmente, “o Brasil importa plantas e as nossas não são usadas. A maioria dos medicamentos fitoterápicos registrados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não são provenientes de plantas brasileiras”, diz Maria Brandão.

[quote align=’left’]

Saiba mais

[/quote]

Para diminuir esse impacto, a pesquisadora criou o Centro Especializado em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas (Ceplamt), que faz parte do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB). O intuito da unidade de pesquisa é “recuperar informações sobre plantas úteis nativas do Brasil em bibliografias e documentos históricos”.

Como resultado da busca, o grupo de pesquisa propõe a apresentação organizada dos registros por meio de um banco de dados online chamado Dataplamt (Banco de dados e amostras de plantas aromáticas, medicinais e tóxicas), que servirá para manter viva a tradicionalidade do uso desses medicamentos naturais. Segundo a doutora, há a previsão de que todo conteúdo, em torno de 5 mil plantas úteis, estejam registradas até o final do ano.

 

Plantas também têm história

Livro desenvolvido pelo Ceplamt – Foto – William Araújo

Outro viés de pesquisa do Ceplamt é relatar a história do uso tradicional de algumas plantas. De acordo com a pesquisadora, a medicina natural brasileira é tão antiga quanto a chinesa, porém, somente começou a ser registrada a partir da colonização, quando a corte convidou vários naturalistas para estudarem a biodiversidade do país.

“Alguns dizem que esses naturalistas foram os primeiros ‘biopiratas’ do Brasil, mas eles foram muito importantes para manterem documentada a história do uso das plantas medicinais nativas”, afirma Maria Brandão. Conforme a pesquisadora, plantas como a copaíba já eram usadas para curar feridas de flechas em 1538, segundo registros portugueses.

Um alerta

Mesmo com estudos na área, são diversas as aplicações equivocadas das plantas medicinais. “As pessoas imaginam que por a planta servir como um medicamento, ela não é nociva, mas estão erradas. Ouvi uma história em que os comerciantes do mercado central estavam vendendo o barbatimão para tratar pressão alta, quando na verdade ela serve, também, para tratar feridas”, diz Maria Brandão.

Um dos motivos dessa “erosão” do passado e da tradicionalidade do uso das plantas nativas do País está no crescimento da monocultura e popularização do agronegócio, que contribuem negativamente para a biodiversidade. Outro fator importante é a ascensão dos remédios sintéticos no Brasil, inseridos pela indústria farmacêutica desde a década de 1950.

Com esses medicamentos, tratar doenças com plantas virou algo ultrapassado. Além disso, essas mesmas indústrias extraem os princípios ativos da natureza, manipulam e voltam a vendê-lo como remédios ou fitoterápicos, diz a pesquisadora.

A vegetação nativa do País sofre um intenso processo de extinção e perda do conhecimento tradicional. “Uma consequência, bastante visível, é o elevado número de plantas exóticas e importadas usadas na fitoterapia brasileira: o capim-santo, a babosa, a camomila, os hortelãs, a alfavaca e outras, não são nativas do Brasil”, afirma Maria Brandão por meio de material de divulgação do Ceplamt.

Veja o vídeo abaixo.

Compartilhe nas redes sociais
0Shares
Tags: , , ,