Pesquisa investiga relação entre hormônio da saciedade e obesidade
É hora da refeição, você se senta para se alimentar. Quando você para de comer? Quando a comida na sua frente acaba ou quando se sente satisfeito? A relação entre saciedade e obesidade é tema de pesquisa realizada da Santa Casa BH Ensino e Pesquisa (SCBH-EP).
Cientistas da Instituição querem descobrir os motivos que levam um hormônio, a leptina, a falhar na missão de causar, no hipotálamo, a sensação de saciedade após a ingestão de alimentos.
Produzida pelo tecido gorduroso, sabe-se que a leptina deixa de agir como deveria em determinado ponto da obesidade. Mas pouco se sabe sobre a regulação da transcrição de genes nesse processo no hipotálamo.
A equipe conduz investigações em nível celular, ou seja, quer entender como esse processo funciona dentro das células, e também pretende desvendar quando isso ocorre.
Pesquisas em modelo animal
Para a realização dos estudos, camundongos são submetidos a uma dieta rica em gordura.
No laboratório, o hipotálamo dos camundongos, região do cérebro envolvida na regulação do apetite, é analisado.
Após dezesseis semanas de indução à dieta, é comprovado o aumento do peso, juntamente com o aumento do açúcar no sangue, e da leptina circulante.
Assim como nos humanos obesos, o hormônio deixa de desempenhar seu papel de indicar ao corpo que é hora de parar de comer, ou seja, deixa de dar sensação de saciedade.
De acordo com os pesquisadores, foi possível observar diferenças significativas na expressão de proteínas nos animais obesos, que poderiam afetar a regulação da saciedade.
Contribuições da pesquisa
A descoberta de novas informações sobre as falhas da leptina podem conduzir a pesquisas farmacológicas que aumentem as chances de sucesso de pessoas que lutam contra a obesidade.
Mas Karla Fernandes, pesquisadora-líder desse estudo, indica que mais importante é conhecer os processos:
“Eu trabalho com farmacologia, mas conhecer os mecanismos relacionados à saciedade é mais relevante no momento, só depois podemos propor algum novo alvo terapêutico. As proteínas com as quais trabalhamos estão relacionadas a processos neurodegenerativos também, como Parkinson e Alzheimer. O conhecimento desses alvos é relevante para mapear melhor esse campo de estudos e prospectar moléculas que poderiam funcionar com ação terapêutica”, explica a pesquisadora.
Chave e fechadura
[quote align=’right’]Pesquisas como a liderada por Karla buscam conhecer o modelo de funcionamento em nível celular para, então, buscar soluções que podem ou não resultar em novos medicamentos, no futuro.[/quote]
Karla explica que a resistência a um hormônio como a leptina pode ser comparada a uma chave que entra em uma porta, mas não gira para abrir, ou mesmo, em outros casos, à ausência da fechadura.
A resistência a insulina, no caso dos diabéticos, é outro bom exemplo sobre como isso acontece: “Nosso objetivo é descobrir o que causa esse problema na relação chave-fechadura, porque queremos que a chave gire, ou seja, que o funcionamento volte ao estado normal”, conta.
O trabalho vem sendo desenvolvido no Laboratório de Pesquisa da Santa Casa de BH. Outros pesquisadores envolvidos são o farmacêutico Fernando Rubatino, a bióloga Luana Ferreira, e os biomédicos Leonardo Rossi e Mariana Lacerda, mestrandos em Ciências da Saúde.
“Também temos interesse em trazer visibilidade para o Brasil nesses temas de pesquisa. Esse estudo é bastante original. Há um grupo em Campinas estudando aspectos semelhantes, mas estamos olhando para etapas diferentes do processo”.
Para onde apontam os resultados?
A pesquisa quer saber se a pessoa obesa se torna mais obesa em função dessa falha de funcionamento da leptina. Mas, segundo Karla Fernandes, ainda é cedo para ter certeza sobre isso.
“A pesquisa precisa amadurecer. O que observamos é um processo intracelular que tem a ver com o funcionamento do neurônio no hipotálamo”.
Ela observa o que chama de “saquinhos”, que transportam proteínas dentro da célula e estão relacionados com o bom funcionamento. Falta ligar essa observação celular à questão da resistência ao hormônio.
“A resposta ao hormônio é o que gera saciedade; se não há resposta, não nos sentimos satisfeitos. Mas ainda estamos investigando”, conclui.
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