Pesquisadoras premiadas esperam estimular mais mulheres na ciência

Quando decidiu fazer a licenciatura em Física, iniciada no ano 2000, na Universidade Federal de São João Del Rei, Jaqueline Soares chegou a ser questionada se estava louca. Atual professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), ela é uma das ganhadoras da etapa nacional do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2018 [a terceira, da esquerda para direita, na foto].  

A cientista foi reconhecida por seu trabalho que investiga a aplicação do talco da pedra-sabão e do grafeno para aumentar a resistência de um material empregado na produção de próteses ortopédicas e dentárias, a hidroxiapatita. “Ela é mais frágil que o osso humano, então, seria possível criar próteses mais duradouras”, explica. Segundo a professora, a combinação desses elementos pode gerar materiais biocompatíveis, ou seja, que não causam rejeição ao organismo, com propriedades aprimoradas. Mas ainda há uma série de etapas até a realização de testes com humanos.

Jaqueline acredita que a premiação poderá incentivar estudantes do Departamento de Física da Ufop. Para as mulheres, particularmente, ela deseja que sirva de inspiração. 

“É preciso quebrar o tabu de que as Ciências Exatas são difíceis e que as meninas não são competentes para isso. Temos que mostrar para a sociedade que os trabalhos produzidos pelas mulheres são tão bons quanto os dos homens”, afirma Jaqueline Soares.

 

Persistência das mulheres na ciência

A outra mineira ganhadora do Prêmio Para Mulheres na Ciência 2018 é Angelica Thomaz Vieira, professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG [a penúltima, da esquerda para a direita, na foto]. Ela pesquisa a resistência a antibióticos e o modo como o próprio corpo humano pode combater bactérias resistentes a partir de uma alimentação balanceada, que promova o equilíbrio da microbiota intestinal. No início deste ano, outra docente do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, a farmacêutica Rafaela Salgado Ferreira, foi uma das ganhadoras do prêmio, na etapa internacional.

“Nós, jovens pesquisadoras, ainda que no início da nossa carreira, lutamos para continuar desenvolvendo pesquisas de alta qualidade no nosso País, mesmo no cenário político e econômico atual, desfavorável para a ciência brasileira. Acreditamos que o reconhecimento possa atrair mais incentivos para as nossas pesquisas e aumente a popularização da ciência para a comunidade de maneira geral”, analisa Angelica Thomaz Vieira.

Maternidade e ciência

Para Angelica, a premiação tem ainda um importante significado pessoal. “Estou em licença-maternidade. Sou mãe de um menino de dois meses e de uma menina de dois anos. Estava me sentindo desmotivada, por saber e vivenciar os vários desafios que nós cientistas que optamos pela maternidade enfrentamos, incluindo o preconceito. A notícia do prêmio foi maravilhosa e reacendeu meu desejo de continuar a pesquisa”, comemora.

Recentemente, a discussão sobre os impactos da maternidade na carreira científica das mulheres se ampliou no Brasil. No último mês de maio, foi realizado o I Simpósio Brasileiro sobre Maternidade e Ciência. No final de julho, uma carta assinada por mais de 30 entidades científicas brasileiras foi entregue ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pedindo a inclusão de um campo específico no Currículo Lattes para informar a duração da licença. O objetivo é justificar a queda de produtividade no período e garantir às pesquisadoras que são mães condições de igualdade na competição por recursos para dar continuidade às suas pesquisas.

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