Três perguntas para… Rita Ribeiro e o design como representação social
Rita Ribeiro é professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Líder do grupo de pesquisa do CNPq Design e Representações Sociais, é também pesquisadora do Centro de Estudos em Design da Imagem e do Grupo Presente Y Futuro Del Diseño, da Universidad de Palermo, Argentina.
Graduada em Comunicação Social pela PUC Minas (1984) e Mestre em Comunicação Social pela UFMG (2000), é doutora em Geografia (2008) e apaixonada por astronomia – ela é coordenadora do projeto “Animando o ano da luz: o design apresenta a astronomia para crianças“, sobre o qual já falamos aqui no Minas Faz Ciência.
Na entrevista a seguir, ela responde a três perguntas sobre sua atuação como pesquisadora, sobre o design como área de pesquisa e os desafios de atuar nesse campo tão interdisciplinar, que envolve desde processos de consumo, culturas urbanas, audiovisual, design emocional e até divulgação científica!
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Design e Representações Sociais são palavras que se destacam no seu currículo e nas pesquisas que você desenvolve. Pode me falar um pouco sobre a relação entre esses conceitos?
Rita Ribeiro: O que a gente entender por representação social? Basta olhar: como você se veste? Essa é sua representação social. Você viria para uma entrevista de chinelo? Não! Então, o design interfere nisso. Tudo o que nos cerca tem uma pegada de design, você querendo ou não.
O que é interessante dessa área de pesquisa é que o design entra nas coisas e, normalmente, a gente não percebe. As nossas escolhas, todas elas, são pautadas por algum atributo do design, e ele interfere na sua representação social: o carro que você tem, o celular que você compra, a capinha do celular que você usa, tudo conta alguma coisa a seu respeito.
A gente entende o design como uma manifestação cultural que muda a percepção das pessoas sobre o mundo.
2. Você se envolve muito com os temas que pesquisa, é nítido o caráter social de sua atuação como profissional. Como passou a trabalhar nessa área? Você escolheu a pesquisa ou ela te perseguiu?
Eu acho impossível um pesquisador ser desvinculado das coisas em que ele acredita. Essa história da neutralidade científica é uma bobagem sem tamanho, porque a gente coloca no mundo as coisas como a gente vê. Um exemplo é que, pra mim, o design pode funcionar para promover mudanças na circulação da cidade.
Todos os meus projetos têm essa pegada social porque estou devolvendo para as pessoas aquilo que o Estado me dá, como professora de uma universidade pública. Acho que a obrigação do pesquisador é fazer alguma coisa que seja boa para a comunidade em que está inserido. De uma forma, ou de outra, a pesquisa precisa virar projetos que vão retornar para a sociedade.
Eu não sou designer, mas sou pesquisadora na área. Trabalho em conjunto com os designers para pensar como podemos remodelar artefatos para cumprirem também uma função social, seja melhorar a autoestima de crianças com deficiência, seja ampliar o acesso à cultura, por exemplo.
3. Que desafios de sua área de pesquisa ainda precisam ser superados?
Rita Ribeiro: Preconceito acho que é um desafio muito grande, porque as pessoas acham que design é ‘enfeitar coisas’. Não é. Design é tornar as coisas mais agradáveis, mas pensar também na usabilidade, como isso vai ser bom para a pessoa, para seu uso, aprimorar suas funções.
O design torna as coisas mais úteis e contribui para melhorar a vida das pessoas. Por isso, pesquisar design é também pensar o ser humano em sua complexidade.
E outra questão são as verbas, a redução violenta de verbas para a pesquisa em nosso país. A área do design é muito recente, o primeiro Programa de Pós-graduação em Design é de 1993. Por isso, ainda estamos trabalhando para sermos reconhecidos como campo de estudo.
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