Química forense: ciência e investigação criminal


Publicado em 17/05/2018 às 16:24 | Por Luiza Lages

A química aplicada à solução de crimes foi o tema do Pint of Science da última quarta-feira. Adriana Akemi Okuma, professora do Departamento de Química do CEFET-MG, e Clésia Cristina Nascentes, professora do Departamento de Química da UFMG, falaram sobre a Química Forense ao público da Villa Floriano Pizzaria, em Belo Horizonte.

As pesquisadoras, que trabalham junto às polícias civil e federal, usaram a série CSI (Crime Scene Investigation) para falar das ciências forenses em processos investigativos. O programa televisivo é centrado no trabalho do departamento de criminalística da polícia, solucionando crimes complexos. Mas a química forense vai muito além de assassinatos e roubos, e abrange diversas cenas de crime.

O que é a Química Forense?

Pint of Science. Foto: Lucas Nolasco / SIMI

Confira entrevista com as duas pesquisadoras:

MFC: Quais são principais áreas e processos da química forense?

Adriana Okuma: A química forense trabalha na identificação de substâncias relacionadas a crimes. Por exemplo: identificação de manchas de sangue, vestígios de impressão digital, de pólvora em disparos de armas de fogo, bebidas contaminadas, alimentos, envenenamentos, adulteração de combustíveis e desastres ambientais.

MFC: O que desperta mais curiosidade em relação à química forense?

Adriana Okuma: Acredito que a resolução de crimes usando tecnologia. A identificação de DNA, a identificação de criminoso por alguma arma, por algum movimento que ele fez e documentos que estão envolvidos em crimes. Isso chama a atenção do espectador ao tentar desvendar o crime e tentar acompanhar o raciocínio de um perito forense.

MFC: O que do imaginário da ficção, de filmes, livros e séries, se aproxima da realidade?

Clésia Nascentes: Uma grande dificuldade que temos no Brasil, ao contrário do que vemos nas séries, são os bancos de dados. Nas séries, você encontra uma fibra num local de crime, compara em um banco de dados e sabe que veio de determinado lugar, de determinado fabricante. A mesma coisa acontece para materiais poliméricos, tintas automotivas e até impressões digitais. No Brasil, nem banco de digitais nós temos. Muitas vezes não se recolhe digital em uma cena de crime porque a polícia não tem um banco completo. A digital do registro civil não pode ser utilizada para fins criminais e os únicos registros são de quem já teve passagem pela polícia. Então, apesar de termos tecnologias e técnicas avançadas, temos uma carência muito grande na comparação desses vestígios. Existe um gargalo que é mais difícil de avançar, que não depende da perícia e das universidades.

E eu acho que nas séries tudo se resolve de uma forma muito fácil. Dependendo da complexidade do crime, o processo investigativo é muito mais longo e pode ser muitas vezes inconclusivo. Na vida real nem sempre é possível ter uma solução.

MFC: Qual o papel da química forense na prevenção do crime?

Clésia Nascentes: Vou citar como exemplo drogas. Quando fazemos caracterização de drogas que estão sendo comercializadas no Brasil, você consegue muitas vezes identificar o país de origem, a rota de tráfico. Isso pode ajudar a aumentar o controle na fronteira. Ou descobre que um produto químico está sendo usado na produção de drogas. Você pode estabelecer maior rigor no controle sobre esse produto, para dificultar o acesso. À medida que você tem métodos mais efetivos, mais rápidos, você consegue muitas vezes anteceder a ação criminal.

MFC: Qual a relação entre a polícia a universidade nesse processo?

Adriana Okuma: Os peritos criminais atuam nos órgãos policiais e têm uma rotina muito intensa, então mesmo sendo capacitados, muitas vezes a rotina intensa não permite que desenvolvam processos e tecnologias novas. Para isso, a parceria com as universidades.

Curiosidades

Após a palestra, diversas perguntas foram feitas pelo público às professoras, mostrando a curiosidade despertada pelas ciências forenses. Confira alguns temas abordados:

– Tempo para análise de DNA no Brasil: Com um elevado índice de criminalidade e de análises, dependendo da coleta pode levar até um ano.

– Testes em novas drogas: Drogas encontradas não são provadas por peritos. Por apresentarem estrutura química muito similar a drogas já conhecidas, sabe-se quais são os efeitos.

– Melhores amostras para teste: O melhor tipo de amostra depende da janela de detecção. No caso de teste de drogas, e dependendo da substância, coleta-se: o sangue poucas horas após a ingestão; a urina após 12 a 24 horas do consumo; e o cabelo para histórico de até dois anos.

– No caso de um homicídio com simulação de suicídio, com uso de clorofórmio e arma de fogo, o que pode ser detectado: O clorofórmio pode ser observado em análise de sangue da vítima e parte do resíduo de pólvora da arma do disparo ficará na mão do suspeito.

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