A Terra é plana, e não redonda. Vacinas causam autismo. O aquecimento global é uma farsa inventada pela mídia. Você certamente já se deparou com alguma notícia que trouxesse essas informações. Mesmo sabendo que se tratam de fake news, pessoas tendem a acreditar em notícias falsas que circulam na internet. Mas por que isso acontece?
Durante a primeira noite do Pint Of Science 2018 que aconteceu nesta segunda-feira (14), Yurij Castelfranchi, físico e jornalista científico, afirmou que as chamadas fake news são produzidas e ganham força devido a questões políticas, econômicas e interesses pessoais. O cientista explica que há três tipos de mentiras. A primeira é a egoísta, aquela que é praticada para o benefício do sujeito, a outra é a a altruísta, a qual é contada para poupar o sentimento do outro. E a terceira é a chamada mentira azul que não beneficia uma determinada pessoa, mas agrada e fortalece o grupo ao qual aquela pessoa faz parte. É nesse tipo de mentira que se encontram as fake news.
Segundo Castelfranchi, o nível de conhecimento dos sujeitos envolvidos e a mídia não são os elementos mais importantes dessa questão, pois a disseminação de notícias falsas e a crença nessas informações estão ligadas aos valores morais das pessoas envolvidas. Há, portanto, duas variáveis a serem destacadas: a dissonância cognitiva, que é quando preferimos ter acesso a notícias que estão de acordo com nossas visões ou que nos agradam; e a atuação das pessoas nas redes sociais, ou seja, uma notícia, ainda que falsa, com muitas curtidas, comentários e compartilhamentos acaba ganhando relevância na web.
Espectro de confiabilidade
Durante o evento, Bruno Souza, professor adjunto e pesquisador do Núcleo de Neurociências da UFMG, defendeu que é muito difícil definir o que são fake news, pois elas existem dentro de um espectro de confiabilidade que está relacionado com a intenção do produtor daquela notícia. Tal espectro é dividido, segundo o cientista, entre paródia (a informação falsa é divulgada com intuito de gerar humor), falso contexto (a informação é verdadeira, mas é publicada em um contexto a qual ela não pertence), conteúdo impostor (uma informação falsa é atrelada a outras verdadeiras) e conteúdo fabricado (toda a notícia é falsa).
De acordo com os dois pesquisadores, a disseminação de notícias falsas é um problema para a ciência. Por isso é necessário adotar algumas medidas para que informações não causem prejuízos para a divulgação científica. Castelfranchi defende que a transparência dos sites de notícia e a necessidade de treinar as pessoas para identificar conteúdos falsos são caminhos para combater as fake news. “As notícias que devem ser pesquisadas e questionadas são aqueles que nos deixam feliz ou que coincidem com nossa visão política”, afirma o cientista.
Para Souza, é necessário honestidade na linguagem científica, além de demonstrar para os leitores que o conhecimento científico é feito por meio de paradigmas e de uma forma lenta. O imediatismo e frases do tipo “comprovado pela ciência” podem nos servir de alerta na hora de identificar uma notícia falsa.
Tudo isso foi abordado na palestra “Me engana que eu gosto: Fake News em pauta” comandada por Yurij Castelfranchi e Bruno Souza na Cantina do Lucas, um dos bares participantes do Pint Of Science 2018. O evento que acontece até o dia 16/05 em diversos bares da capital, também abordará temas como alimentação, botox, vírus entre outros. Acesse a programação completa do evento em http://pintofscience.com.br