No Brasil são produzidos cerca de 40 milhões de pneus por ano e quase metade dessa produção é descartada. O material é, muitas vezes, armazenado de forma inadequada servindo de criadouro para mosquitos como o Aedes-Aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
Uma alternativa para o reaproveitamento desse material foi proposta por uma pesquisa do Programa de pós-graduação em Engenharia de Biomateriais, da Universidade Federal de Lavras (UFLA). A ideia foi utilizar a borracha do pneu para produzir painéis de MDP (Medium Density Particleboard) e cimento-madeira.
O MDP é um painel constituído de partículas de madeira e adesivos, os quais são submetidos ao processo de pressão e temperatura. Seu uso é limitado em artigos de linha reta, como portas, prateleiras, gavetas, entre outros. Já os painéis cimento-madeira são muito utilizados na construção civil em países como Alemanha, Japão e Rússia; no Brasil, sua fabricação ainda é limitada.
Propriedades da borracha
Segundo o pesquisador Alan Pereira Vilela, para a produção dos painéis MDP e cimento-madeira foi utilizada a madeira de Pinus oocarpa em associação com partículas da borracha de pneu, modificadas com um tratamento chamado corona. Esse processo consiste em usar uma descarga elétrica contínua de alta tensão e frequência, que aumenta a capacidade de umedecimento da borracha. Assim, ela fica mais aderente a outros materiais.
A utilização de 5% de partículas de borracha de pneu modificada superficialmente gerou melhorias nas propriedades físico-mecânicas e de isolamento térmico de ambos os tipos de painéis avaliados.
O resíduo do pneu é um material que não absorve água, o que contribui de maneira positiva para o uso alternativo. “Esses MDP poderão ser usados na fabricação de móveis e, no caso do cimento-madeira, ele pode ser usado na construção civil em casas pré-fabricadas, divisórias internas de ambiente, forros, pisos. Lembrando que é um material que proporciona um melhor isolamento térmico do ambiente”, explica Alan Pereira.
Materiais alternativos
A fabricação de produtos com a utilização de resíduos da reciclagem de pneus ainda é pouco empregada no mercado brasileiro, conforme afirma o professor Rafael Farinassi Mendes, do Departamento de Engenharia (DEG), orientador da pesquisa. Para ele, é fundamental que a ciência proponha alternativas ecologicamente corretas para materiais como os pneus.
“As vantagens de utilizarmos os pneus se devem ao fato da destinação adequada do material – evitando o acúmulo de água e a relação com doenças – a agregação de valor, a disponibilização de novas fontes de matéria-prima e a obtenção de novas propriedades”, conclui.
Pesquisas com o uso de resíduos de pneus, tendo em vista seus diferentes tipos de aplicações, continuam sendo desenvolvidas pelo professor Rafael Farinassi e seus orientados de pós-graduação em Engenharia de Biomateriais. O próprio Alan Pereira, atualmente, desenvolve sua tese de doutorado com o aproveitamento de resíduos da extração de mineração para a criação de tijolos e outros materiais para a construção civil.
Com informações da assessoria de imprensa da UFLA.