Espaço da mulher no mercado de tecnologia

Um dos mercados mais promissores hoje, o setor de tecnologia e inovação é predominantemente masculino. Segundo dados da Harvard Business Review, 41% das mulheres que trabalham com tecnologia acabam deixando a área – para homens, a evasão no setor é de 17%. Uma pesquisa da agência de risco Standard & Poor’s apontou que apenas 20% das 100 maiores empresas do mundo tinha mulheres nos quadros de diretoria. Outro estudo, da Female Founders Fund, indicou que apenas 8% das startups que receberam investimento no Vale do Silício em 2016 eram lideradas por mulheres.

Mulheres fundam menos empresas, ocupam poucas posições de liderança e recebem menos investimentos nesse mercado. Comunidade que tem como objetivo fortalecer a presença feminina no setor de tecnologia, a She’s Tech conta com mais de 600 membros entre Ceo’s, desenvolvedoras, empreendedoras, lideranças femininas e agentes de aceleração do San Pedro Valley, em Belo Horizonte. A proposta é inspirar, engajar e capacitar mulheres a empreenderem em carreiras e em negócios com base tecnológica.

A fundadora da She’s Tech, Ciranda de Morais, conversou com a Minas Faz Ciência sobre a presença feminina no setor de tecnologia. Ciranda é também co-organizadora do Google Business Group BH e membro do Observatório de Gênero e Raça de Minas Gerais.

Ciranda de Morais / Arquivo pessoal

MFC: DE QUE FORMA A SHE’S TECH PRETENDE CONTRIBUIR PARA FORTALECER A PRESENÇA DA MULHER NO SETOR DE TECNOLOGIA?

CM: Trabalhando em nossos três pilares de atuação: representatividade, dando visibilidade às mulheres que já estão no setor; conscientização do mercado, através de eventos e workshops que tratam do comportamento das empresas e do comportamento empreendedor feminino; e a auto aceleração, pois acreditamos que o engajamento em uma rede faz com que a troca de conhecimento e de experiências se torne um meio de potencializar a presença e as ações de cada uma no setor. Nosso objetivo é trabalhar para desmistificar a tecnologia como um setor masculino.

MFC: O QUE CONTRIBUI PARA O MOVIMENTO DE INSERÇÃO DA MULHER NOS AMBIENTES DE DESENVOLVIMENTO E TECNOLOGIA NOS ÚLTIMOS ANOS?

CM: O movimento feminista vem ganhando força mundialmente em todas as áreas. Mas especificamente nas áreas de tecnologia! Isso porque pesquisas comprovam que a diversidade na equipe proporciona um ambiente adequado à inovação. A diversidade hoje, vista como diferencial competitivo, fez com que a preocupação com a inserção de mulheres seja real e que a inclusão se torne um grande valor.

MFC: E DESSE MOVIMENTO, JÁ SE VEEM RESULTADOS? O QUE VOCÊ OBSERVA EM MINAS GERAIS E NO BRASIL?

CM: Tanto em Minas como no Brasil, já observamos o surgimento de várias iniciativas relativas ao fortalecimento da presença das mulheres no setor. As mulheres descobriram que unidas são mais fortes para enfrentar as barreiras para entrar e estar nesse mercado. E isso vem acontecendo no mundo em geral. É uma construção diária e uma jornada longa em um mercado que tem 92% de homens.

MFC: QUAIS SÃO AS DIFICULDADES ENFRENTADAS POR MULHERES PARA INSERÇÃO NO MERCADO DE TECNOLOGIA?

CM: É um mercado ainda dominado por homens. Podemos citar as “portas de vidro” que são as barreiras invisíveis que impedem que a mulher esteja nesse mercado em um número mais relevante.

Os desafios de se iniciar uma carreira ou negócio no mercado de tecnologia são iguais para homens ou mulheres? Ou deveriam ser? O importante deveria ser apenas a execução. Mas existem barreiras culturais a serem ultrapassadas. Desde pequenas, fomos e somos afastadas da tecnologia, dos brinquedos que estimulam a lógica e as ciências exatas. Acredita-se que esse afastamento aconteceu a partir de 1984, quando surgiram os computadores pessoais e eles se tornaram brinquedos de meninos, enquanto as meninas continuaram brincando com casinhas, bonecas, vassouras ou fogões.

Meninas e meninos devem ser tratados como iguais desde pequenos, desde a escola. As estudantes de cursos ligados à Ciência da Computação sofrem preconceito durante a universidade. São perguntadas até mesmo por professores como conseguiram chegar ao 4º período do curso, ou porque ainda não desistiram. Já no mercado, ouvimos de colegas de trabalho: “Não sei lidar com desenvolvedora que sabe mais que eu”; ou de um CEO de uma grande empresa “Agora não existem mais Marias Chuteiras e sim Marias Startups”.

Uma vez li um depoimento de uma empreendedora que me marcou muito. Da Mariana Vasconcelos da Agrosmart. Ela dizia que, em uma viagem ao Vale do Silício, participou de um evento de startups e ela era a única mulher durante uma rodada de negócios. Os investidores não paravam na mesa dela. Eles simplesmente pulavam para a próxima! Isso no vale do Silício! São situações que as mulheres vivem cotidianamente nesse universo.

MFC: QUAIS SÃO POSSÍVEIS AÇÕES E SOLUÇÕES PARA TRANSFORMAR ESSE QUADRO?

CM: É nossa responsabilidade reverter essa desvantagem estimulando outras habilidades nas meninas para que, nas próximas gerações, a mulher ocupe culturalmente, desde cedo, seu espaço no setor de tecnologia.

Precisamos de políticas públicas que fomentem o interesse feminino por campos como a tecnologia e a inovação, mas também precisamos trabalhar a conscientização do mercado para evitar que as barreiras citadas continuem se perpetuando.

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