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As pimentas ornamentais comestíveis, cultivadas em vasos, estão em alta na decoração de ambientes. Elas cumprem a dupla função de encantar os jardins e incrementar uma pitada de sabor à mesa. Há quem diga, também, que espantam mau-olhado.

Por isso, cientistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV) decidiram pesquisar os tipos de pimenta que mais se adaptam ao cultivo em vasos. Ademais, estão cruzando genótipos em laboratório para identificar plantas que cumpram a dupla função de forma excelente.

A pesquisa começou há cerca de 10 anos, quando o cientista Fernando Luiz Finger observou que o comércio de plantas ornamentais, principalmente em São Paulo, estava crescendo. Em visitas à cidade de Holambra, um polo produtor de flores e plantas ornamentais, e à Ceasa de Campinas, percebeu a grande demanda dos consumidores. No entanto, ao olhar do pesquisador era preciso melhorar a durabilidade dessas pimentas ornamentais.

“Quanto visitava esses lugares, percebia que muitas plantas já estavam com quedas de folhas ou amareladas”, conta. Segundo Finger, isso ocorre por causa do etileno, o hormônio de amadurecimento dos vegetais. A ação desse gás pode causar a morte precoce de plantas.

Soluções no laboratório

O pesquisador recolheu amostras de pimentas cultiváveis em vasos no banco de germoplasma da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Viçosa. Esse “reservatório” é uma infraestrutura científica destinada a conservar o patrimônio genético das plantas, sob a forma de sementes, DNA e tecidos.

Foto: Fernando Luiz Finger/Arquivo Pessoal

Depois, iniciou em laboratório o cruzamento de variedades combinando características. Os cientistas escolhem uma planta com tendência ornamental e implementam resistência a etileno, por exemplo. Assim, seria uma pimenta bonita e durável. Há outros tipos de combinação de características.

No Brasil, quatro pimentas domésticas são mais comuns: a espécie capsicum annuum, que tem o jalapenho como exemplo e dá origem a especiarias como pimenta caiena e páprica; a capsicum chinense, que têm cheiro cítrico e inclui a variedade pimenta de bode; a capsicum frutescens, espécie da conhecida e apreciada pimenta malagueta; e a capsicum baccatum, endêmica na Região Sudeste e tem como variedades a dedo-de-moça e cambuci.

“As espécies são parecidas, o que diferencia é a morfologia floral. Todas essas servem para plantar em vaso, mas nem todas ficam com uma característica ornamental”, explica o pesquisador.

O trabalho hoje tem parceria com pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba. A ideia é usar reguladores de crescimento para fazer plantas de pequeno porte. “É possível que plantas não adequadas ao cultivo em vaso, acabem ficando adaptadas. Tenho uma orientanda de doutorado fazendo cruzamentos de várias pimentas diferentes, de uma coleção que eu tinha, para obter plantas de pequeno porte, com frutos coloridos, diversas ardências – ideias para decoração e consumo”, relata Finger.

“Uh! Uh! Uh! Que Beleza!”

O pesquisador apresentou este trabalho em um congresso internacional e surpreendeu os estrangeiros quando contou sobre a superstição dos brasileiros em relação às pimentas. Segundo Finger, a história de espantar mau-olhado é um atrativo adicional, mas os pesquisadores focam mesmo é na aparência.

“A beleza é o primeiro passo que a gente procura. A pimenta tem que ser atrativa e com frutos coloridos. Em Holambra já existem padrões de plantas. Elas precisam ter cerca de 20 centímetros de altura, copa arredondada e cobrir o vaso todo”, explica o cientista.

Foto: Fernando Luiz Finger/Arquivo Pessoal

O ideal, segundo Finger, é que as pimentas se acomodem em vasos de no máximo 700 ml de volume. Assim, fica mais fácil transportar e servem para decoração externa em jardins ou de mesas. É preciso aliar durabilidade, folhas verdes, frutos eretos e bem expostos.

“A biquinho, por exemplo, é uma espécie capsicum chinense, mas não fica bacana para cultivar em vaso. Os frutos são pendentes, não eretos. Isso tira a ornamentação. Apesar de poder ser cultivada em vaso, não é tão vistosa” afirma o cientista.

Hoje, os pesquisadores da UFV já identificaram cerca de 20 plantas com aspectos ideais de cultivo em vaso. Elas podem ser usadas em cruzamentos que ajudarão a fixar essas características para próximas gerações.

Finger vislumbra que a ideia de pensar as pimentas com a finalidade de ornamentação chegue a pequenos produtores. “Um agricultor que cultiva para fazer molho de pimenta pode ter uma lucratividade pequena, porque é um produto barato. O valor agregado ao vaso ornamental é bem maior”.

ESTAMOS FAZENDO UMA PESQUISA. PARA PARTICIPAR, BASTA CLICAR NA IMAGEM ABAIXO.

Luana Cruz

Mãe de gêmeos, doutoranda e mestre em Estudos de Linguagens pelo Cefet-MG. Jornalista graduada pela PUC Minas. É professora em cursos de graduação e pós-graduação na Newton Paiva, PUC Minas, UniBH e ESP-MG. Escreve para os sites Minas Faz Ciência e gerencia conteúdo nas redes sociais, além de colaborar com a revista Minas Faz Ciência.

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