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Ciência e Pesquisa em busca da valorização de comunidades tradicionais brasileiras. Foto: Divulgação Nissa/Unimontes

Cientistas de 11 universidades estão envolvidos em um grande projeto de mapeamento, conhecimento e valorização de povos tradicionais brasileiros. Pesquisadores da Unimontes fazem parte do Grupo de Pesquisa do Brasil Central que promove esse resgate de territorialidade e tradições. As pesquisas são vinculadas ao projeto Nova Cartografia Social da Amazônia que visa destacar manifestações de identidades coletivas dessas comunidades.

O foco em Minas é o trabalho com as comunidades que vivem no entorno do Rio São Francisco, no norte do estado. Entre outubro de 2017 e janeiro de 2018, os integrantes dos povos tradicionais participaram de uma série de discussões promovidas pela Unimontes, sobre temas como cultura, memória e impactos do agronegócio. Eles se envolveram em oficinas sobre de georreferenciamento e mapas, além de atividades de comunicação e imagens, com noções de entrevistas, fotografias e da utilização das redes sociais.

Oficinas com vazanteiros. Foto: Divulgação Nissa/Unimontes

Os dados coletados foram reunidos ao conhecimento já produzido pelo Grupo de Pesquisa do Brasil Central. A ideia é que as informações ajudem na construção coletiva do mapa e do croqui das comunidades e da articulação “Vazanteiros em Movimento”.

As professoras Andrea Narciso e Felisa Anaya, do Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental (NIISA) da Unimontes são as coordenadoras. Elas também atuam como docentes do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social. Elas reafirmam que o objetivo principal é o mapeamento social dos efeitos da expansão do agronegócio sobre os processos diferenciados de territorialização, além da tentativa de dar visibilidade a esses grupos.

Grupo de Pesquisa do Brasil Central

O grupo é composto de associações de povos e comunidades tradicionais e de pesquisadores acadêmicos de 11 universidades públicas de Minas, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Pará, Amazonas e Tocantins – além da associação voluntária da sociedade civil (Alternativa para a Pequena Agricultura no Tocantins (Apato). As instituições participantes são lideradas pelo Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia (PPGCSPA), da Universidade Estadual do Maranhão.

O trabalho de pesquisa analisa os efeitos das políticas governamentais e das agroestratégias, elaboradas por conglomerados econômicos voltados para a produção de commodities agrícolas, destinadas principalmente ao mercado internacional.

A abrangência da pesquisa compreende regiões designadas como “cerrado” e “caatinga”, consoante critérios de bioma; “semiárido”, de acordo com critérios climáticos, ou “sertão”, conforme critérios geográficos e de planejamento regional. Essas áreas compõem uma grande região definida para efeitos desta investigação científica como “Brasil Central”.

Trabalho feito com vazanteiros da Bacia Média Sanfranciscana, no Norte de Minas. Foto: Divulgação Nissa/Unimontes

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA)

Desde 2005, o projeto elabora a auto-cartografia de comunidades tradicionais na Amazônia e se estende aos povos do chamado “Brasil Central”. Com o material produzido, há mais conhecimento sobre o processo de ocupação das regiões e um fortalecimento dos movimentos sociais que nelas existem.

A cartografia se mostra como um elemento de combate. A produção é um dos momentos possíveis para a autoafirmação social. É nesse sentido que o PNCSA busca materializar a manifestação da auto-cartografia dos povos e comunidades nos fascículos que publica, que não só pretendem fortalecer os movimentos, mas o fazem mediante a transparência de suas expressões culturais diversas.

Trabalho feito com vazanteiros da Bacia Média Sanfranciscana, no Norte de Minas. Foto: Divulgação Nissa/Unimontes

Como resultado das pesquisas, são montados fascículos e boletins informativos baseados em produções dos próprios agentes das comunidades. Eles fazem mapas, entrevistas, histórias, ilustrações e croquis que são transformados pelos pesquisadores no material para compor o fascículo.

Na Unimontes, o trabalho com os vazanteiros resultou na proposta a elaboração do boletim informativo, com o mapeamento social da Bacia Média Sanfranciscana, no Norte de Minas, e a produção de um fascículo referente à comunidade tradicional de Pau de Légua. Esses povos estão sobrepostos pelo Parque Estadual da Mata Seca (município de Manga). Também há uma proposta  para construção de fascículo referente à comunidade Buriti do Meio.

Trabalho feito com vazanteiros da Bacia Média Sanfranciscana, no Norte de Minas. Foto: Divulgação Nissa/Unimontes

Outras pesquisas

Na Unimontes, são desenvolvidas outras pesquisas sobre territórios e povos tradicionais. A professora Anete Marília Pereira coordenou o projeto Território das águas no norte de Minas Gerais: os povos indígenas Xakriabá, apoiado pela FAPEMIG. Cientistas investigaram a relação cultural desse grupo com o Rio São Francisco e apontaram os problemas da demarcação da reserva indígena em uma região não ribeirinha.

Segundo a pesquisadora, a reserva Xakriabá foi colocada distante do São Francisco, o que é ruim. O grupo fica dentro da unidade de conservação Mosaico Sertão Veredas do Peruaçu. “A gente vê uma sobreposição de terra indígena e unidade de conservação. Nessa área de conservação tem o Rio Peruaçu e o Parque Peruaçu que é uma unidade de conservação. O uso disso pelos índios gera conflito. A conservação é necessária, mas antes disso o índio já vivia ali com seu extrativismo, que agora fica impedido. Eles não podem extrair do Peruaçu”, explica Anete.

Historicamente, a comunidade vive de atividades que necessitam da água como agricultura familiar e extrativismo. A população Xakriabá tem cerca de 7 mil indivíduos. São 11 aldeias que hoje necessitam da perfuração de poços porque a reserva não tem um rio com o potencial do São Francisco, conforme explica a pesquisadora.

“É como se tivessem sido empurrados da margem do rio. O São Francisco tem significado diferente para os Xakriabá. Tem significado simbólico, de ritos da cultura deles. Nossa análise foi pensar o território desse povo longe da água que é cheia de simbolismos e fonte de sobrevivência.”

Luana Cruz

Mãe de gêmeos, doutoranda e mestre em Estudos de Linguagens pelo Cefet-MG. Jornalista graduada pela PUC Minas. É professora em cursos de graduação e pós-graduação.

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