Quando programação vira coisa de criança
Diante dos avanços tecnológicos alcançados por meio do desenvolvimento da programação de computadores e da internet, muitas experiências humanas e a forma de nos relacionarmos com o mundo tiveram sua lógica repensada, o que impactou diretamente todas as idades.
As brincadeiras se tornaram outras, a comunicação se refez em grande parte e a forma como resolvemos os nossos problemas agora passam quase sempre por algum software ou aplicativo que nos auxilie.
A percepção de que esse caminho de progresso é uma via possível e necessária também desperta o potencial criativo daqueles com vontade de participar ativamente do projeto de “mudar as coisas” no mundo.
Segundo essa caminho, possibilitar o ingresso do indivíduo a esse cenário dos algoritmos de computador cada vez mais cedo pode ser uma boa pedida. Por isso, o número de escolas voltadas ao ensino de programação para crianças em Belo Horizonte, por exemplo, não para de crescer, contando com diversas atividades para os pequenos à partir de cinco anos de idade.
Entre as diversas razões para o crescimento do ramo, Bruna Ribeiro, gestora de uma dessas escolas em BH, destaca o desenvolvimento da criatividade como um grande diferencial . Para ela, o aluno é levado a uma mudança de perspectiva. “As crianças já tem contato com celulares, tablets e computadores desde os 3 anos, então porque não direcionar esse interesse para ao invés de ficar o tempo todo em joguinhos, começar a trabalhar a tecnologia de forma mais estrutural, entendendo como ela funciona?” A escola representada por ela tem a expectativa de alcançar a marca de 15 mil alunos em todo o país até o fim de 2018, grande parte deles na capital mineira.
Ainda segundo Bruna, a iniciativa de propor uma linguagem própria e adequada à realidade dos pequenos começou no Reino Unido, primeiro país a incluir a programação no currículo escolar. Por meio de games abstratos, atividades makers (a lógica do faça você mesmo) e desafios adequados a idade, foram introduzidos conceitos que estimulavam a criatividade desde cedo.
O conceito makers, afirma João Paulo, engenheiro de computação e profissional também ligado às atividades de programação para os pequenos, traz a ideia de que a criança deve usar as próprias mãos no processo de criação, “fazer as coisas por ela mesma ao invés de pegar tudo pronto. Envolve coisas com apelo manual, também muito utilizado em escolas de robótica. Projetos como pianos, carrinhos de controle remoto, drones e mini computadores são exemplos do que é possível fazer”.
Ele também destaca como a iniciativa de ensinar programação desde cedo vai de encontro a um anseio dos pais em países desenvolvidos por exemplo. ” De acordo com a Code.Org, organização sem fins lucrativos financiada pelo Bill Gates e Mark Zuckerberg: 90% dos pais americanos querem que as crianças aprendam programação na escola regular”. Como a realidade brasileira não possibilita atualmente iniciativas como essa, as escolas de programação surgem como uma alternativa para viabilizar esse desenvolvimento.
Da terra da rainha para escolas do mundo inteiro, as vantagens percebidas se revelam também em outras áreas de estudo. Para a gestora Bruna, a percepção de muitos pais concorda com essa afirmação. “Em muitos casos, eles nos relatam que a criança melhora suas notas não só em matemática, mas também em disciplinas de humanas e biológicas, pois com o treinamento da lógica, um conceito que geralmente não é trabalhado hoje nas escolas regulares, a criança ganha uma melhor capacidade de resolução de problemas“.
As ferramentas utilizadas e as próprias linguagens de programação também favorecem um outro aprendizado: O de um novo idioma, uma vez que a grande maioria foi estruturalmente projetada em inglês. A prática se mostra capaz de tornar a nova língua cada vez mais familiar, revelando mais um ganho possível no contato com a atividade desde a infância.
O desenvolvimento
Embora a tarefa seja tornar os conceitos mais claros e aproximá-los da realidade infantil, as avaliações e os trabalhos passados atestam a aquisição de conhecimento de forma sólida e madura. Os alunos são orientados a desenvolver atividades de conclusão dos módulos se utilizando de todos os artifícios aprendidos nas aulas, mas tudo dentro de uma lógica de liberdade para criação.
“Muitos alunos desenvolveram dispositivos eletrônicos para irrigar plantas automaticamente e assim estudaram sobre as plantas, outros já criaram aplicativos para área de saúde”, conclui Bruna apontando os inúmeros caminhos possíveis.
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