Em dois ou três anos, poderemos brindar o Natal e o Ano Novo com novos espumantes produzidos em terras mineiras. Na cidade de Caldas, no sul do Estado, uvas recém-colhidas, já em fase de processamento, são promissoras.
“Para esta safra em particular, acredito que teremos espumantes com boa qualidade. Neste verão, não estão ocorrendo muitas chuvas na Serra da Mantiqueira, o que proporciona ótima maturação à uva”, afirma Isabela Peregrino, enóloga do Núcleo Tecnológico Epamig Uva e Vinho, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Ela estima que o volume produzido seja de 25 a 30 mil litros.
Para quem a produção de vinhos borbulhantes em território mineiro ainda é novidade, o Estado produziu o primeiro espumante em 2010, num vinhedo localizado em Andradas. A fronteira entre Minas e São Paulo já é reconhecida como um novo polo vinícola nacional, o primeiro do Sudeste.
As condições topográficas e climáticas — dias ensolarados, noites frias e solo seco — contribuem para o desenvolvimento da atividade. Mas não só: pesquisas e tecnologias desenvolvidas há décadas na vinícola experimental da Epamig têm papel fundamental.
A nova safra de uvas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling, por exemplo, usadas na produção de espumantes e vinho branco, resulta de mudas produzidas pela enxertia de mesa. Comumente usada nos países produtores de vinho e adaptada pelo Núcleo Tecnológico da Epamig em Caldas, ela consiste na implantação de enxertos de variedades mais sujeitas a doenças e pragas em outras mais resistentes, em laboratório. Outra inovação é a dupla poda, que inverte o ciclo produtivo da videira e altera para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à vitivinicultura.
Além de disponibilizar mudas de qualidade, desenvolver tecnologias de manejo e oferecer suporte técnico aos produtores, a Epamig atua ao longo de todo o processo de produção do vinho. Como explica a enóloga Isabela Peregrino, no caso dos espumantes, primeiramente as uvas são prensadas e o sumo obtido, chamado de mosto, passa pelo processo de fermentação. O vinho base pode levar de cinco a seis meses para ficar pronto. Depois, ele será clarificado, estabilizado, filtrado e preparado para a segunda fermentação em garrafa — a champenoise. Então, a bebida permanece em repouso por um período de dois a três anos, até que esteja pronta para o consumo.
CONFIRA AS ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS REALIZADAS EM CADA UMA DAS ETAPAS DE PRODUÇÃO DO VINHO:
UVAS
Medição do grau Brix (índice de sólidos solúveis totais, principalmente açúcar), acidez total e pH.
MOSTO
Repetição dos processos anteriores e análise diária da densidade e da temperatura durante a fermentação alcoólica. À medida que o açúcar é transformado em álcool, a densidade diminui.
VINHO
Terminada a fermentação, são feitas análises de teor alcoólico, açúcar residual, pH, acidez total e acidez volátil. Ao longo do processo de estabilização, o teor de dióxido de enxofre (SO2) livre, que é o conservador adicionado ao vinho, é monitorado. Antes e depois das clarificações e filtragens, a turbidez do vinho também é analisada e ajuda a balizar a correta realização de cada uma das etapas.