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Paula Branco Morais iniciou sua trajetória na educação especial na década de 90, com a chegada de um filho cego.

“No momento da alfabetização dele, a escola me convidou para aprender o braille e auxiliá-lo no processo. Eu me encantei e procurei me aprofundar no assunto”.

Hoje, ela está à frente da Coordenação de Comunicação Assistiva: Libras e Braille da PUC Minas e conversou com a Minas Faz Ciência sobre inclusão, acessibilidade e novas tecnologias para o ensino de pessoas com deficiência.

Conversamos com Paula sobre o cenário da educação especial, os desafios e os caminhos a serem percorridos por educadores que querem um espaço mais inclusivo e acessível.

Minas Faz Ciência: Conte um pouco sobre sua trajetória na educação inclusiva

Paula em atividade na PUC Minas. Ao fundo, painel com o alfabeto em braille. Foto: Arquivo Pessoal

Paula Morais: Sou formada em Pedagogia e, na época da alfabetização do meu filho, fui convidada a trabalhar com projetos na Associação de Amigos do Instituto São Rafael (1998). Lá, tomei consciência de todas as questões ligadas à acessibilidade e à inclusão de pessoas cegas.

Passei por diversos cargos de supervisão pedagógica, braillista, professora de orientação e mobilidade itinerante, professora de estimulação precoce, adaptadora de material e vice-diretora.

No início dos anos 2000, fui em busca de uma especialização na área e concluí minha pós-graduação em Educação Especial (2001) e Educação Inclusiva (2003), depois fui dar aulas para o ensino superior.

Na PUC Minas, dou disciplinas ligadas ao Sistema Braille e à deficiência visual.

MFC: Como é seu trabalho atual na PUC e qual a interface com as questões tecnológicas?

PM: É um curso tecnólogo que forma Intérprete de Libras, Braillista e Guia Intérprete para dar suporte às pessoas surdas, cegas e surdocegas respectivamente.

Utilizamos tecnologias como a Língua de Sinais Brasileira (Libras), o Sistema Braille e Libras Tátil, Alfabeto Manual, dentre outros para a acessibilidade comunicacional do surdocego.

MFC: Sua pesquisa de mestrado trata do conceito de desbraillização, em que ele consiste?

PM: Desbraillização é um fenômeno que vem acontecendo atualmente, que consiste na subutilização do Sistema Braille em decorrência dos recursos tecnológicos em áudio.

Por uma série de fatores, tais como falta de preparo dos professore, tempo de produção e custos, o Sistema Braille tem sido substituído por recursos em áudio e até mesmo leitores humanos.

Um dos impactos é que o aluno com deficiência visual perde o contato com a palavra escrita, trazendo uma série de prejuízos para o seu processo educacional.

MFC: Diante desse cenário, quais os maiores desafios da educação especial e inclusiva hoje?

PM: A falta de formação dos professores, bem como a falta de acessibilidade dos espaços, representam um grande desafio para a inclusão de pessoas com necessidades especiais.

Mas o maior desafio é a falta de vontade e de interesse dos profissionais da educação para lidar com a inclusão. As leis existem, mas não são cumpridas, e os profissionais da educação não encaram essa situação como um desafio e sim como um problema.

Comemorações do Dia Nacional do Braille. Foto: acervo pessoal

MFC: O que há de mais inovador ou que tendências têm se fortalecido no ensino de estudantes com deficiência no Brasil?

PM: A tecnologia é, sem dúvida, uma grande aliada das pessoas com deficiência, promovendo o acesso à informação e facilitando a continuidade do processo educacional.

A mídia também traz uma grande contribuição com a disseminação de informações.

Mas, no meu entendimento, a universidade representa um espaço muito importante de formação, reflexão e de pesquisa para tornar a inclusão uma realidade.

Leia também sobre o uso de ferramentas táteis no ensino de física para pessoas cegas.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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