No fim da semana passada, o governo Temer derrubou, por meio de um decreto, com uma regra que permitia que uma extensa reserva de cobre − a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) − na Amazônia pudesse ser explorada apenas pelo Estado. Com o tal decreto, as grandes mineradoras privadas teriam, portanto, o caminho livre para a exploração mineral na área.
Entretanto, a medida de Michel Temer gerou uma repercussão negativa o que fez com que artistas, personalidades, políticos e ambientalistas se posicionasse contra o decreto, uma vez que a exploração da área pode resultar na perda da biodiversidade, gerando problemas ambientais irreversíveis.
Em resposta ao descontentamento da população, Temer mudou de ideia e decidiu revogar a decisão, publicando um novo texto. Contudo, o novo decreto apenas deixa claro algumas regras já previstas na legislação brasileira e, portanto, não modifica a questão central do problema. Na manhã da quarta-feira (30), a Justiça Federal acolheu parcialmente uma liminar para suspender imediatamente todo e qualquer ato administrativo tendente a extinguir a Renca.
Com o desenrolar dessa novela que parece não estar próxima do fim, as questões ambientais foram ganhando espaço nos debates públicos principalmente via redes sociais. Porém, por mais que se fale de unidades de conservação, biodiversidade e degradação ao meio ambiente, ainda há lacunas nos estudos ambientais que podem comprometer a construção de políticas efetivas.
Precisamos de mais unidades de conservação?
Um artigo escrito por pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado recentemente pela revista Nature mostra que ainda se sabe muito poucos sobre unidades de conservação no país, principalmente, em relação à biodiversidade.
Sob o comando de Ubirajara Oliveira, a pesquisa procurou investigar até que ponto as unidades de conservação estão realizando o seu papel de proteção na biodiversidade. Para isso, os cientistas criaram um grande banco de dados sobre a biodiversidade brasileira e analisaram o grau de conhecimento sobre a biodiversidade nas unidades de conservação e o quanto essas unidades protegem a biodiversidade.
“Existem diferentes tipos de unidades de conservação, nas de uso restrito ou proteção integral são permitidas apenas atividades de impacto mínimo ao meio ambiente como pesquisa e turismo controlado. Nas de uso sustentável, são permitidas atividades extrativistas por meio de comunidades locais desde que sejam feitas de forma sustentável. As terras indígenas são destinadas a manutenção de povos indígenas e suas atividades extrativistas, mas também desempenham um importante papel na manutenção da diversidade” explica Ubirajara Oliveira.
A partir da criação do banco de dados e posterior análise, o grupo de pesquisadores chegou à conclusão de que mais de 50% das 24 mil espécies estudadas não se encontram em unidades de conservação. Constatou-se também que as terras indígenas juntamente com as unidades de uso sustentável protegem uma parcela considerável das espécies que encontram-se dentro de unidades de conservação.
Além disso, a pesquisa mostrou que as terras indígenas representam uma grande importância na proteção de espécies endêmicas na região da Amazônia, o que é fundamental para a conservação da biodiversidade nesse ambiente. “Vimos, por fim, que é necessário que sejam criadas mais unidades de conservação para que a biodiversidade e seus recursos sejam conservados”, defende Oliveira.