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Cascavel - Crotalus durissus, espécie peçonhenta e muito popular. O guizo ou chocalho na ponta de sua cauda vibra na presença de predadores, como um tentativa de intimidação. Foto de Renato Augusto Martins. Reprodução / Wikimedia Commons

Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o Laboratório de Bioquímica e Toxinas Animais (LaBiTox) está focado no isolamento de toxinas presentes em peçonhas de serpentes. Eles fazem isso por uma boa causa: investigar o potencial farmacológico e terapêutico dessas moléculas.

O laboratório desenvolve pesquisas relacionadas ao tratamento de doenças, sob a coordenação de professoras do Instituto de Genética e Bioquímica (Ingeb). Em uma dessas pesquisas, a capacidade antitumoral de um elemento presente no soro da serpente Crotalus durissus collilineatus, popularmente conhecida como cascavel, foi descoberto.

Percurso da pesquisa

O estudo é realizado pela doutoranda Sarah Gimenes, sob a orientação da professora Veridiana de Melo Rodrigues Ávila, e teve início com o projeto de iniciação científica da aluna, ainda durante sua graduação em Ciências Biológicas na UFU. Nessa primeira fase, o trabalho realizado foi de purificar o soro retirado da cascavel.

Até então, já era descrito na literatura na área que essas serpentes produzem proteínas circulantes no sangue que têm a capacidade de neutralizar o próprio veneno, caso ocorra um “autoacidente”.

“Começamos a testar com os venenos que já tínhamos em laboratório, fizemos os testes de incubar o soro com o veneno e ver as ações inerentes a ele. Vimos que o soro da serpente neutralizava algumas atividades”, relata a pesquisadora.

Com o fim da graduação, Gimenes deu continuidade à pesquisa durante seu mestrado em Genética e Bioquímica na universidade.

O próximo passo foi identificar qual era o elemento presente no soro capaz de inibir as ações do veneno e, para isso, as pesquisadoras utilizaram técnicas de caracterização da estrutura e funcionalidade dele, com a intenção de “demonstrar que o inibidor era capaz de reconhecer e diminuir a atividade tóxica de Fosfolipases A2 presentes na peçonha das serpentes”, explica.

[quote align=’left’]A Fosfolipase A2 é uma enzima que está presente no veneno das serpentes e também nas células tumorais, sendo que o principal mecanismo de ação dessa molécula é inflamatório. “Então pensamos: se a molécula inibe as fosfolipases A2 das serpentes, será que não inibiria outros tipos de fosfolipases?”, conta a professora.[/quote]

Potencial terapêutico para o tratamento do câncer de mama

No doutorado de Gimenes, a pesquisa se voltou para a ampliação da aplicabilidade terapêutica do inibidor, com testes em células tumorais humanas in vitro, especialmente células do câncer de mama.

“Foi possível entender melhor o efeito antitumoral do inibidor e demonstrar que, além de não ser tóxico para as células normais, ele atua preferencialmente em células tumorais do câncer de mama, levando células ‘doentes’ a um estado de inibição da sobrevivência e indução de estado de morte programada”.

[infobox title=’Patente’]Nove anos depois do início da pesquisa, o inibidor descoberto recebeu o nome γCdcPLI e teve sua patente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), com registro de todos seus potenciais efeitos. [/infobox]

Processo para desenvolver medicamentos é lento e complexo

Procedimento de coleta de sangue dos animais. Realizado por veterinários com a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Comissão de Ética na Utilização de Animais (CEUA). Foto: Arquivo da pesquisadora / Reprodução UFU

Gimenes está na Universidade de Salzburg, na Áustria, finalizando seu doutorado. Lá ela desenvolve projeto para a produção heteróloga do γCdcPLI.

Isso significa que ela tenta, a partir de ferramentas da biotecnologia e biologia molecular, criar o inibidor em laboratório por meio de bactérias.

Essa produção possibilitaria avançar na pesquisa e aprofundar os estudos para entender os mecanismos de atuação do inibidor.

“Para a execução de testes in vivo, é preciso uma quantidade maior da proteína, que nós não conseguimos a partir do soro das serpentes”, afirma.

Diante da possibilidade do desenvolvimento de medicamentos para o tratamento do câncer de mama, Ávila explica:

“Para que possam ser diretamente utilizados para a cura de uma doença, há um caminho longo. Os estudos geram conhecimento para que a indústria farmacêutica possa gerar novos fármacos, com ações diferenciadas. Estamos no caminho, gerando e demonstrando o potencial dessas moléculas, que são produtos da natureza. Quem sabe, a partir daí, possam ser criados medicamentos que serão usados pela sociedade”.

Com informações da Assessoria de Imprensa da UFU.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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