As metáforas da física (e vice-versa)


Publicado em 18/04/2017 às 13:26 | Por Maurício Guilherme Silva Jr

Misteriosíssimos labirintos se entrecruzam.

De um lado, a fascinante e babilônica ficção do escritor argentino Jorge Luis Borges; de outro, as “poéticas” e múltiplas leis da mecânica quântica e seu “mundo microscópico”.

O que prever de tal confluência de construções labirínticas?

No caso dos leitores de Borges e a mecânica quântica, livro lançado em 2011 pela Editora Unicamp e que reúne textos de Alberto Rojo, professor da Oakland University, instituição sediada em Michigan, há que se esperar uma tríade de possibilidades: conhecimento, arte e – por que, não? – divertimento.

Traduzido por Márcia Aguiar Coelho, o livro de Rojo – cujo título original, El jardín de los mundos que se ramifican: Borges e la mecánica cuántica, remonta diretamente ao clássico conto do grande autor argentino – acaba por aproximar os leitores, mesmo os mais leigos, de um “universo dúbio” e (por isso, mesmo) assaz instigante, em que se relevam, de modo leve e espontâneo, a “poesia da física” e, ao mesmo tempo, a “física da poesia”.

Neste sentido, para além da relação entre as escrituras de Borges e os preceitos quânticos, o “cardápio” de temas desenvolvidos por Rojo apresenta-se extenso, como se pode perceber pelos títulos de alguns dos textos reunidos no livro: “Literatura e ciência”; “Eistein, 1905”; “Teletransporte”; “Aquarelas de Galileu”; “A parte e o todo”; “Acasos cotidianos”, “Física nos tangos” ou “A parábola do jorro d’água”.

Diante de tais comentários sobre o tempo e suas composições – da ciência à literatura; da história à física –, muito haverá a ser saboreado por todo aquele que, fascinado por “labirintos”, busque mistérios sob os véus da vida.

Leia um trecho:

“Entretanto, onde estão todos esses universos? Uma resposta é que podem estar ‘aqui’, onde está ‘nosso’ universo. Segundo a teoria, esses universos não interagem, de maneira que não há razão para excluir a possibilidade de que estejam ocupando o mesmo espaço. Outra resposta é que os universos estejam ‘empilhados’ em uma dimensão adicional da qual nada sabemos. Essa possibilidade deve distinguir-se das ‘infinitas dimensões de tempo’ das quais Borges fala em seu ensaio sobre J. W. Dunne, em Outras inquisições. Segundo Dunne, cujos escritos são, aliás, a inspiração da ideia de que o tempo se bifurca, essas dimensões são espaciais, e inclusive ele chega a falar de um tempo perpendicular a outro. Essa ‘geometrização’ não é válida para a teoria dos muitos mundos, e é certamente distinta do tempo ramificado de Ts’ui Pên.”

Ficha técnica:


Livro:
Borges e a mecânica quântica

Autor: Alberto Rojo

Tradução: Márcia Aguiar Coelho

Editora: Unicamp

Título original: El jardín de los mundos que se ramifican: Borges e la mecánica cuántica

Páginas: 144

Ano: 2011

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