“A divulgação científica precisa ser irrigada com novas ideias”

Foto: Divulgação

A fala é do professor Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Na tarde desta segunda-feira (10), o pesquisador ministrou a aula inaugural da Formação Transversal em Divulgação Científica da UFMG.

Figueiredo tratou dos desafios para as Humanidades e de percursos possíveis para a divulgação científica no Brasil.

Segundo ele, é preciso investir em ações de divulgação inovadoras, que se aproximem das dinâmicas interativas das mídias digitais e das novas plataformas de comunicação on-line.

“Para falar com novos públicos, é preciso experimentar linguagens e propostas. As novas gerações têm muito a contribuir”. Confira abaixo um resumo da apresentação e os destaques da fala do pesquisador:

RHBN: Um marco na divulgação científica brasileira

Exposição de primeiro número da Revista de História da Biblioteca Nacional do Brasil em uma Biblioteca Pública. Reprodução Wikipedia.

Figueiredo pontuou que, até o início do século XXI, a divulgação científica nacional era francamente desfavorável às ciências humanas.

O quadro começou a se modificar nos anos 2000, com o lançamento de uma série de revistas dedicadas à História, à Filosofia e outras áreas de conhecimento Sociais – dentre as iniciativas, estava a Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN).

Fundada e editada por Figueiredo por mais de uma década, a revista foi uma das mais bem-sucedidas experiências editoriais de divulgação da ciência no Brasil e é considerada a maior revista de popularização da história do mundo.

A visibilidade alcançada pela RHBN mobilizou diversos grupos de pesquisadores da História a pensarem sobre o tema, formarem grupos e redes de discussão sobre a divulgação de suas pesquisas em todo o país.

Essa exposição em massa a uma ampla e difusa audiência foi, segundo Figueiredo, um dos maiores desafios dos primeiros anos do projeto. Ao longo de sua existência, a revista contribuiu para mudar, ainda que timidamente, uma cultura acadêmica que não se interessava pelo diálogo fora da Academia e que passou a compreender a importância do jornalismo para a popularização da história.

Jornalismo científico, histórico e colaborativo

Concebida na colaboração intensa de jornalistas, pesquisadores e historiadores, a RHBN contribuiu para o avanço significativo na relação de intelectuais brasileiros com o público não-acadêmico e com a divulgação de seus trabalhos.

A publicação atingiu números expressivos, com tiragem que chegou a 159 mil exemplares, distribuição em 59 mil escolas públicas e 28 mil exemplares por edição vendidos em bancas de jornal de todo o país.

A RHBN valorizava as imagens como fontes informativas e, mais do que decorar as páginas, as figuras serviam para construir narrativas e informar.

Livro originado do conteúdo da RHBN. Imagem: Reprodução

Os títulos e chamadas de capa eram pensados para concorrer comercialmente com outros exemplares nas bancas, sem perder o rigor do fato científico.

Em decorrência do sucesso, diversos eventos e projetos subsequentes foram realizados com foco na divulgação da história, como o Festival de História de Diamantina (FHIST) e a publicação de livros como História do Brasil para Ocupados (imagem), organizado a partir do conteúdo da Revista, além de exposições e palestras.

O projeto foi descontinuado, segundo Figueiredo, por uma série de questões do cenário político, e de decisões de gestão que tornaram a manutenção da RHBN inviável. Sem financiamento público, a revista foi cancelada e, em 2017, o site que continha todo seu acervo também saiu do ar.

Historiadores e a divulgação científica

“A Academia ainda tem muito pouco interesse na divulgação, a despeito da importância das ações e do incentivo das agências de fomento”, lamenta Figueiredo. Para ele, depois de uma década frenética de divulgação científica nas Humanidades, o país hoje tem pouca adesão dos pesquisadores a projetos de divulgação.

Para ele, é importante que os especialistas acompanhem todas as etapas de desenvolvido dos produtos de divulgação científica, sem perder de vista as demandas técnicas da comunicação e a tolerância com as adaptações necessárias. “Ninguém faz divulgação científica sozinho. É preciso ter colaboração”.

Quem é Luciano Figueiredo?

Foto: Reprodução SEHPOLIS

Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1982), Mestre e Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1989 e 1996).

Teve experiências como pesquisador nos Estados Unidos. Nos últimos anos, concentrou seus estudos na história das lutas políticas na época moderna, na Europa e na América.

Fundador e editor da Revista Nossa História e da Revista de História da Biblioteca Nacional, publicações voltadas para a popularização do conhecimento histórico. Desde 2003, tem interesse nos temas relacionados à divulgação científica da História.

[quote align=’center’]”A comunicação pública da ciência exige o domínio de especialidades, de diversos profissionais capazes de atuar em conjunto e colaborativamente. Acredito que a divulgação científica deve ser pensada como projeto acadêmico nas Universidades para dar conta dessa complexidade”.[/quote]

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Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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