Mineiros lá fora: caminhos da graduação ao pós-doutorado no exterior


Publicado em 28/03/2017 às 09:40 | Por Lorena Tarcia

Natural de Juiz de Fora, Luiz Adolfo Andrade é jornalista, pesquisador e designer de jogos digitais. Atualmente, desenvolve pesquisa de pós-doutorado no Center for Computer Games Research da ITU – University of Copenhagen sobre a relação entre jogos de computador e espaço geográfico, supervisionado pelo Professor Espen Aarseth, referência internacional na área.

É doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da Universidade Federal da Bahia (UFBA), linha de pesquisa em cibercultura. Professor Adjunto na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), atuando no curso de Jornalismo em Multimeios e no Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Territórios Semi-áridos (PPGESA).

Possui mestrado em Comunicação, linha de novas tecnologias da comunicação e informação, pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Criou e coordena o Laboratório de Estudos de Mídia e Espaço (LEME/UNEB) e participa do Lab 404/UFBA – Laboratório de Pesquisa em Mídia Digital, Redes e Espaço. Tem interesse em temas ligados à cibercultura, como jogos digitais, mídias locativas, computação ubíqua, Big Data, Smart Cities, Teoria Ator-Rede e transmídia.

 

MFC: Conte um pouco sobre sua carreira como pesquisador, suas trilhas e temáticas de interesse.

Posso dizer que comecei minha carreira como pesquisador na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, ainda na graduação. Em 2003, fui bolsista de iniciação científica do meu orientador, professor Messias Tadeu Capistrano. Eu fazia o curso de comunicação, com habilitação em jornalismo e fui bolsista de monitora de ensino. Foi ele que me levou a trabalhar com games. Como tinha feito o mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF) e meu sonho era estudar lá, pedi para ele me preparar. Eu queria estudar cinema no mestrado, mas o professor me sugeriu fazer algo diferente, porque já tinha muita gente nesta área e a concorrência seria grande. O professor Capistrano me sugeriu estudar jogos digitais . Eu achei legal, porque já gostava de jogar e nunca tinha pensado em fazer disso um estudo. Fiz meu TCC, defendi no final de 2003, justamente analisando a relação do cinema de aventura feito em Hollywood com jogos, adventure games. Me interessava pela questão, porque antes havia muitos filmes virando jogos e, naquela época,  já tinha o contrário, muitos jogos virando filme. Então fiz um análise estética. Foi aí que comecei minha carreira como pesquisador. Consegui passar na seleção do mestrado na UFF e lá trabalhei com uma professora chamada Simone Pereira de Sá que também me ajudou muito no processo de orientação, estudando a relação dos games com a discussão sobre comunidades virtuais.

No mestrado, trabalhei com um jogo da Lucas Artes, chamado Star War Galaxies, um daqueles jogos massivos para multiusuários, em que a gente cria uma personagem e vai pagando uma mensalidade. Há uma espécie de convivência online com outras pessoas. Usei a experiência neste jogo para atualizar a discussão sobre comunidades virtuais. Então, entrei no mestrado em 2005 e defendi em maio de 2007.

Nesta época, ainda trabalhava como jornalista e, depois do mestrado, decidi focar inteiramente na pesquisa, mas sempre que tenho oportunidade continuo publicando textos jornalístico. Em 2007, fiz a seleção para a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e para a UFF. Acabei passando nas duas, mas pela colocação na Bahia (primeiro lugar), considerei que seria melhor pra mim mudar um pouco de cidade, ampliar minha rede de contatos e fui morar em Salvador. Em Salvador, fui trabalhar com o professor André Lemos. Defendi minha tese também em jogos, mas investigando a relação entre jogos e espaço urbano, mostrando como jogos podem alterar sentido que a gente atribui a alguns lugares no espaço urbano.

No meu período em Salvador, eu cheguei lá em 2008, passei no concurso público na Universidade do Estado da Bahia. Hoje eu trabalho em três cursos lá. Fundei também uma produtora de jogos chamada Porreta Games, um espaço que tenho para colocar em prática minhas ideias. Acho muito complicado ser professor de jogos digitais e nunca ter feito um jogo na vida.  Pode ser um pouco problemático até do ponto de vista do aluno. Então acho que é importante ter uma experiência profissional para passar esta segurança aos alunos. Na minha empresa, costumo fazer um ou dois jogos por ano.

MFC: O que faz na Dinamarca?

Aqui na Dinamarca, estou como pesquisador visitante no Centro de Pesquisas para Jogos digitais na Univerdade de Copenhagen, em um departamento chamado ITU. Estou fazendo o pós-doutorado com um professor chamado Espen Aarseth. Ele foi o cara que criou o campo de game studies no mundo. Tem um livro pioneiro, chamado Cybertext. Eu o admiro desde que comecei a estudar jogos digitais. Hoje estou aqui, para ficar por um ano trabalhando com ele no Centro de Pesquisa. Estou densenvolvendo um projeto chamado Jogos Digitais , Espaço Geográfico, investigando a relação dos jogos com as cidades, tentando entender esses jogos como interface para otimizar a vida das pessoas nas cidades, no caso a cidade do Brasil. Quero ver como fazer isso por aqui e vou tentar adaptar ao nosso contexto.

MFC:  Como é o processo de bolsa de professor visitante ?

No meu caso, como pesquisador visitante, em pós-doutorado, o processo é bem simples. Se a pessoa estiver procurando postdctoral position é mais complicado, porque depende de abrir uma vaga e concorrem várias pessoas. No meu caso, estou como guest researcher ou visiting scholar, que é o convidado. Significa que o tempo que passo aqui tenho que me bancar com meus próprios recursos. No caso, quais os recursos que eu tenho? O meu salário, da universidade. Como sou professor de universidade pública, tenho por direito, no regimento a me afastar para o meu preparo, reciclagem como pesquisador, o que muita gente chama de período sabático. Então eu planejei um período sabático desde o ano passado pra mim. A univesidde autorizou. Posso ficar afastado até dois anos. Existem outros casos em que você pode vir fazer mestrado ou doutorado e o período de afastamento é maior. Mas eu posso ficar de um a dois anos afastado para o pós-doc e, por lei, eu tenho garantido o meu salário neste período.

Além do salário, existe a possibilidade de bolsas das agências de fomento no Brasil, Capes e CNPQ. No meu caso, eu concorri ao edital da Capes do ano passado, para pesquisadores em estágio pós-doutoral. São pesquisadores doutores que defenderam sua tese há até oito anos. Ano passado, neste edital, foram disponibilizadas duzentas bolsas para todos os pesquisadores de todo o Brasil, com até oito anos de título de doutor e outras duzentas bolsas para pesquisadores com mais de oito anos. Eu concorri com este meu projeto e fui contemplado com uma dessas bolsas. No meu caso , como estou em um país em que o custo de vida é muito elevado, está sendo fundamental pra mim, para conseguir me manter aqui durante este período sabático.

O processo para vir como pesquisador visitante é relativamente simples. Você precisa ter o aceite de um orientador de qualquer universidade do mundo . Eu fiz algumas tentativas em outros países e acabei tendo uma resposta mais rápida aqui na Dinamarca. O orientador me aceitou, pediu um projeto de pesquisa, eu já tinha o projeto pronto. Mandei pra ele, que aceitou e enviou uma carta se compromentendo a me orientar, me receber ao longo deste período. Tenho aqui toda a infra-estrutura necessária para desenvolver uma pesquisa , tenho uma sala, acesso à biblioteca, ao laboratório de games, a todos os recursos que a universidade oferece. No caso do afastamento do meu trabalho, foi preciso só contato e a carta de aceite.

A Capes já é mais exigente no caso da concessão da bolsa. Ela vai pedir, obviamente, o seu diploma de doutor, a carta de aceite, um projeto de pesquisa. Neste projeto, será avaliado o mérito da pesquisa, qual a relevância do projeto para a sociedade brasileira, se você está indo para um lugar onde haverá condições de estudo, se estará perto de suas fontes primárias, se estará em lugar que tem estrutura para que o estudo seja bem feito, porque você não fica para sempre. Quando volta ao Brasil, tem que mostrar os resultados deste estudo, o nível de impacto nas pessoas próximas. No meu caso, a gente acabou de criar um curso de game design e eu pretendo estudar como funciona aqui, fazer uma ponte com a Bahia e da Bahia com o Brasil, já que somos hoje um dos estados que mais produzem jogos eletrônicos no país.

Ouça as dicas do professor Luiz Adolfo para conduzir seu trajeto até um pós-doutorado.

Conheça o local de trabalho e a rotina do pesquisador na Dinamarca