Último dia útil do ano, tempo de revisões e previsões. Em todo o mundo, cientistas e jornalistas dedicados à divulgação da ciência se empenham em fazer balanços e pensar o que vem por aí.

O jornal britânico The Telegraph pediu aos seus analistas para compartilharem suas visões sobre ciência e tecnologia para 2017.

Inteligência Artificial, transplantes complexos e avanços nas pesquisas sobre câncer são alguns dos destaques.

1.Avanços na identificação biométrica

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James Titcomb, editor de tecnologias do jornal aponta para os avanços nos usos das nossas características biológicas enquanto chave para a privacidade de dados. A biometria não é novidade, porém estará cada vez mais presentes em nossas vidas. Os telefones celulares já são desbloqueados com o uso das digitais, os bancos usam reconhecimento de voz e a íris permite intensificar a segurança nos aeroportos.

Porém, segundo Titcomb, isso é apenas o começo.

“Imagine entrar em um bar, colocar o dedo em um escâner de veias e instantaneamente identificar sua bebida predileta, seus pedidos mais recorrentes e até a forma preferida de pagamento.”

Embora pareça distante, a empresa britânica Sthaler  já está testando a tecnologia FingoPay. A identicação das nossas veias é muito mais segura do que as senhas numéricas. As chances de duas pessoas apresentarem os mesmos resultados é de uma em cada 3.4 bilhões.

A biometria seria o caminho para evitar fraudes, já que o acesso a números e senhas pode acontecer com facilidade. Já fraudar a íris ou as digitais, é algo muito mais difícil, embora tenhamos visto acontecer recentemente.

2.Inteligência Artificial e Chat Bots

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Cara McGoogan aposta na inteligência artificial e na exploração dos robôs em 2017. Também não é novidade falar em inteligência artificial, entretanto, destaca a articulista, tem sido frenquentemente relacionada a ações de suporte, pouco evidentes para quem as utiliza, como o caso dos algoritmos do Google e do Facebook.

Em março,  AlphaGo, desenvolvido pela subsidiária do Google, a DeepMind, superou Lee Sedol, o então melhor jogador do mundo em Go, com um placar de 4 a 1 em um torneio de cinco jogos.

Prevê-se crescimento de 300% na indústria de Inteligência Artificial em 2017.

Além disso, o lançamento do Echo, da Amazon, uma AI que responde aos comandos de voz, marcou a ampliação dos usos sociais da inteligência artificial. O telefone do Google já vem com a tecnologia embutida, assim como o Allo e o Messenger do Facebook, serviços que buscam fazer frente aos domínios do WhatsApp.

McGoogan prevê principalmente o avanço dos usos da inteligência e dos robôs nas empresas, em serviços de segurança, advocacia e no marketing. Isso inclui computadores que respondem automaticamente a invasões cibernéticas e analisam sintomas médicos sem a intervenção humana.

3. Transplante de cabeça e avanços no combate ao câncer

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Estes são os destaques da editora de ciências do The Telegraph, Sarah Knapton. Embora ressalte a insegurança no campo da ciência, provocada pela tumultuada movimentação política de 2016, Kapton aponta algumas tendências para o novo ano.

Esperam-se, por exemplo, outros bebês com DNA de três pais. A técnica, que começa a ser licenciada para uso por clínicas especializadas em reprodução humana, usa doadores de DNA de uma segunda mãe para curar doenças genéticas como distrofia muscular.

Além disso, o neurocientista italiano Sergio Canavero se prepara para realizar o primeiro transplante de cabeça em 2017. Valery Spiridonov, 31, um russo que sofre de uma rara doença chamada Werdnig-Hoffmann, deverá ser o primeiro paciente.

Novas drogas para combate ao Alzheimer também estão em avançado estágio de experimentação e devem ser concluídas no próximo ano, caso do medicamento Aducanumab, que destrói as placas de proteína que se acumulam no cérebro de pacientes com a doença, e pode representar o tratamento alternativo tão esperado.

Nos Estados Unidos e China, amplos estudos estão em fase avançada para editar o DNA de pessoas com câncer, para erradicar a doença do organismo, por meio de uma reescrita dos códigos genéticos.

Ano passado, a Microsoft anunciou o primeiro laboratório destinado à cura do câncer por meio da tecnologia genética. Os primeiros resultados estão previstos para 2017.

Os pesquisadores trabalham agora em computadores feitos de DNA que viverão em células a buscarem por falhas de sistema, para reiniciar quando necessário.

Na América do Sul, milhares de mosquitos serão infectados por bactérias e inseridos no Brasil e Colômbia para combater surtos de zika. A bactéria Wolbachia não prejudica os seres humanos, mas impede os mosquitos de transmitirem o vírus da Zika.

No Brasil

Já no Brasil, as previsões não são otimistas. Reportagem da revista Exame fala no corte de orçamento, estagnação de bolsas, cancelamento de editais e instituições de pesquisa sem dinheiro para pagar serviços básicos de limpeza e segurança.

“É melhor pôr um anúncio em todos os jornais: ‘Mudem de país’”

O governo cortou R$ 1,41 bilhões do orçamento do setor. O corte está na Lei Orçamentária Anual (LOA) sancionada na última terça-feira pelo presidente Michel Temer. Projetos como a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), laboratórios nacionais — como os de nanotecnologia – e 176 mil bolsas de pesquisadores de todo o país estão em risco.

A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, disse ao Correio Braziliense,  que a situação é “muito séria”.

“É melhor pôr um anúncio em todos os jornais: ‘Mudem de país’”, afirmou, depois de reclamar da situação com o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab. A pasta afirma apenas que “considera a possibilidade de que essa decisão seja revertida”.

O Ministério do Planejamento — antes comandado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) e, agora sob comando de Dyogo Oliveira — também põe a responsabilidade no Congresso, embora a sanção da lei seja do Poder Executivo, e afirma que “é possível realocar as fontes de recursos conforme as prioridades de governo”.