Autores de livros de divulgação científica participaram de uma sessão de autógrafos seguida de bate-papo sobre a importância de ações de popularização do conhecimento, na última sexta-feira (16), no hall do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), no campus Pampulha da UFMG.
Durante o encontro, a ilustradora científica Rosa Alves Pereira lançou a obra didática Ilustração Zoológica, que apresenta conceitos, técnicas de desenho e informações históricas, além de orientações para a conservação das coleções biológicas, em português e espanhol. “O livro aborda como um animal interage com o outro, com a planta… a gente fala de metamorfose, de polinização, que é exatamente essa relação entre os seres vivos”, explica a autora.
No aspecto da popularização da ciência, Rosa acredita que a imagem é um importante instrumento a ser utilizado, como linguagem complementar, pois tem o potencial de chegar a mais pessoas. “Às vezes, alguém pega a revista científica e lê o nome científico: Nazua nazua. Quando a pessoa vê a ilustração, ela reconhece que é o quati”, exemplifica.
Pouco antes de autografar exemplares de Fábulas Parasitológicas – lições éticas e bem-humoradas para o estudo de parasitas, o professor emérito do ICB, Pedro Marcos Linardi, disse que é possível ensinar e aprender de maneira mais interessante. “De um modo geral, quem fica acometido por doença parasitária é a população de mais baixo nível socioeconômico. É preciso levar a parasitologia junto ao grande público, às escolas secundárias”, defende.
O “cidadão comum” também pode conhecer a importância de um dos mais complexos biomas brasileiros no livro Cerrado – em busca de soluções sustentáveis, de autoria de outro professor do ICB, Geraldo Wilson Fernandes. Segundo ele, o objetivo é mostrar à população e aos “tomadores de decisão” a importância do Cerrado para o equilíbrio hídrico do País, além de sua importância biológica, científica e histórica. “Este livro deveria ser lido por alunos de todas as escolas e obras similares deveriam ser confeccionadas para outros biomas ameaçados no Brasil, como a Caatinga, os Pampas e ambientes costeiros”, recomenda.
A seguir, o professor Geraldo Wilson Fernandes apresenta mais detalhes sobre a publicação:
Como foi o processo de organização do livro?
O livro é o resultado de dois cursos que ofertei para graduados e pós-graduados na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Os cursos foram sobre a biodiversidade que existe além da Amazônia, no caso, o Cerrado e os campos rupestres.
Eu percebi que a grande destruição destes ecossistemas, maior do que em todos os biomas do Brasil, e a não apreciação deles pela população era o resultado simples de que nós não os conhecemos. Assim, a ideia foi convidar meus colegas da Rede ComCerrado (parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que coordeno, a preencher as lacunas e montar um livro muito bem ilustrado e diagramado para levar à população geral e aos tomadores de decisão a beleza única do Cerrado e seus diferentes ecossistemas, sua ignorada e vital relevância para o equilíbrio hídrico no país. Finalmente, foi muito importante informar como e porque ele vem sendo destruído desta forma improcedente e propor soluções urgentes.
Quais são os principais problemas identificados no bioma do cerrado abordados no livro?
Abordamos as taxas de desmatamento e suas causas, as tendências para o colapso total das funções que este bioma exerce para o bem-estar da humanidade através dos serviços ambientais fornecidos por ele (segurança alimentar, hídrica, etc).
O senhor poderia exemplificar alguma solução sustentável proposta?
A principal necessidade é o desenvolvimento de uma política voltada ao uso sustentável do bioma. Precisamos, com urgência, refletir e propor projetos duradouros e que tragam para o Cerrado maior estabilidade, mais recursos, proteção e qualidade de vida para seus habitantes. Sem um planejamento estratégico, não tem jeito.
Precisamos ampliar as unidades de conservação e dar a elas condições efetivas de proteger o Cerrado, engajar a população – e ela só vai fazer isto se souber da importância. Temos que buscar espaço e sinergia para criar estratégias inteligentes que visem ao desenvolvimento sustentável.
Somos um país onde a produção principal da agropecuária vem do Cerrado e assim devemos pensar em resolver o conflito com este setor: indenizar os proprietários, que se tornaram inimigos destas áreas de conservação, pelas perdas das suas propriedades. O desafio maior é curar a ignorância da população, dos empreendedores, políticos e até de conservacionistas extremos.
A missão não é fácil, mas é possível. No momento, estamos rascunhando uma grande proposta nacional a este respeito. O Brasil está “cumprindo” suas metas de preservação ambiental junto ao público internacional, mas às custas do Cerrado, da Caatinga, dos ambientes costeiros e dos Pampas. O mundo precisa saber disto e pressionar o governo brasileiro a rever sua política obtusa e nociva aos interesses do povo brasileiro. Nossa arma é a caneta e aí está a primeira delas.