*Colaborou Virgínia Fonseca
A produção de alimentos sempre foi um desafio para a humanidade. A busca por cultivos capazes de driblar as adversidades do ambiente, como instabilidade climática, defeitos do solo e, mais recentemente, aumento das temperaturas e crise hídrica, tem movido os homens e a ciência. No contexto brasileiro, o semiárido – mais conhecido pela alcunha de “sertão” – corresponde a áreas geográficas onde a escassez de água e as características do terreno desafiam a produção agrícola, bem como a permanência de indivíduos. Ao longo dos anos, diversos projetos buscaram soluções para tais problemas. Dentre eles, destaque para aqueles implementados no semiárido mineiro, que representa 10,54% do território nacional coberto pelo referido clima e se localiza no Norte do Estado e no Vale do Jequitinhonha.
Bastante diversificado, o semiárido mineiro** apresenta produção agrícola que vai da pecuária – com índices que fazem do Estado o segundo maior rebanho bovino no Brasil – ao cultivo de áreas secas (sequeiros), geralmente para subsistência, e à pujante fruticultura irrigada. A região possui quatro perímetros públicos de irrigação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), além de muitos outros particulares.
Desde a década de 1970, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) desenvolve trabalhos junto às propriedades de fruticultura do semiárido mineiro – com especial atenção à cultura de banana. Em 2012, a área foi responsável por 23% dos quase 2,5 milhões de toneladas de frutas produzidas em Minas Gerais, o que faz da fruticultura a grande atividade geradora de emprego e renda na região. Desse total, o destaque vai para a bananicultura, que responde por 60,7% da colheita.
Hoje, a banana é a fruta mais produzida no Norte de Minas Gerais, em parte, graças à tecnologia desenvolvida a partir de pesquisas na região. “A demanda hoje existente faz necessária a continuação e o aprimoramento dos trabalhos realizados pela Epamig e por outras instituições que ali atuam”, avalia a engenheira agrônoma Maria Geralda Vilela Rodrigues, pesquisadora da Unidade Regional Epamig Norte de Minas, que coordena projetos focados em bananicultura.
De acordo com a pesquisadora, as condições edafoclimáticas da região – que dizem respeito às condições do solo para o cultivo vegetal – são adequadas à bananicultura, que, se bem manejada, atinge altos rendimentos. No entanto, para que tal potencial seja alcançado, é preciso atentar-se às questões ligadas à irrigação. Como a precipitação regional é insuficiente para a cultura, o custo da produção acaba sendo elevado, diante dos investimentos necessários em irrigação. Para Maria Geralda, essa questão, somada às altas temperaturas absolutas, que ocorrem em certas épocas do ano, também são um desafio que não permite amadorismos.
Sendo assim, há um trabalho intenso de pesquisa que abrange todo o sistema de produção: propagação, plantio (tipos de mudas, espaçamento), irrigação, manejo da fertilidade do solo e da nutrição de plantas, adubação, manejo das plantas (desbaste, desfolha), genótipos melhorados e selecionados, manejo dos cachos (ensacamento, retirada do coração, desbaste de pencas), conservação da fruta na pós-colheita (fitossanidade, ponto de colheita, temperatura, umidade, atmosfera controlada e modificada em câmaras de conservação), manejo de pragas e doenças.
Vale ressaltar que o conhecimento obtido através desses estudos é disponibilizados ao público em formatos diversos: publicações seriadas, capítulos de livros, softwares, artigos científicos, eventos nacionais e internacionais, dias de campo e atendimento ao produtor.
“Em se plantando, tudo dá!”
Outro cultivo que tem se destacado na região do semiárido mineiro é o de morango. Segundo Mário Sérgio Carvalho Dias, pesquisador da Unidade Regional Epamig Norte de Minas, o histórico da fruta na região é recente, tendo se iniciado em 2002. “Ainda não há produção significativa, mas muitas informações geradas pelas Epamig apontam a viabilidade técnica da cultura na região”, afirma. No Brasil, a maior região produtora encontra-se em Minas Gerais, concentrando-se, principalmente, no Sul do Estado.
Dentre os aspectos tratados pelas pesquisas com morango conduzidas pela Epamig no semiárido norte mineiro, o foco está na seleção de cultivares que se adaptam às condições climáticas. Um direcionamento importante, mencionado pelo pesquisador, é o manejo diferenciado que a cultura requer nas condições semiáridas, como o sistema de irrigação, a seleção de mulching (cobertura do solo dos canteiros, imprescindível à produção), o espaçamento das plantas, os sistemas de produção de mudas e a produção e o armazenamento de polpa. Outro importante ponto a ser ressaltado é o fato de o cultivo se estender a regiões de semelhança edafoclimática, como a o Nordeste do País.
Mário Sérgio destaca que, atualmente, o principal desafio é a obtenção de uma cultivar nacional adaptada ao semiárido.
“Já obtivemos resultados positivos em nossas pesquisas com a cultura no semiárido, a exemplo da seleção de cultivares, do sistema de irrigação, do tipo de mulching, da disposição de plantas no canteiro e do espaçamento, do sistema de produção de mudas e da produção e conservação de polpa. No entanto, ainda precisamos visualizar esses avanços na produtividade, principalmente, em números”, completa.
Texto originalmente publicado na edição nº 61 da Minas Faz Ciência.
Clique aqui e acesse a revista na íntegra.
_________
**Semiárido mineiro:
No total, 85 municípios mineiros das regiões Norte e do Vale do Jequitinhonha integram o semiárido brasileiro, por apresentarem características como índice de acidez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico e risco de seca superior a 60%.