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Biomarcadores para diagnóstico da meningite

Por meio de uma metodologia inovadora, já é possível identificar as proteínas da resposta inflamatória dos hospedeiros da meningite, de modo a garantir a análise exata do quadro clínico do paciente, a partir de uma leitura sequencial dos resultados. Tais “biomarcadores” serão empregados em kits para a identificação das meningites malignas e benignas. Atende-se, assim, à vasta demanda por critérios que orientem, de maneira precisa, a decisão clínica pela abordagem terapêutica adequada.

Sob liderança do pesquisador Roney Santos Coimbra, doutor em Microbiologia pela Universidade René Descartes (Paris 5), a “Pesquisa de biomarcadores das meningites para o desenvolvimento de kits de diagnóstico” foi desenvolvida no Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR-Fiocruz), com a colaboração de Rosiane Pereira, também pesquisadora do CPqRR e co-proponente do projeto junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico  (CNPq), e Guilherme Oliveira, coordenador do Centro de Excelência em Bioinformática (CEBio), que é fruto de uma ação da FAPEMIG e do CPqRR.

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A pesquisa básica que deu início à investigação, financiada pelo CNPq, consistiu na análise do conteúdo proteico do líquor, fluido corporal presente entre as membranas cerebrais, que também preenche as cavidades do cérebro. “Nossa hipótese era a de que, no líquor, haveria sinais específicos da resposta do paciente às meningites causadas por diferentes patógenos – cujos tipos determinam a abordagem terapêutica adequada. Um diferencial do método é que o diagnóstico se baseia na resposta inflamatória do paciente, e não na detecção do patógeno”, explica Coimbra.

O rápido diagnóstico dos tipos de meningite é um dos fatores cruciais para o sucesso do tratamento. O kit desenvolvido a partir da identificação dos biomarcadores propõe uma solução inédita, que pretende apresentar resultados imediatos. Comparado às estratégias já existentes de identificação da meningite, o kit configura-se como instrumento útil e acurado, auxiliando o médico na tomada de decisões para o tratamento.

Precisão e rapidez

O desenvolvimento do kit está sendo conduzido a partir de duas estratégias: uma delas usa o teste imunológico Elisa (enzyme-linked imune assay), que é bastante comum e pode ser feito diretamente em laboratório hospitalar, a fim de identificar o tipo de agente causador da inflamação das meninges. A outra abordagem, que conta com financiamento da FAPEMIG, consiste em sistema que utiliza anticorpos artificiais em parceria com a empresa Bioatus, que desenvolveu um protótipo de leitor de eletroforese capilar capaz de permitir ao médico receber o resultado imediatamente. O caráter inovador da abordagem está no fato de não ser necessário usar animais ou células hibridomas para o desenvolvimento de anticorpos.

Na pesquisa, foram utilizadas amostras de líquor de pacientes do Hospital João Paulo II, a partir de parceria com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig): “O líquor já é coletado na rotina dos hospitais quando se tem suspeita de meningite. Por isso, não causamos transtorno ou desconforto adicional aos pacientes”, explica Roney Coimbra. A coleta do material é feita com pulsão glicólica na região lombar da coluna vertebral: “Trata-se de procedimento de risco, mas que, nesse caso, se justifica. Além disso, o método é recomendado pela Organização Mundial de Saúde”.

Imagem meramente ilustrativa.
Imagem meramente ilustrativa.

Perspectivas

O potencial dos resultados da investigação conduzida por Roney Coimbra pode ir além do diagnóstico preciso das meningites e contribuir, também, para a evolução no quadro atual do tratamento da doença. Durante a pesquisa, foi possível identificar rotas de sinalização intracelular e metabólicas mais afetadas pelos diferentes tipos da doença, orientando a identificação de candidatos a alvos terapêuticos. “É um desdobramento que já está em desenvolvimento. Temos o mapeamento das rotas e, agora, podemos adequar o uso de anti-inflamatórios, substituindo aqueles de alto espectro, que também causam efeitos indesejáveis, como a morte celular programada das células”.

A nova pesquisa indica que seria admissível substituir os anti-inflamatórios por medicamentos adequados à causa exata da doença. “Buscamos estratégias para reduzir as lesões cerebrais, os danos e as perdas de neurônio, sem ter que, necessariamente, recorrer a um anti-inflamatório de efeito tão largo. Alguns resultados já demonstram que o tratamento com uma molécula de origem natural, extraída de plantas, previne a morte celular”, destaca o pesquisador.

Texto originalmente publicado na edição nº 57 da Minas Faz Ciência.

Clique aqui e acesse a revista na íntegra.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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