A Doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, é responsável por um grande número de cardiomiopatias na América Latina e estima-se que entre 10% e 30% de todos os indivíduos infectados adquire cardiopatia chagásica crônica (CCC), um dos quadros mais severos da doença. A CCC é uma das maiores causas de morte por insuficiência cardíaca e faltam tratamentos eficazes para os pacientes.
A fim de melhor compreender as causas e origens desse quadro para obter avanços no tratamento e prevenção, pesquisadores de Minas Gerais, com apoio da Fapemig, realizaram um estudo de caracterização biológica da proteína P21 do parasita, descrita pela primeira vez pelo grupo, sob a coordenação do professor Claudio Vieira da Silva, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Os pesquisadores publicaram na revista Scientific Reports uma análise de importantes atividades biológicas da proteína P21, sugerindo-a como potencial alvo para novas terapias contra a Doença de Chagas.
Clique aqui para acessar o artigo.
“A grande inovação da pesquisa consiste no melhor conhecimento sobre as atividades biológicas da proteína P21 de Trypanosoma cruzi“, explica o professor Claudio Vieira da Silva. Os dados publicados refletem a capacidade da proteína de modular o microambiente, favorecendo a permanência do parasita. Com isso, o estudo possibilita vislumbrar novas formas terapêuticas de combate à doença. “Novos tratamentos poderão se basear na inibição das atividades da P21, tornando o parasita susceptível à resposta imunológica do indivíduo doente”, explica o pesquisador.
O processo de descrição da P21 foi essencial para que o potencial da proteína como alvo principal do tratamento fosse identificado. “Trabalhamos com o propósito de conhecer bem o ‘inimigo’ e, assim, desarticular suas ações, para que a doença possa, de fato, ser tratada de forma menos tóxica e mais eficaz em relação às drogas atualmente em uso”, sugere o professor, que pontua a alta toxidade e baixa eficácia dos tratamentos existentes na fase crônica da doença.
A princípio, o grupo trabalha com o objetivo de gerar inibidores da P21 para tratar pacientes infectados na fase aguda e crônica da doença de Chagas, mas vislumbra outras possibilidades de atuação: “Temos uma pareceria de trabalho muito importante com a pesquisadora Cecília Perez-Brandan, da Universidad Nacional de Salta, na Argentina, e pretendemos explorar o potencial do emprego em vacinas para a prevenção da Doença”.
Para desenvolver o estudo, os pesquisadores lançaram mão de uma ferramenta de infecção crônica, baseada no implante de uma esponja de poliéster no dorso de camundongos. “Agora já estamos estudando a infecção promovida por parasitas nocautes para o gene da P21. Ou seja, vamos gerar por biotecnologia parasita sem o gene da P21 e analisaremos o curso da infecção”, pontua o professor.
O grupo também já está com pesquisa em andamento para testar um peptídeo sintético capaz de inibir em quase 100% todas as atividades biológicas descritas para a P21 recombinante. “Nosso próximo passo é testar este peptídeo contra a P21 nativa em experimentos in vitro e in vivo. Posteriormente, a estas pesquisas poderemos investir em estudos clínicos”, conclui Claudio Vieira da Silva.
Imagem do destaque meramente ilustrativa / Wikimedia Commons / CDC / Dr. Myron G. Schultz.