Formigas monitoras da natureza

Já falamos aqui sobre o biomonitoramento do cerrado em Minas Gerais com diferentes espécies de aves, que podem contribuir para a compreensão da qualidade dos ambientes naturais.

Pesquisas com animais biomonitores são importantes para identificar os impactos em ambientes como o cerrado e as florestas depois que são transformados pela ação do homem. A criação de sistemas de pastagem para a pecuária, de agroecossistemas cafeeiros e a fragmentação imposta pela criação de estradas são algumas das transformações que as áreas naturais podem sofrer e que impõem mudanças na vida dos animais que ali vivem.

Você sabia que as formigas também podem ser impactadas?

Imagem meramente ilustrativa / © Chris Knorr/Design Pics/Corbis
Imagem meramente ilustrativa / © Chris Knorr/Design Pics/Corbis

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Lavras (Ufla), sob a coordenação da professora Carla Rodrigues Ribas, investigou os impactos ambientais e a recuperação-resposta de comunidades de formigas e suas funções ecológicas nos três ambientes citados acima. A pesquisa contou com auxílio financeiro da Fapemig e concluiu que quanto maior o impacto causado pelo homem nos ambientes, mais aparecem espécies de formigas que não deveriam viver naquele espaço em grandes quantidades.

Para coletar os dados, a pesquisadora observou o número de espécies que vivem naturalmente em determinado local e em que quantidade. “A resposta ideal que pretendemos obter é que devem aparecer apenas espécies típicas da região estudada, e não formigas que não são daquele local”. No entanto, o impacto humano modifica essa estrutura e a presença das espécies naturais daquele ambiente.

Dentre os resultados específicos da pesquisa, foi possível observar que, no caso das pastagens, a riqueza de espécies foi negativamente influenciada pelo impacto ambiental. Já em relação aos agroecossistemas cafeeiros, foi observado que o sucesso dos agroecossistemas de café com base em técnicas agroecológicas está diretamente relacionado com o seu tempo de implementação, o grau de complexidade estrutural (diversificação), e o tipo de manejo empregado pelos agricultores nesses ambientes.

“Por fim, em relação à fragmentação imposta por estradas, observamos que, em escala local, a diversidade de formigas é mais afetada por variáveis ambientais locais e que a conectividade se mostra como um importante atributo para a conservação de florestas em uma mesma escala pois atenuam os filtros de dispersão exercidos pelo impacto causado pela fragmentação”, explica a professora.

“A sociedade precisa dos ambientes modificados, mas as alterações precisam ser feitas de modo a manter a complexidade estrutural que garante a sobrevivência das espécies”, explica a professora. Essa complexidade pode ser mantida, por exemplo, a partir da presença de um determinado número mínimo de árvores. “Quanto mais próximo do ambiente original, melhor”.

“Um estranho no ninho!” – Imagem meramente ilustrativa – © Chris Knorr/Design Pics/Corbis

Carla Ribas reconhece que, apesar de existir uma variada gama de trabalhos evidenciando o potencial do uso de formigas no biomonitoramento, existe uma carência de estudos que avaliem de maneira sistemática a variabilidade de impactos ambientais que atualmente ocorrem no Brasil. Assim, sua pesquisa teve também o objetivo de contribuir para a redução dessa lacuna.

A partir da avaliação do efeito dos impactos da ação do homem nas comunidades de formigas, é possível apontar técnicas de manejo que devem ser implementadas nas áreas impactadas, de forma a minimizar o risco à biodiversidade. “Pretendemos desenvolver uma cartilha que será distribuída entre profissionais que trabalham com o agrossistema cafeeiro. O objetivo é educar e treinar as pessoas para que o monitoramento dos espaços seja feito pelos próprios profissionais da área”, conclui a pesquisadora.

“Manter as formigas é importante para manter o equilíbrio, uma vez que elas são também responsáveis por dispersar sementes e comer insetos, por exemplo”, Carla Ribas.

Conheça também o site FormigasdoBrasil.com.

As imagens do post são meramente ilustrativas.
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Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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