As expectativas em torno das mudanças e transformações que seriam geradas pelas tecnologias em diversos campos da vida foram também direcionadas para a prática científica. Nesse sentido, o debate em torno dessa crescente imbricação tem variado entre perspectivas mais otimistas, focadas nas possibilidades de abertura e democratização das tecnologias, e as pessimistas, que demonstram preocupação com a possibilidade de haver o comprometimento (ou perda de legitimidade) do conhecimento produzido pela ciência.
Nos últimos anos, as tecnologias de informação e comunicação vêm se caracterizando por uma maior abertura à participação dos sujeitos, não apenas no que se refere às formas de acesso à informação, mas, principalmente, nas questões relativas à produção e à distribuição dos conteúdos que circulam pelas redes digitais.
A ampliação da presença do “usuário” na rede foi possibilitada, em termos práticos, pelo desenvolvimento de uma infraestrutura tecnológica descentralizada e de baixo custo, que permitia aos sujeitos acessar, produzir e disseminar conteúdos. O exemplo mais contundente dessa estrutura é a Web 2.0 e todos os conceitos que lhe dão base: folksonomia, sindicalização, cauda longa, escrita colaborativa, redes sociais, user-generated content, entre outros.
Na ciência, o movimento de abertura da rede, suscita questões que vão desde o acesso livre ao conhecimento, passando pelas práticas colaborativas em rede, até as questões sobre direitos de propriedade intelectual.
A partir das discussões em torno desse tema, pode-se dizer que a presença das tecnologias digitais, como ferramenta para a produção de conhecimento científico, é algo complexo. Isso porque o ideal de cientificidade é sustentado por uma infraestrutura que combina mecanismos diversos como a avaliação entre pares, as formas colegiadas, as sociedades científicas, que buscam “controlar” a produção de conhecimento. Essas estruturas atuam como filtros que garantem a legitimidade e a validade do conhecimento científico. Quando as tecnologias digitais se inserem no contexto científico, a sua ação parece ter um efeito “desordenador” dos fluxos, pois eles começam a circular em outros ambientes que não os tradicionalmente reconhecidos pela prática científica.
A questão não é somente perceber esta estrutura, e as práticas que ela potencializa, mas sim buscar apreender o que significa essa imbricação. No caso, pensar a introdução das tecnologias de informação e comunicação na ciência abre a possibilidade de vislumbrar as mudanças ocorridas na produção de conhecimento.
Na última edição da Revista Minas Faz Ciência, abordamos o tema da Ciência Aberta, que também passa pelas discussões em torno da introdução das tecnologias na produção do conhecimento, mas vai além, abordando a própria natureza do conhecimento científico e as relações entre os atores (sujeitos, objetos, tecnologia, sociedade) nesse cenário.
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