Nos últimos dias, os jornais em todo mundo estamparam em suas páginas o drama das migrações na Europa. Elemento presente na formação dos povos, o movimento de populações, apontam os teóricos, é um fenômeno recorrente em todas as épocas históricas. No entanto, apesar de não ser um fato novo, atualmente, as migrações podem ser consideradas uma das principais questões humanitárias. Conflitos étnicos, guerras de fronteiras e crises econômicas têm sido o pano de fundo das histórias dos migrantes que percorrem o globo em busca de melhores condições de vida.
Para alguns autores, a migração, nos contextos atuais, pode ser vista tanto como um efeito da globalização como também um elemento definidor desse processo. No entanto, a sua complexidade é inegável e pode ser abordada a partir de distintos aspectos. Por exemplo, no que se refere ao mercado de trabalho, dada a disponibilidade de os países desenvolvidos em receber apenas pessoal qualificado, a migração é vista a partir do fenômeno da “fuga de cérebros” (brain drain), onde sujeitos qualificados, cuja formação, na maioria das vezes, despendeu grandes investimentos de seu país de origem, vão atuar em países ricos. Já aos emigrantes não qualificados sobram os trabalhos que não exigem expertise e, portanto, não apresentam grandes perspectivas de melhoria àqueles que se dispõem a desempenhar essas funções.
Nesse aspecto, como apontam Bauman (1999) e John Urry (2007), a mobilidade passa a se tornar um valor. Para alguns, o movimento é autorizado e de livre escolha. Já para outros, ele é interditado e/ou compulsório.
Habitantes do primeiro mundo e do segundo mundo: assim caracteriza Bauman (1999) os tipos que se configuram em relação à capacidade (ou não) de se mover. Os primeiros, de acordo com o autor, vivem no tempo, não importando o espaço. Já os segundos vivem no espaço “pesado, resistente e intocável”.
Para os primeiros, o mundo é cada vez mais cosmopolita e extraterritorial formado por homens de negócio, controladores globais da cultura e acadêmicos globais.
“Para os habitantes do segundo mundo, os muros constituídos pelos controles de imigração, as leis de residência, a política das “ruas limpas” e “tolerância zero” ficaram mais altos; os fossos que os separam dos locais de desejo e da sonhada redenção ficaram mais profundos, ao passo que todas as pontes, assim que se tenta atravessá-las, revelam-se pontes levadiças.” (Bauman, 1999, p.97)
No âmbito científico, a questões do movimento têm se colocado como um tema complexo e multifacetado em vários campos e disciplinas. Desde a “virada da mobilidade”, apontada por Mimi Sheller e John Urry, em 2006, o termo “mobilidade” vem buscando representar uma mudança de paradigma, tanto na teoria quanto na prática de pesquisa, principalmente no campo das ciências sociais e humanas, com o objetivo superar atribuições, categorias e quadros de análise estáticos e dicotômicos.
Diante desse contexto, diversas iniciativas para se discutir e pensar a mobilidade surgem: congressos, fóruns, programas de mestrado e doutorado, periódicos, grupos de pesquisa. O que elas têm em comum: a percepção da mobilidade como uma força motriz crucial para a dinâmica social, cultural e política da contemporaneidade.
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Links:
Laboratório de pesquisa em mídia digital, redes e espaço – PPGCCC-Facom/UFBa
Mobile lives forum
Centre for Mobilities Research – Lancaster University
Cosmobilities Network
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Referências
BAUMAN, Z. Globalização: As Consequências Humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. 146p.
SHELLER, M., URRY, J. The new mobilities paradigm. In: Environment and Planning, v.38, n.2, 2006. 207-226p.
URRY, John. Mobilities. London: Routledge, 2007. 335p.