O livro Escrevendo a História da Ciência, organizado por Ana Maria Alfonso-Goldfarb e Maria Helena Roxo Beltran, é uma ótima dica de leitura para os interessados nesta área de estudos que nasceu imersa no próprio fazer científico.
Os estudos sobre a história da ciência (historiografia) são considerados metaestudos, ou seja, estudos históricos sobre a história da ciência. Pode parecer confuso, mas a área é responsável por tornar visíveis “os diferentes critérios e motivações – quase sempre implícitos – que, ao longo de mais de um século, provocaram mudanças significativas nas obras da área”. A historiografia torna visíveis o lugar e o contexto das obras históricas, “devolvendo-lhes a cor, o peso e a dimensão originais e invalidando comparações inócuas”.
Ao longo dos séculos, observa-se que as crenças científicas de autores que escreveram a história das ciências afetaram suas visões de mundo. Ao voltar o olhar para esses temas do passado e revisitar escritos antigos, é possível compreender e contextualizar essas narrativas, tornando claros o local e o momento histórico de onde esses autores falavam. O movimento de compreensão da história da ciência deve ser contínuo e considerar, também, os momentos mais recentes da história do mundo. Área rica de possibilidades, a História da Ciência é, assim, terreno fértil para ser explorado por diferentes perfis de pesquisadores.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC), fundada em 16 de dezembro de 1983, representa a expressão maior da institucionalização da área no país e realiza, a cada dois anos, um seminário que reúne pesquisadores e estudiosos de diversas áreas interessados na História das Ciências.
Em 2014, a 14ª edição do seminário foi realizada em Belo Horizonte e, na ocasião, a Presidente da SBHC, Márcia Regina Barros da Silva, conversou com a repórter da FAPEMIG, Vivian Teixeira sobre os desafios dessa área de pesquisa que está em constante transformação.
Em sua origem, a SBHC reuniu, principalmente, pesquisadores interessados em aprofundar os estudos em suas próprias áreas de atuação. Eram físicos, químicos, engenheiros, matemáticos, que tinham interesse em compreender melhor seus campos de estudo do ponto de vista histórico.
A Presidente da Sociedade, Márcia Regina, observa que, ao longo de seus 30 anos, a instituição foi agregando cada vez mais cientistas da área de Humanas, como historiadores, sociólogos e cientistas políticos interessados em contextualizar a ciência feita no Brasil e entender as mudanças na sociedade brasileira sob a perspectiva da Ciência que é produzida no país e das tecnologias desenvolvidas no processo.
“Nós temos esse privilégio de poder tratar a ciência como objeto de estudo e acho que temos a missão de desvendar esse tema, compreendê-lo profundamente, não para valorizar ou desvalorizar a trajetória histórica da Ciência no Brasil, mas para saber qual o papel que ela tem desempenhado no país“.
Com a tradição de ter sido fundada por cientistas das áreas de hard science interessados em entender a história de suas próprias áreas, a SBHC abre espaço para um debate interdisciplinar que valoriza ainda mais as pesquisas atuais. “Isso tem sido altamente interessante para pensar, mais tarde, as políticas públicas: o que é importante na formação universitária e na formação em nível médio e fundamental? O que nós queremos para a formação dos nossos jovens estudantes?”, defende Márcia Regina.
Para os interessados no tema, vale a pena acompanhar o site e receber os boletins da SBHC: o Brasil vai sediar, em 2017, o Congresso Internacional de História da Ciência, Tecnologia e Medicina. O evento será no Rio de Janeiro e, em breve, mais informações estarão disponíveis para inscrição e submissão de trabalhos.