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Deborah Blum and Wade Roush / Photos: Mark Bennington; Jon Sachs
Deborah Blum and Wade Roush / Fotos: Mark Bennington; Jon Sachs.

Entrevista: Jornalismo científico e participação do público: Novos diretores do Knight Science Journalism discutem o papel da cobertura científica na sociedade moderna.

Q&A: Science journalism and public engagement: New leaders of Knight Science Journalism program discuss role of science coverage in modern society.

por Kathryn M. O’Neill*
MIT News

Quer o público esteja lendo sobre o surto do Ebola na África ou assistindo a vídeos do YouTube sobre os benefícios da mais recente dieta, fica claro que a divulgação sobre ciência e tecnologia molda, de maneira profunda, a vida moderna. Num esforço para levar a divulgação científica a um patamar mais elevado, o programa de bolsas do Knight Science Journalism (KSJ) – localizado na Escola de Humanidades, Artes e Ciências Sociais do MIT – permite que jornalistas de destaque passem um ano no MIT estudando ciência e tecnologia, bem como os contextos políticos, econômicos e culturais em que a ciência e engenharia se desenvolvem. Os bolsistas (Knight Fellows), ao tornarem mais rica sua compreensão sobre esses temas, podem divulgar, de forma melhor, o conhecimento ao público; hoje, mais de 320 ex-alunos do programa trabalham em grandes veículos de comunicação (agências de notícias, jornais, assessorias) em todo o mundo.

Em julho, a jornalista vencedora do Prêmio Pulitzer, Deborah Blum, foi nomeada nova diretora do KSJ, (ela assume efetivamente o cargo a partir de 1o de julho de 2015). Ao mesmo tempo, Wade Roush, ex-editor do site de notícias de inovação Xconomy e doutor pelo Programa em Ciência, Tecnologia e Sociedade, do MIT (1994), foi nomeado diretor interino do programa. Na sequência, Blum e Roush apresentam suas perspectivas sobre jornalismo científico e tecnológico, seus impactos na sociedade, e como o KSJ pode contribuir para o futuro da profissão.

Qual é o maior compromisso da escrita científica contemporânea? Por que o jornalismo científico tornou-se tão importante nesses últimos tempos?

Roush: Cada um dos grandes desafios existenciais, que enfrentamos neste século, demanda uma ciência mais bem preparada para identificar os problemas e melhores tecnologias para apontar as soluções. Mas essa ciência não será praticada, nem as soluções irão se implementar, a menos que o público em geral seja parte do processo. E para que os cidadãos estejam envolvidos, de maneira significativa, eles precisam de informações apuradas. É aí que entram os jornalistas e os escritores em ciência e tecnologia.

Queremos que os consumidores e os eleitores estejam preparados para tomar decisões inteligentes, que contribuam para mudanças políticas racionais? Se assim for, temos que descobrir a melhor forma de envolvê-los e também de oferecer uma ampla variedade de histórias interessantes e precisas sobre ciência e tecnologia.

Blum: Se nós, como sociedade, não ampliarmos nossa literacia científica – nossa compreensão científica de como a vida funciona – então, torna-se muito difícil tomar decisões, baseadas no senso comum, que nos permitam cuidar uns do outros e de nosso planeta, ambientalmente, ameaçado de extinção. E, além dos aspectos relativos a salvar-o-mundo – sim, eles importam – penso que uma compreensão básica da ciência implica em algo mais essencial. Ela nos lembra que vivemos no mais fantástico, complicado, e inesperado lugar. Isso torna a vida mais interessante.

Vocês podem citar uma história, ou uma série de histórias, que seja um bom exemplo de como uma divulgação científica bem-feita pode ter um impacto significativo na conscientização do público ou nas decisões políticas relativas a questões-chave?

Blum: Acho que nós estamos começando a ver uma crescente aceitação pelo público da ideia da mudança climática. É lento, mas está lá. E essa mudança não foi impulsionada por uma série, ou uma única história, mas por décadas de uma cobertura persistente dos jornalistas e escritores de ciência e tecnologia. É o que o escritor Andy Revkin, do New York Times, chama de história “a conta a gotas” – ou seja, não se refere a um acontecimento dramático, mas à formação gradual de evidências, fatos. Como lembramos continuamente as pessoas das conexões climáticas envolvidas em fenômenos como as secas no ocidente e a elevação dos oceanos, nós lhes permitimos compreender, de forma real, como as atividades humanas podem provocar grandes mudanças ambientais. É claro que as pesquisas direcionadas ao tema produziram mudanças mais imediatas – laboratórios disfuncionais fechados, mudança na legislação, revisão de programas – e eu estaria mais feliz se a nossa resposta a questões importantes como as alterações climáticas também caminhassem de maneira mais rápida. Mas a própria ciência é um processo; não é orientada a eventos. Então, nós precisamos continuar pressionando para aumentar a literacia científica e para contar histórias de forma mais eficaz.

Roush: Em vez de me referir a uma história específica, vou apontar para todo um gênero de histórias: a cobertura pós-desastre. Depois de uma catástrofe natural ou tecnológica, como o Katrina ou Fukushima, a mídia entra em ação, e ela geralmente faz um bom trabalho de identificação das raízes do desastre e de educação do público sobre os riscos anteriormente não reconhecidos – por exemplo, como em Fukushima, em que um terremoto e/ou tsunami poderia ser um risco ao sobrecarregar os sistemas de segurança da planta. Isso, por sua vez, pode levar a uma maior sensibilização do público para esses perigos, o que muitas vezes dá a grupos sociais envolvidos na luta por direitos um impulso para exigir ações políticas e reformas de segurança.

Os jornalistas têm a responsabilidade de explicar tanto os benefícios quanto os custos do progresso científico e tecnológico. Como eles se movem de uma cobertura de última hora sobre desastres, a histórias inteligentes sobre o “segundo dia”, para investigações mais reveladores, uma semana ou um mês depois, constitui-se num dos maiores desafios a sua capacidade.

De que maneiras que o programa Knight Science Journalism pode envolver ainda mais o público em importantes discussões sobre as políticas de ciência e tecnologia?

Blum: Como jornalista científica, estou interessada na audiência que já se afastou, ou até mesmo rejeitou, uma compreensão da ciência. Para muitas pessoas – e esse grupo em particular – a escrita científica pode se tornar parte de uma formação superior informal. Então, eu gostaria de ver KSJ tornar-se mais um recurso, tanto para jornalistas de ciência e tecnologia quanto para o público, e um recurso de alto nível.

Roush: O que podemos fazer agora é começar a liderar a discussão em torno da ideia de munir o público de algo a dizer sobre problemas como aquecimento global, energia, cuidados com a saúde e segurança alimentar. É hora de admitir que os meios de comunicação não têm feito um trabalho adequado para atravessar a névoa de desinformação e a retórica política sobre questões como alterações climáticas, vacinação, ensino da evolução nas escolas, ou o próprio lugar do método científico. Em um recente artigo para The Atlantic, o escritor de ciência, Charles Mann, colocou a questão de uma forma bem perspicaz: “Confuso e maltratado pelo vai-e-vem, os cidadãos ficam, em sua maioria, de mãos atadas.” Isso não é algo aceitável.

Nosso plano para o programa Knight é criar um novo espaço – por meio de pesquisas, publicações, eventos e experiências com as novas mídia – para investigação crítica sobre as questões da participação e da divulgação em ciência e tecnologia. Como isso funciona? Quais são as melhores práticas? Na era de Jon Stewart e Stephen Colbert, o que constitui a credibilidade?

Blum: Estamos falando de ideias como essa, bem como de projetos mais interativos, como eventos públicos inovadores, constituição de relacionamentos mais fortes com outras organizações interessadas na literacia científica e a busca por formas de apoiar projetos inovadores de comunicação e divulgação científica em todo o país e internacionalmente. Nós ainda estamos pensando em como iremos por essas ideias em prática, mas estamos animados com as possibilidades.

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Reprinted with permission of MIT News

Nota: Tradução Blog Minas Faz Ciência. Título Original: “New leaders of Knight Science Journalism program discuss role of science coverage in modern society”. Entrevista publicada no MIT News, por Kathryn M. O’Neill | School of Humanities, Arts, and Social Sciences, em 23 de setembro de 2014.

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