Na próxima semana, entre 2 e 5 de novembro, a Escola de Arquitetura da UFMG sedia o IX Colóquio Luso-Brasileiro de Escola da Arte, que este ano homenageia os 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. O evento pretende valorizar a obra do arquiteto, escultor e entalhador mineiro no cenário do Tardo-Barroco internacional, revisitando criticamente as diversas linguagens da obra do artista.
Entre os organizadores está o professor André Guilherme Dornelles D’Angelo, coordenador geral do evento e autor de três livros, entre eles, O Aleijadinho Arquiteto e outros Ensaios sobre o Tema. Para D’Angelo, Aleijadinho inaugura uma nova forma de pensar a arquitetura no contexto do Brasil Colônia, bastante diferente da matriz portuguesa, muito ligada aos valores conservadores do segmento da forma na arquitetura, ligado à cultura dos mestre de obras e dos engenheiros militares.
“Sua contribuição na arquitetura inicia na segunda metade do século XVIII, em Minas, o que se poderia chamar hoje de uma linha de ‘valorização da qualidade intelectual do projeto’, tão bem explicitada na igreja de São Francisco de Ouro Preto, que busca valorizar tanto a composição tridimensional do objeto como a composição arquitetônica do edifício que na época era entendida como o conceito de “engenho” ou criatividade reconhecida do artista”, destaca o professor.
Aleijadinho e sua obra trouxeram, portanto, inovações arquitetônicas que, segundo D’Angelo, estão em sintonia com um espírito e um ambiente artístico novos, gerados no ambiente cultural híbrido das Minas setecentistas, forjado no diálogo com múltiplas fontes e matrizes culturais e artísticas, que iam muito além das fronteiras de Portugal. Esse fenômeno também vai explicar uma série de atores e fatores políticos e sociais surgidos no seio de Minas Gerais à época.
“Aleijadinho foi o agente que, depois de mais de duzentos anos de tradição portuguesa ditando as linhas gerais da Arquitetura religiosa no Brasil Colônia, procurou e inaugurou uma caminho novo, que daria frutos na produção de uma escola importante, da qual também fariam parte, alguns dos principais mestres portugueses em atividade na segunda metade do século XVIII”, conclui o professor.
Por que celebrar o bicentenário da morte de Aleijadinho?
Segundo o professor André D’Angelo, na tradição dos estudos historiográficos, as datas redondas de 50 em 50 anos sempre trouxeram um peso ao fato ou à efeméride histórica: “Entendo que essa comemoração dos 200 anos é uma maneira de reforçar a fato e o personagem histórico e chamar a atenção para a sua importância dentro do contexto no qual sua contribuição foi reconhecida pelo tempo, como de alta relevância e significação cultural”.
Para D’Angelo, no caso do Aleijadinho, não faltam motivos para a comemoração do dia 18 de novembro, já que ele é, certamente, um dos fundadores de um “sentimento mais autônomo de nacionalidade” num tempo de Brasil Colônia, como gostava de colocar o professor Sylvio de Vasconcellos. Entretanto, o professor alerta para a necessidade de entender a obra de Aleijadinho de modo menos ufanista, com uma perspectiva historiográfica mais aberta, a fim de compreender os méritos da geração modernista que iniciou os estudos sobre a história de Minas.
Ao longo das próximas semanas, o tema do bicentenário da morte de Aleijadinho retorna ao Blog Minas Faz Ciência. Acompanhe e deixe sua opinião nos comentários!