Atualmente, as relações sociais têm sido modificadas pela intensa presença de dispositivos midiáticos que, dentre outras coisas, instauram diversas formas de “estar presente”, ou “estar com”. Hoje, tornamos nossas presenças flexíveis, movendo-nos por diferentes espaços. Alguns autores têm nomeado esse fenômeno de mobilidade por fluxos informacionais ou, simplesmente, mobilidade.
Sendo assim, ao olharmos para a mobilidade contemporânea e as diversas maneiras através das quais ela se desdobra, percebemos a existência de forças opostas: ao mesmo tempo em que as tecnologias permitem o movimento, elas exercem também uma ação de regulação e controle. Estamos livres para nos mover, porém, nosso movimento via tecnologias é registrado, mapeado, monitorado.
Para Lev Manovich (2006), esse seria um dos pontos principais da noção de espaço aumentado (augmented space): a relação tênue entre vigilância/controle e assistência/adição de informações. Na perspectiva do autor, quando o espaço físico torna-se um espaço informacional, os sujeitos passam a vivenciar uma dupla situação: tem-se a possibilidade de usar dispositivos (móveis ou não) que extraem informações do espaço – contribuindo para ações de vigilância, rastreamento e monitoramento – assim como de ampliar o espaço a partir da inserção de camadas de informação que podem ser acionadas, a partir de dispositivos diversos. Nesse último caso temos, por exemplo, o uso dos QR Codes, códigos bidimensionais que, ao serem lidos, atualizam determinado conjunto de informações aos usuários.
Ainda sobre o aspecto da vigilância, o pesquisador John Urry (2007) trabalha com a ideia de frisk society (sociedade revistada). Na medida em que há um maior número de pessoas em movimento, esses traços permitem que as mesmas se tornem objetos de sistemas de regulação invasiva. Sendo assim, “os lugares, cada vez mais, tornam-se como os aeroportos, utilizando sistemas de monitoramento, vigilância e regulação para controlar esses corpos em movimento” (URRY, 2007, p.15).
E, desse contexto, surgem várias discussões que buscam refletir sobre as questões advindas do uso intenso das tecnologias. Ao mesmo tempo que portar um dispositivo móvel nos traz a sensação de segurança, pelo fato de que podemos acionar nossa rede de contatos a qualquer emergência ou imprevisto, esse mesmo dispositivo, cada vez mais portátil e pessoal, coleta e retransmite informações preciosas sobre nossos passos, interações, movimentos. E aí, sobram perguntas: Quem vigia os vigilantes? O que será feito desses dados? Que tipo de regulação/restrição é possível? O fato de nos tornamos conscientes desses processos, já é um importante passo. Sabemos que estamos sendo filmados, agora sorrir ou não, fica à escolha de cada um.