Mariposas de pelúcia

Descoberto recentemente, animal de aspecto incomum causa surpresa na comunidade científica e conquista admiradores por todo o mundo

 

A “mariposa-poodle” foi fotografada por Arthur Anker em janeiro de 2009, numa pequena floresta a cerca de 650 km de Caracas, capital da Venezuela (Foto: Arquivo Pessoal/Arthur Anker)

Se lhe disserem que há um inseto em seu quarto, talvez você não tenha uma reação legal. É mais provável que você pense em seres asquerosos e nocivos do que em bichinhos de estimação. Pouco – ou nada – famosos por despertar afetividade nos humanos, insetos carregam uma má reputação. Salvas algumas exceções, como borboletas, joaninhas e alguns besouros coloridos, a maioria deles não são grandes referências de beleza. Há quem admire as atarefadas abelhinhas, mas estas logo desfazem o encanto com seus péssimos hábitos de xeretar nossas refeições e de saírem distribuindo ferroadas por aí. Há ainda quem enxergue algum charme nos contornos enigmáticos estampados nas asas das mariposas, mas estes seres voadores de aspecto sombrio não estão, em sua maioria, figurando entre os mais populares. Pelo menos até agora.

Esqueça o apelido de bruxas, ao qual são atribuídas. Uma nova representante encontrada em regiões remotas das florestas venezuelanas parece estar mudando todo o conceito em torno das borboletas noturnas. O bichinho de dois centímetros de comprimento, branquinho e peludo, mais se assemelha a uma versão poodle dos heteróceros (divisão científica que compreende as mariposas) e tem intrigado cientistas de todo o mundo, por possuir uma característica até então desconhecida entre estes animais: patas cobertas de pelo, como que enfeitadas por diversos pompons, e é esta característica da pelagem que impressiona. Apesar da aparência fantasmagórica, a mariposa já caiu no gosto de muita gente e vem invadindo as listas de bichinhos adoráveis espalhadas pela Internet, um feito bastante incomum para um inseto. Não seria de se espantar caso uma reprodução em pelúcia do animal fosse vista em vitrines de lojas.

O inseto posou para as lentes de uma câmera pela primeira e única vez em 2009, ao ser flagrado pelo biólogo marinho, taxonomista e zoólogo Arthur Anker, que na ocasião, era pesquisador da Universidade Federal do Ceará. O animal foi avistado enquanto desfilava solitariamente no interior das densas florestas da região de Gran Sabana do Parque Nacional Canaima, na Venezuela, à aproximadamente 650 km de Caracas. Uma região inóspita e de difícil acesso. O pesquisador relatou em entrevista ao G1 que o animal não tinha companheiros no momento da fotografia, e que o espécime não foi coletado, apenas registrado em imagem. “Sei que mariposas deste tipo foram pouco identificadas na América Central e do Sul”, afirmou.

Até o momento, o pet invertebrado não recebeu nenhum nome. Especialistas declaram que, apesar de suas peculiaridades físicas, ele se assemelha muito a outras espécies como a Artace cribraria e a Diaphora mandica, e provavelmente possua algum parentesco com elas.

Zoólogos ao redor do mundo especulam que o exemplar deve pertencer à família Arctiidae dos lepidópteros, uma ordem de insetos com espécies muito diversificadas, que reúne as borboletas e traças. A variedade de mariposas dessa família é muito grande – cerca de 11.000 espécies em todo o mundo –  e isso torna complexo o processo de taxonomia do inseto em questão, sem que se tenha uma amostra para realização de análise genética.

Diante da hipótese de a imagem do animal ser um embuste, o professor de zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Olaf Hermann Mielke, foi categórico: “Esse bicho existe. Provavelmente não tem no Brasil, não deve ser uma espécie abundante, mas é real”.

Enquanto Biólogos procuram novas evidências e informações sobre a traça-poodle – como o inseto ficou conhecido – aguardamos aqui, na expectativa de um dia apreciar esses animaizinhos farfalhando com suas asas no interior de uma aconchegante estufa de zoológico ou em belos documentários de TV.

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8 comentários em “Mariposas de pelúcia

  • 20 de fevereiro de 2013 em 13:29
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    Fiz uma Fotografia de uma também http://www.facebook.com/photo.php?fbid=294180207375617&set=a.271942782932693.62493.100003509195914&type=1&theater¬if_t=like

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  • 20 de setembro de 2012 em 14:11
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    Boa reportagem. Seria legar psotar uma foto da tal mariposa de pelúcia

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  • 14 de setembro de 2012 em 12:20
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    Parabéns pela matéria William ! Muito interessante e rica em detalhes.
    TaMp

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  • 11 de setembro de 2012 em 16:09
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    Sensacional.. William Ferraz está se revelando um talento das mídias eletrônicas. Sugiro criar uma categoria. “Sem categoria” não é a referência que eu gostaria para texto de tão nobre envergadura. Gostei, compartilhei…

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    • 11 de setembro de 2012 em 18:31
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      Saudades de você, Marcus Vinícius, e de todos do projeto Minas faz Ciência! Também adorei o texto! Parabéns, William!

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      • 12 de setembro de 2012 em 21:12
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        Prezada Ariadne Lima, Mal sei como agradecer. Sinto-me enaltecido, recebendo parabenizações vindas de uma competente profissional como sei que és. Muito obrigado por esse suporte e continuarei me empenhando.

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    • 12 de setembro de 2012 em 21:14
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      Estimado Marcão!!! Primeiramente, agradeço muito e fico lisonjeado em receber tamanho elogio vindo de um experiente jornalista como você… E concordo, preciso sim enquadrá-la em alguma categoria, mas ainda estou engatinhando neste Blog, hehehe… ainda tenho muito que aprender sobre os melhor os recursos aqui. Mais uma vez, muito obrigado pelo apoio.

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